Durante muito tempo a universidade pública foi o espaço onde as elites formavam gratuitamente os seus rebentos. Com uma educação básica pública pauperizada e um conjunto de escolas privadas pagas em ascensão foi possível socializar o custo de formação, principalmente em medicina e engenharia, que são as carreiras mais caras, e assim a elite sempre “apoiou” as reivindicações do sistema universitário publico brasileiro.
Cabe destacar que a tentativa de privatização do ensino superior em geral foi para atender os mercadores de educação que, por muito tempo, se contentaram com oferecer cursos de baixa qualidade para formação de profissões com menor retorno financeiro mas sempre tiveram o olho grande para as carreiras mais caras.
Aos que não tiveram a possibilidade de ter uma formação básica adequada e, portanto, eram “filtrados” nos vestibulares das universidades publicas, só restava tirar parte do salário para pagar uma faculdade particular e assim tentar uma melhor posição na disputa por emprego.
O sistemad+ escola privada, vestibular, universidade publica, funcionou muito bem até uma década atrás. Aí que entra a popularização do ensino superior, com a política de cotas e o aumento de universidades públicas.
Hoje em dia a universidade pública está um pouco mais acessível a cidadãos de baixa renda, ou estava. A nova onda privatista, mais uma vez para atender aos mercadores de educação que têm íntima relação com o “maestro” da economia, está estrangulando as universidades públicas e de carona leva os institutos federais de educação.
Não tem nada novo na tática empregada. Diminuir os recursos para funcionamento das universidades públicas já foi método utilizado na época de FHC pelo ministro Paulo Renato. Agora somos apresentados a um repeteco mais tosco, condizente com o desgoverno, que gerou uma reação na medida. Os salários dos professores não foram reduzidos ainda, mas serão corroídos com o passar dos anos e voltaremos à situação da era FHC em que ser professor universitário não compensava. Só para lembrar, a interrupção nas contratações de professores também é uma tática que pode-se repetir.
O que é diferente agora? O perfil do estudante universitário de universidade pública. Não são somente os filhos da elite que estão se formando. E isto é algo que não deve ser do agrado de alguns. Cá está o calcanhar de Aquiles da universidade pública atual, ao meu ver. Ela não mais será defendida pela elite com capacidade de lobby em Brasília. Há uma grande chance de que a privatização do ensino superior retorne o controle de quem terá formação superior para os que sempre ditaram as regras neste país. Não nos surpreendamos se recursos públicos forem destinados a universidades privadas de “ponta”.
A defesa da universidade pública está nas mão de professores e alunos das mesmas, que claramente não têm nenhuma organização sólida e articulada para fazê-lo. Portanto urge que os remanescentes dos sindicatos e associações de estudantes se articulem para mobilizar as suas bases. Como não vejo que isto esteja acontecendo na dimensão que deveria para se opôr ao trator do desgoverno creio que teremos que dar adeus à universidade pública como a conhecemos.
Professor do DAS/CTC