Os colegas devem ter percebido artigos na mídia, depoimentos, comentários e discussões por pessoas, inclusive bem próximos de nós, no ambiente acadêmico, que tentam convencer os leitores/ouvintes que não existiu tortura na ditadura militar no Brasil. Alguns exemplificam baseado em declarações de pessoas que diziam terem sido torturadas e, anos depois, desmentem o que disseram (se disseram mesmo).
Estas deveriam ser processadas com os rigores da lei. É um tremendo desrespeito às pessoas que foram torturadas. Enquanto poucos lutavam por uma democracia, muitos se acovardavam no anonimato, nada fazendo, temerosos de sofrerem represálias ou, simplesmente, concordavam, mas não tinham coragem de se expor. A negação da tortura é uma verdadeira aberração moral e ética contra torturados e à população como um todo. Deve ser combatida e o período negro da ditadura deve sempre ser lembrado para que possamos estar preparados e, assim, lutar contra as tentativas de minimizar ou, até mesmo, de negá-la.
A disseminação das ideias fascistas, claramente ocorrendo abertamente neste pais afora, deve ser combatida antes que seja tarde. Dos comentários que ouvimos, discutimos, divulgados na mídia, muito em breve teremos defensores destas ideias afirmando que o holocausto não existiu. Assim, mesmo na situação constrangedora de colegas de universidades defenderem ideias nada democráticas, fascistas, embora sejam poucos os defensores, eles se sentem encorajados pela conjuntura política atual no país. Mas as idéias fascistas não triunfarão. Quanto a isso podem ter certeza! E os partidários da democracia plena, com justiça social, possuem uma grande vantagem: os fascistas estão se identificando com suas manifestações, tentativas de intimidações contra àqueles com idéias adversas, disseminação do ódio, entre outras atitudes. Assim se tornam conhecidos e podemos então estar preparados para enfrentá-los, ficando atentos, prevenidos, para não sermos pegos desprevenidos, sorrateiramente, covardemente. Esta é a melhor opção para os que lutam por uma democracia de fato, com justiça social.
Os acontecimentos divulgados pela mídia país afora, depoimentos inescrupulosos e manifestações cheios de ódios e rancor, principalmente nas redes sociais, como também nas universidades brasileiras, apenas refletem o que venho criticando a algum tempo, inclusive na forma de alerta: o recrudescimento do fascismo no pais e, tristemente devo dizer, nas academias. É o que vem acontecendo na Europa, porém lá, as ideias fascistas encontram muitas dificuldades de serem implementadas pelo nível educacional da população, muito superior à brasileira na capacidade reflexiva e discernimento, bem mais politizada que a nossa, além de estarem convivendo em democracias já consolidadas a bastante tempo. No Brasil, e pior, nas universidades, colegas sequer perceberam o significado do discurso explícito do deputado Bolsonaro, as suas ideias do que deve ser um governo, o que diz sobre pessoas com ideias adversas, o rancor, a disseminação da violência, enfim, um total despreparo para o cargo….mas foi eleito. Sim, foi eleito, e em apenas dois meses de governo estamos vivenciando mandos e desmandos seus e de seus aliados, e propostas do governo enviadas à Câmara que, novamente, só prejudicam a população mais necessitada e os servidores públicos como um todo.
As mentiras sobre a previdência dos servidores públicos continuam sendo divulgadas na mídia como se fossem verídicas e nada é divulgado (ou muito pouco) mostrando estas mentiras, que podem ser facilmente comprovadas. Temos um presidente que só foi eleito porque um juiz colocou Lula na cadeia meses antes das eleições. E este mesmo Juiz (Sergio Moro), antes das eleições, foi convidado pelo general Mourão, vice na chapa do deputado Bolsonaro, a fazer parte da equipe de ministros caso o candidato Bolsonaro fosse eleito. E este convite foi confirmado pelo próprio general Mourão e divulgado na mídia. Como sabemos, o Ministro da Justiça é o Juiz S. Moro. E ninguém vê problemas nisso?
E os sindicatos dos trabalhadores? Estão sendo massacrados e mesmo assim continuam atados. E sindicato de trabalhador massacrado significa sindicalizado também massacrado. E continuamos atados em uma inércia que assusta qualquer um. Não existe uma única matéria paga (paga para não justificar que a mídia não divulga) por parte de sindicato divulgando as mentiras da proposta do governo sobre a previdência pública, entre outros absurdos. Opiniões de membros do governo emitidas contra várias estatais, como a Petrobrás, sobre as universidades públicas, e muitas outras instituições governamentais, sem que nada é publicado em defesa delas.
Quando se critica sobre A, a resposta dada por membros do governo se refere à B, que nada tem a ver com A. Uma estratégia de sair pela tangente para não justificar nada. E os sindicatos continuam mudos, esperando as mudanças acontecerem para então tomarem alguma providência, justificando exatamente tais mudanças, mas não tomando nenhuma atitude antes delas acontecerem. Quando ouvimos falar em sindicato, a primeira coisa que imaginamos é um grupo de pessoas que representam empregados de alguma empresa ou instituição, porém nunca pensamos que poderia ser um grupo representando os patrões. Claro, pois nunca ouvimos falar dos sindicatos patronais na mídia! Mas os colegas poderiam refletir sobre isso e se perguntarem sobre a ausência destas informações na mídia.
Se existem aproximadamente oito mil sindicatos patronais (8000) e quase quatorze mil de trabalhadores (14000), e sendo os patronais muito mais poderosos, não deveria ter muitas informações divulgadas na mídia? E por que não há? Reflitam um pouco e perceberão as dificuldades que teremos pela frente nos próximos anos! Dificuldades criadas pelo governo contra as universidades e funcionários públicos! Os colegas podem ter certeza que a probabilidade de sermos “massacrados” , eu diria, é de 100% , e sem margem para erros. O momento que estamos passando e vamos passar em futuro bem próximo com propostas do governo que só nos prejudica, requer mobilização de todos, principalmente servidores públicos em geral e nós, das academias.
Termino o texto enfatizando que temos de fazer a opção única, que é a de unir forças, não há outra alternativa, só se acreditarmos em Papai Noel, então devemos:
i) nos unir para mostrar que temos força e que podemos e estamos preparados para lutar na defesa da universidade pública e gratuita, por melhorias das nossas condições de trabalho, na defesa da dignidade profissional, melhores salários e carreira, ensino de qualidade, pesquisa etc. ou,
ii) vamos nos digladiar e, serenamente….. definhar. A escolha cabe a cada um de nós.
Professor do Departamento de Física