Professores são barrados no Ministério da Educação

Comissão do Observatório do Conhecimento tinha o objetivo de entregar a Abraham Weintraub o troféu “Cortando o Futuro 2019”, mas foi impedida de entrar no prédio

No fim da manhã desta terça-feira (02), professores representando o Observatório do Conhecimento se reuniram em frente ao Ministério da Educação para entregar o troféu “Cortando o Futuro 2019” ao ministro Abraham Weintraub. A entrega da escultura em forma de tesoura, que estava prevista para as 11h30, no entanto, não foi concluída porque o grupo não teve permissão para entrar no prédio.

Ao chegarem ao local, os professores solicitaram acesso, que foi negado enquanto a porta era fechada com um cadeado. A situação gerou revolta entre os presentes, que classificaram a atitude como extremamente inadequada. “O MEC fechou suas portas com cadeado, é muito simbólico. Não é possível que o MEC se sinta ameaçado por seus próprios professores. Estamos aqui para entregar uma carta e esse troféu como pressão simbólica pela revogação dos cortes orçamentário dos institutos e universidades federais de ensino”, disse a professora Ligia Bahia, vice-presidente da ADUFRJ (UFRJ) e porta-voz do Observatório do Conhecimento. “Somos professores comprometidos com a educação de qualidade, viemos dialogar mas fomos barrados em nosso próprio ministério.”

Após protestos, o segurança do prédio retornou com uma mensagem de um assessor do ministro, informando que Weintraub não estava no ministério. Os professores contestaram a afirmação, informando que na agenda pública estava marcada uma audiência entre o ministro e a reitora da UFRJ, naquele mesmo local, e solicitaram que pelo menos um assessor viesse receber o material.

A comissão do Observatório aguardou por cerca de meia hora que a situação fosse revertida, sem sucesso. O grupo também tentou protocolar uma carta com cinco demandas urgentes para a educação, porém o setor responsável também não recebeu os professores.

Segundo o Observatório do Conhecimento, rede independente que reúne 14 associações de docentes de universidades públicas de diversos estados do país, o troféu “Cortando o Futuro 2019” simboliza a “trágica ironia” do Brasil ter um Ministro da Educação que trabalha contra sua própria pasta, apoiando a redução dos investimentos e desprezando as conquistas sociais da educação pública nas últimas décadas. Para os docentes, o Ministro Weintraub vem desrespeitando professores e estudantes desde que assumiu o cargo.

Na carta endereçada ao MEC, o Observatório afirma que os seis primeiros meses do governo Bolsonaro mostram que o ministério da educação se empenhou em promover cortes de 30% no orçamento de custeio das universidades, institutos federais e bolsas de pesquisa, além de propagar ameaças à autonomia universitária e difundir mentiras sobre a qualidade da ciência nacional. “O ministro não dialoga com professores, não atende às necessidades do setor e ainda usa chocolates e guarda-chuva em performances vazias”, conclui a professora Ligia Bahia.  

Desde o início de abril, o Observatório do Conhecimento vem monitorando e expondo as decisões equivocadas do MEC. A entidade produziu o documento “Cortes, Mentiras e Ameaças: 6 meses de guerra do governo Bolsonaro contra a educação pública brasileira” que revela o profundo retrocesso promovido pelo governo Bolsonaro na área de acesso, produção e difusão do conhecimento no país.

Além das políticas desastrosas para a educação, o Observatório do Conhecimento ressalta que outras medidas como a Reforma da Previdência e a Emenda Constituicional do Teto de Gastos agravam a situação dos docentes, trabalhadores, pesquisadores e estudantes que formam a comunidade universitária.

“As portas fechadas do MEC são um desrespeito aos professores e ao nosso direito constitucional à livre manifestação. Porém, não vamos desistir e entregaremos o troféu Cortando o Futuro em uma oportunidade próxima, pública, na qual o ministro não poderá nos ignorar. Reforçando o recado que tem sido dado por enormes manifestações nas ruas, como as que aconteceram nos dias 15 e 30 de maio em centenas de cidades brasileiras e nas pesquisas de opinião pública, vamos manter a pressão até que os cortes sejam revogados e as garantias de autonomia universitária sejam respeitadas”, declarou o professor Wagner Romão, presidente da ADUNICAMP (UNICAMP) e porta-voz do Observatório.

O troféu Cortando o Futuro 2019 foi produzido pelo artista paulistano Thiago Mundano com madeira de reuso. 

Veja os vídeos da mobilização aqui

 

Carol Gómez, com informações do Observatório do Conhecimento  

Fotos: Adré Calvino