MÊS DA MULHER: De março a fevereiro: Lute como uma Garota!

Para muitas pessoas o mês de março é “o mês de lutas das mulheres”, eu discordo desta proposição, nós mulheres lutamos durante todos os meses dos anos. Contudo, é inegável que a atual comoção social causada sobre este mês oferece maior visibilidade às pautas feministas, e é nosso dever aproveitar este espaço para estimular algumas reflexões.

Situo minhas percepções a partir de experiências profissionais como publicitária, professora e pesquisadora, pois reconheço a influência social das mídias nas sociedades contemporâneas. É possível afirmar que a representação feminina nos meios de comunicação sempre ofereceu referenciais que estimularam identificações entre meninas e mulheres. Durante muitas décadas as mídias reproduziram (e reproduzem) papéis que estiveram (e ainda estão) em desacordo com as demandas dos feminismos.  Mulheres submissas, meninas frágeis, padrões de beleza inalcançáveis, associações entre meninas e mulheres majoritariamente com tarefas domésticas e maternais, são inúmeros os exemplos que retratam o machismo estrutural através de peças publicitárias (entre outras produções midiáticas). Todavia, as lutas diárias de tantas feministas provocaram mudanças nas estruturas das comunicações de massa.  Inclusive, há alguns anos o dia internacional da mulher se destacava na mídia nacional por suas promoções de panelas e vendas de flores. Atualmente ainda encontramos exemplos desta distorção sobre o significado do dia 08 de março, mas é perceptível que hoje em dia as pautas feministas também ocupam uma posição nesta data de rememoração. 

Considerando que a publicidade é um mecanismo do capitalismo, é assertivo dizer ela está a serviço do mercado. Ainda assim, é necessário pontuar que a publicidade exerce influencia na vida das pessoas, não podemos olvidar o caráter pedagógico deste recurso de comunicação. No ano de 2014 uma marca de absorventes lançou uma campanha publicitária intitulada “Like a Girl”, em tradução livre “Como uma Garota”. A proposta da referida publicidade era estimular que meninas e jovens na pré-adolescência passassem a acreditar e confiar em si mesmas, aceitando que fazer o que elas faziam “como uma garota” era algo positivo. Uma das mensagens mais reproduzidas a partir desta campanha publicitária foi “Lute como uma Garota”.

A campanha da marca de absorventes Always repercutiu em diversos países, foi amplamente divulgada e premiada. Meninas, mulheres e garotas se sentiram representadas pelos conceitos de “like a girl”. Fazer algo “como uma garota” deixou de ser uma ofensa e passou a ser sinônimo de orgulho e determinação para continuar aceitando a condição feminina como algo positivo. Esta ação de marketing com intenções mercadológicas mostrou-se eficiente em difundir pautas feministas e demonstrou resultados concretos sobre a influência da publicidade na esfera social. Através do poder de compra de mídia, muitas meninas, garotas e mulheres foram impactadas e absorveram os sentidos propostos pela campanha.

Cinco anos após o lançamento da campanha da marca Always, é difícil avaliar quem são as pessoas que conhecem a origem publicitária da frase “Lute como uma garota”. Estes detalhes não são relevantes, o que interessa é verificar que existe uma aceitação da ideia de que nós mulheres continuamos na luta, e da maneira como sabemos fazer: lutamos como garotas, como mulheres, como professoras, lutamos como feministas.

O mês de março é um mês como outro qualquer, nossas pautas não tiram férias, nossas pautas não são exclusivas de “um” ou “trinta e um” dias de um mês. Cada uma/um de nós deve continuar tentando desconstruir o machismo estrutural ao qual estamos inserida(o)s. São inúmeras as manifestações culturais e sociais que apresentam possibilidades de repensar o sujeito mulher na sociedade. Se até mesmo a publicidade através de seu vínculo com o capitalismo conseguiu captar os feminismos como uma pauta urgente no mundo hodierno, outras instâncias sociais também podem fazê-lo.

A abertura deste espaço para a discussão sobre o que representa o mês de março nas pautas feministas já é um progresso, mas temos que avançar para entender que as demandas são diárias e urgentes. Não dependemos apenas do mês de março, a luta das mulheres é constante e esperamos um espaço contínuo para oferecer reflexões que ajudem a promover transformações.