Este é o objetivo do Guedes para aposentadorias (Apufsc vai fazer o que?)

Nestor Roqueiro

“O que acontecerá se o Congresso desidratar a reforma?
Derruba toda a pauta positiva. Eu terei muita dificuldade de lançar a capitalização (sistema de previdência em que cada um poupa para sua própria aposentadoria). 

Esse é um trecho da entrevista do ministro da Economia Paulo Guedes ao Estadão, que pode ser lida na íntegra aqui.   
 
Podemos ficar distraídos com os tweets desastrados do presidente, podemos ficar indignados com a proximidade dos milicianos aos mais influentes políticos deste desgoverno, podemos ficar envergonhados perante o mundo pelo ministério empossado, e podemos ficar preocupados com os detalhes da mudança da previdência que nos atingem, mas deveríamos estar mais preocupados com a afirmação de Paulo Guedes na entrevista ao Estadão. O verdadeiro objetivo está não na reforma da previdência, mas na sua completa extinção e a substituição por uma poupança individual compulsória, cujo fim é manter um fluxo continuo de dinheiro saindo dos bolsos dos brasileiros para pagar os acionistas dos agentes do sistema financeiro. Não nos iludamos, o problema maior, hoje, não está nos ganhos das altas aposentadorias, ou em qualquer outra distorção do sistema previdenciário atual, o maior problema é que os bancos precisam de uma fonte segura de ingressos, e para tal nada melhor do que morder uma parte do salário de cada brasileiro.

Como vamos enfrentar esta situação? Sim, digo enfrentar pois está claro que negociação não é uma possibilidade realista. Não há espaço para um debate profundo sobre o sistema previdenciário. Uma mudança na constituição, como a que está sendo proposta, deveria cristalizar a vontade da maioria dos brasileiros depois de terem sido esclarecidos e de terem a possibilidade de se expressar através das diferentes organizações e dos parlamentares eleitos. Mas a pressa para aprovar uma EMENDA À CONSTITUIÇÃO nada tem a ver com transparência e participação cidadã.
Neste contexto histórico e político temos que definir o rumo do nosso sindicato. Não é o melhor momento, mas não temos opção, perdemos a oportunidade quando existia um espaço de negociação com o governo. Agora a negociação não é mais possível. Lamentavelmente precisaremos resistir. E não podemos resistir isolados em Santa Catarina, precisamos fazer parte de um movimento nacional.

Do excelente boletim especial que foi distribuído hoje, com uma carta da diretoria prístina, as manifestações dos dois sindicatos nacionais e uma síntese singela porem clara das duas opções viáveis (sim, porque criar uma federação de sindicatos independentes como sempre defendi agora não é mais viável) fica claro para mim que a melhor opção é nos juntarmos ao ANDES-SN. Para que fique clara minha posição quero lembrar para os novos, ou para os que não se lembram que escrevi um artigo neste mesmo canal intitulado “Um sindicato em Brasília”  e que ainda continuo receoso de algumas praticas deste sindicato.

Por isso, devemos incentivar o MD para participar ativamente e não deixar que as velhas praticas de manipulação de assembleias voltem a tona. Mas neste momento precisamos formar parte de um grupo que tenha condição de resistir à patrola de um governo que não vai negociar (se fosse para negociar neste caso o PROIFES poderia ser uma opção melhor). Portanto, sendo realista, e sabendo que o embate será duro, prefiro, taticamente, que a Apufsc se associe ao ANDES-SN nos tempos atuais. Se no futuro as condições de negociação democrática forem restabelecidas deveremos nos questionar novamente sobre a nossa participação em organizações nacionais, o meu ver.
 
Professor do Departamento de Automação e Sistemas (DAS/CTC)