Certa vez, um “professor bem conhecido” afirmou em uma AG que o problema da APUFSC era político (mais precisamente, da falta de engajamento político) e que a culpa, segundo ele, deveria ser creditada aos professores mais novos que estando mais preocupados com seus “Lattezinhos” deixavam de lado as questões do sindicato. Meio a contragosto, este “professor bem conhecido” também assumiu sua parcela de culpa por estar meio “sumido” do sindicato alegando estar engajado em fazer a “revolução brasileira”.
Refletindo sobre isso, eu vejo que a pouca participação dos associados numa AG de extrema importância para o futuro do sindicato mostra que talvez o “professor bem conhecido” tenha razão, e eu iria mais longe, pois o que causa tal situação não se restringe apenas aos filiados da APUFSC, independente de quanto tempo estão na UFSC, mas também aos inúmeros professores que não são sindicalizados e se mostram completamente indiferentes ao que acontece com a categoria. Parafraseando uma máxima, vale lembrar que
“você pode se omitir por não gostar de política, mas há pessoas que gostam e, para seu desgosto, irão decidir por você por conta da sua omissão.”
Pois bem, chegamos neste ponto. A vinculação da APUFSC a ANDES parece ser apenas uma questão de algumas AG”s e significa, concretamente, um retorno a antigos vícios que o sindicato levou um bom tempo para erradicar. Durante o tempo em que a APUFSC se tornou independente, os simpatizantes da ANDES sistematicamente obstruíram a APUFSC, muitas vezes questionando na justiça o processo de desvinculação, outras vezes criando coisas obtusas e ofensivas à coletividade como um “Movimento Docente Independente” que sequer agregou 130 associados, mas que se viam como legítimos representantes dos docentes da UFSC a ponto de declararem uma greve (aprovada sabe-se lá com quantos associados) que sabiam que jamais passaria seguindo as regras do estatuto vigente da APUFSC. Estas são práticas viciadas que os que se omitem parecem não se importar.
Então, que assim seja! Que os simpatizantes da ANDES voltem a APUFSC, participem da votação da filiação nacional à ANDES (ainda dá tempo de fazer isso), retomem controle do sindicato, mudem todo o estatuto e reinstalem o assembleísmo de outrora, onde AG”s eram manipuladas por um pequeno grupo de sindicalizados. Coroando isso, que o sindicato volte a se alinhar a todo o ranço ideológico que a ANDES representa, principalmente o de usar a universidade como instrumento de construção da sociedade socialista, o que agradaria bastante o “professor bem conhecido”, e que dito de outra forma representa uma mudança na percepção do docente, onde o academicismo é substituído pela militância e ativismo político. Ou seja, pensemos iguais ao “professor bem conhecido” que não se sabe por que razão chama de “Lattezinhos” algo que dá visibilidade à produção acadêmica, mas que superdimensiona a necessidade de se fazer a revolução (socialista) brasileira. Se é verdade que cada universidade tem o sindicato que merece então a APUFSC, pela omissão de muitos, também merece ter seu sindicato.
Parabéns aos meus colegas Andesianos pela persistência e tenacidade na sua luta. Embora eu considere que a APUFSC vá se tornar algo muito ruim e deplorável com vocês no comando é um fato que vocês merecem tomar a APUFSC para si novamente, pois desta vez estão fazendo isso da maneira correta, observando o estatuto da APUFSC, participando da AG e votando no que acreditam.
Aos que se omitem e que com sua omissão estão permitindo que a APUFSC torne-se um satélite escravo da ANDES, é ilusório pensar que ignorando questões do sindicato isso não tenha repercussão no seu trabalho. Tem, pois a atuação do sindicato e dos valores que ele prega acaba determinando os valores e rumos da universidade como um todo, principalmente diante do público que a financia. Assim, um sindicato como a ANDES que pensa o docente como um militante engajado em causas políticas e ideológicas influencia a universidade a ser da mesma forma.
Pouco adianta então um docente achar que seu trabalho individual é capaz de mudar a universidade. Afinal, a fama de Princeton, MIT, Oxford entre outras não se deve ao trabalho de um ou outro, mas de vários de seus membros espalhados por todos os cantos dessas universidades publicando coisas de altíssimo nível. Bom, é provável que os que se omitem pouco se importem com a universidade como um todo, desde que possam fazer seus estudos de “altíssimo nível” sem problemas e interrupção. Perfeito, mas a você que se omite pensando que nada influencia seu trabalho, já que você dispõe de todo o tempo do mundo para se dedicar aos seus estudos, tal qual seus colegas Princetonianos MITianos, e Oxfordianos se dedicam, não seria o caso de exibir uma produção acadêmica igual aos seus pares em Princeton, MIT, Oxford que não têm que se preocupar em ter um sindicato como a ANDES lhes representando?
Professor do Departamento de Matemática