Alea iacta est ‒ a sorte foi lançada. A APUFSC está levantando o debate acerca da filiação a uma entidade de representação nacional. As opções sobre a mesa são voltar ao ANDES (Sindicato nacional), ingressar no PROIFES (Federação) ou permanecer sem representação sindical nacional. É um debate que vem em boa hora.
Tenho muitas críticas à atual liderança do ANDES, e em especial à forma como conduziu as lutas da categoria durante os anos dos governos do PT. Em razão destas diferenças, tomei posições críticas ao sindicato nacional, ao qual integrei desde os meus primeiros dias de UFSC, participando inclusive do comando de greve quando de importantes batalhas em defesa dos nossos direitos. Eram os tempos do governo FHC.
As críticas às quais me refiro são já do tempo do segundo governo Lula, portanto quando haviam sido superadas muitas das limitações do neoliberalismo à moda Palocci. Não obstante, diante de toda mudança, ainda que de início discretas e muito lentas, as críticas e as formas de luta conduzidas pelo ANDES nacional continuavam sem qualquer alteração.
Diria que dominava na direção nacional uma espécie de “impaciência esquerdista” ‒ ademais absorta frente a um contexto internacional muito difícil para as lutas do campo socialista ‒ que sem demora se transmutou em aberta desilusão e mesmo exaltado desgosto diante dos governos do PT. Seguramente já um produto, como sempre ocorre, de exageradas expectativas criadas anos antes.
No que diz respeito à representação local, conduzida, é preciso dizer, por colegas de elevado valor, os quais respeito por suas qualidades científicas e também políticas, as coisas não mudavam muito. Não se estabelecia, no meu modo de ver, uma relação crítica e mais distanciada com a direção nacional do ANDES. Ou seja, parecia faltar uma rigorosa relação ativa entre base e direção.
Por este motivo, ao nível local, isto é, na seção andesiana da APUFSC, formei fileira, naqueles anos, ao lado da oposição. Mas, quando esta mesma oposição seguiu o caminho da desfiliação ao ANDES nacional, me opus claramente e me afastei. E isto por um motivo muito simples: é inconcebível que, tendo um patrão nacional, a luta dos professores não se organize em um sindicato nacional.
Poder-se-ia dizer que, mantendo as críticas à direção nacional do ANDES, eu agora me filiasse à tese de que a opção pelo PROIFES seria a melhor solução. Não penso assim. E isto não só porque a conjuntura mudou radicalmente, mas porque até mesmo as bases do ANDES ‒ quiçá experimentadas pela dura aprendizagem do que é ter um governo de esquerda em contexto adverso ‒ já estão um tanto mudadas, como a última eleição deste sindicato parece ter demonstrado.
Vale dizer, as exageradas expectativas alimentadas pelos “ingênuos entusiasmos” de um socialismo de jardim de infância ‒ frequentemente intimista ou então entregue a um desproporcional problematicismo ‒, sempre o prenúncio de pesadas desilusões, parecem agora mais contidas, enquanto a necessária radicalidade para estar à frente das lutas dos professores em defesa dos seus direitos (salários, aposentadoria, etc.) em um contexto muito difícil, claramente se mantém.
Uma radicalidade que pode certamente estar ao lado das lutas socialistas, desde que entendidas de maneira rigorosamente aggiornata em relação às experiências mundiais, válidas no seu tempo e em seus contextos próprios. Isto é, que seja apropriada às particularidades nacionais, já em condições de impor uma necessária articulação entre democracia e socialismo.
Democracia que, modernamente, já um resultado da capacidade de organização das classes trabalhadoras nas suas mais diferentes especificidades (operários, intelectuais, etc.), é sinônimo de direitos sociais e igualdade ‒ e não apenas da liberdade de escolha, seguramente decisiva, a cada período, dos representantes políticos da nação. E eis porque não tenho dúvida: na consulta agora promovida pela APUFSC votarei pelo retorno ao ANDES.
Professor do Departamento de Geociências