As ciências sociais aplicadas, as humanidades e a linguística são áreas que tiveram publicações acima da média geral, que abrange todas as áreas do conhecimento
Embora o governo afirme que as ciências humanas são pouco relevantes, justificando que elas “não dão retorno imediato ao contribuinte”, especialistas argumentam ser um erro comparar a produtividade acadêmica das diferentes áreas sob uma mesma ótica. Segundo levantamento da Folha de São Paulo, a pesquisa em humanas no Brasil cresceu mais do que a média nacional na última década, o que contribuiu para o país estar entre os 15 maiores produtores de ciência do mundo.
A observação sistemática de fenômenos, seguida de experiências com base em metodologia rigorosa e análises que levam a determinados resultados recebe o nome de ciência. Em diferentes áreas do conhecimento, no entanto, a ciência tem especificidades: fazer pesquisa em biologia é muito diferente de produzir conhecimento em ciências sociais.
Desde que assumiu o MEC, porém, o economista Abraham Weintraub tem comparado a quantidade de investimento público, a produção científica e a relevância dessa produção entre áreas do conhecimento diferentes. Para ele, haveria uma suposta improdutividade e inutilidade das ciências humanas brasileiras e áreas correlatas, se comparadas às ciências exatas. Houve inclusive a proposta de redirecionar verbas dos cursos de sociologia e filosofia para áreas como veterinária e engenharia. A iniciativa foi considerada ilegal e inconstitucional, já que fere a autonomia universitária garantida pela Constituição de 1988 e regulamentada pela LDB de 1996.
Segundo a base Web of Science, cientistas brasileiros aumentaram a produção de ciência publicada em periódicos científicos, em todas as áreas do conhecimento, em média, 67,3% no período de 2008 a 2017, o que colocou o Brasil entre os 15 maiores produtores de ciência do mundo. As ciências sociais aplicadas, as humanidades e a linguística cresceram mais aceleradamente: respectivamente, 77%, 123,5% e 106% no mesmo período. Já o número de artigos acadêmicos em ciências agrárias no país, por exemplo, cresceu 51,6% no mesmo período , abaixo da média nacional.
Em comparações internacionais em cada uma das áreas do conhecimento, o Brasil está entre os 13 países que mais publicam em ciências sociais aplicadas, 21º em ciências humanas e o 30º em linguística. Isso considerando apenas artigos científicos.
O salto recente do país na produção acadêmica de artigos científicos em humanas fica mais impressionante se for considerado como se dá a ciência nesse campo. As humanidades publicam mais resultados de seus estudos em capítulos de livros e em livros inteiros do que em periódicos científicos.
Na prática, comparar áreas diferentes da ciência como se todas produzissem da mesma forma e no mesmo ritmo mostra desconhecimento de como se comportam a ciência e suas áreas de pesquisa. Ou seja: para avaliar a produção de áreas como a sociologia seria preciso colocar a publicação de livros na conta —coisa que o governo não tem feito.
O foco das humanidades nos livros se repete globalmente. Também em países desenvolvidos, o número de artigos científicos em uma área como a sociologia será sempre menor do que, por exemplo, os estudos da biologia. Há uma menor quantidade periódicos científicos nas humanidades na base Web of Science em comparação a outras áreas . O fluxo da produção do conhecimento é diferente.
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M.B./L.L.