Deve ficar claro: vamos enfrentar uma ideologia totalitária com disfarce de democracia

Existem dois fatos significativos da orientação de nosso futuro governo:

1) As últimas medidas do ministro de Educação Abraham Weintraub no sentido de “descentralizar investimento em faculdades de filosofia e sociologia” porque “A função do governo é respeitar o dinheiro  do contribuinte, ensinando para os jovens a leitura, escrita e a fazer conta e depois um ofício que gere renda para a pessoa e bem-estar para a família, que melhore a sociedade em sua volta”, e a redução de 30% de orçamento universitário para o segundo semestre, estão mostrando uma clara definição ideológica do governo, ao menos, em matéria de educação. 

2) As declarações de nosso presidente a respeito da crise da Venezuela e sobre a situação da Argentina. Sobre Venezuela falou: “Os diplomatas que nos evitam entrar em guerra. Quando acaba a saliva, entra a pólvora”. E que somente ele iria à guerra. À respeito  da Argentina afirmou, resumindo: que não deseja se envolver em questões de países vizinhos, mas que um retorno de Cristina Kirchner ao governo poderia transformar a Argentina em outra Venezuela”..

Descentralizar significa tirar do centro, mas as humanidades nunca receberam prioridade de nenhum governo. No entanto, a justificativa indica claramente que a intenção do governo é dar aos jovens brasileiros uma educação mínima: aprender a ler, escrever e fazer contas, algo completamente básico para ser empregado, ou seja, ser meros recursos humanos. Se forem empregados numa fábrica de carros devem somente apertar parafusos. Não podem pensar numa organização melhor, mais humana e mais fraterna.

O desapreço do governo pela filosofia e a sociologia demonstra o porquê: a filosofia ensina a pensar e a sociologia a demonstrar como uma sociedade deve se organizar, o que o neoliberalismo como cega ideologia totalitária não pode permitir. A educação meramente técnica que deseja o governo levará uma sociedade à “abolição do ser humano”, segundo C.S. Lewis, fundamentado em todas as tradições ocidentais e orientais. Por isto escreve em 1943: ”Produzimos homens sem peito e esperamos deles virtude e iniciativa. Caçoamos da honra e nos chocamos ao encontrar traidores entre nós. Castramos e ordenamos que os castrados sejam férteis” (Lewis C.S A abolição do homem)

O neoliberalismo é uma ideologia totalitária com o disfarce de democracia, uma democracia que não é real, mas fictícia, porque não existe participação real do povo nas decisões de governo. Um povo desinformado pela mídia, geralmente escolhe “representantes” ligados ao poder econômico.

Bolsonaro tem uma ideologia política como algo que desperta a febre da paixão, e o senso de pertencimento afetivo em relação a poucas ideais das quais seus integrantes leem o mundo. São poucas ideias força, aquelas que ligam imaginação e vontade. Em outras palavras a ideologia na sua feição radical,  É o elo de comunidades que acreditam de forma inabalável em sua visão de mundo, de tal maneira que hostilizam violentamente o contraditório, tratado como ameaça a essa visão. E aquele que se interpuser no caminho dessa realização é considerado um inimigo.

Desta forma desenvolveram um ódio a todo o que seja igual ou similar a marxismo ou petismo. Em definitiva, a qualquer que procure um mundo melhor e mais fraterno. No entanto, previamente estas ideias força foram estimuladas por aqueles do núcleo duro que acompanham o presidente, um setor de evangélicos que ganham mais de 5 salários mínimos como indica o Prof. da Unicamp Marcos Nobre (Piauí, abril 2019).

Confirmam este conceito as afirmações do presidente sobre Venezuela, isto é, se não conseguir pela via diplomática deve impor suas ideias pela força, e no caso da Argentina, por uma parte representa um desconhecimento total da realidade e por outra novamente o desejo de impor o neoliberalismo econômico que não deu certo em nenhum país. Cristina Kirchner somente não acreditou no neoliberalismo, seguiu uma linha de economia com políticas contra cíclicas formuladas pelo economista Britânico John M. Keynes, de defesa da economia nacional, com protecionismo, sem se submeter  vilmente ao Imperialismo americano.

Realizou o que está fazendo EUA neste momentod+ terminou como dogma do livre mercado para realizar protecionismo contra China e outros países, e terminou com a austeridaded+ aumentou as despesas acordadas pelo Congresso em 2017 e assim reduziu a taxa de desemprego a um mínimo desde 1969. Tudo o contrario, dos dogmas do Ministro de Economia, que corta até o orçamento das universidades que são os centros da maior parte da pesquisa no Brasil atual.

Devemos salientar o fato de o governo escrever que a função do governo “é respeitar o dinheiro do contribuinte”, não respeitar fundamentalmente a pessoa humana que é o certo. Aparece claramente o ídolo, a idolatria, do governo e de algumas seitas evangélicas que exploram aos pobres em nome de Deus, quando o que se faz por amor é gratuito, Jesus não cobrou pelos seus ensinos, viveu sempre pobre e perseguido pelas suas lutas pela justiça e a verdade. Podemos acreditar em pastores que além de ser milionários, moram em mansões e não estão preocupados que muitas de suas coitadas ovelhas moram em favelas?

Por agora o núcleo duro, totalitário é uma minoria, mas a possibilidade de se expandir é grande, dado o caos econômico e social que observamos, por isso a resistência deve ser clara e eficiente, acordando as consciências para  a verdade e liberando a verdade da injustiça social, educativa,  econômica e espiritual.

Rosendo A. Yunes

Aposentado