A defesa da universidade é a defesa de nossa paradoxal democracia

Rosendo A. Yunes*

No Brasil, lenta e imperceptivelmente, as universidades têm sido apanhadas por algumas reformas que não são para servir melhor a sociedade, mas a economia. Assim podemos observar quanto logico e normal aparece na maioria dos projetos de pesquisa colocar como um mérito a formação de “recursos” humanos. O ser humano é reduzido a um parafuso da economia, em definitiva do mercado. Quando nossa tarefa deve ser formar cidadãos responsáveis que possam dar respostas as perguntas sobre o homem y a sociedade com plena liberdade.

Devemos estar alertas com esta nova etapa politica do Brasil respeito da aplicação  de politicas ainda mais afinadas com o neoliberalismo que significa  a diminuição total da função do Estado em duas áreas fundamentais da sociedade: saúde e educação. Um dado: atualmente não se fala mais de dedicar os reditos do pre-sal para estas duas áreas

No seguinte vou seguir alguns pensamentos de Nick Couldry (Universities and the necessary counter-culture against neoliberalism) e do teólogo espanhol Juan J. Tamayo (Ética liberadora del cristianismo frente a teología neoliberal del mercado).

Observamos atualmente no Brasil (pelos meios de comunicação massiva) o domínio do pensamento único neoliberal nos proclamas de que o livre comercio, e o livre mercado, devem regular toda atividade econômico, que a intervenção do Estado se deve limitar a exigir a conservação férrea da disciplina fiscal, conseguir uma taxa de cambio estável, a liberação, desregulação e privatização da economia, a flexibilização laboral e a atração de inversões estrangeras.

Esta concepção tem um marcado caráter dualista: dissocia fatos de valores, economia de ética, individuo de sociedade, trabalho de prazer, liberdade de igualdade. Por isto e paradoxal, contraditória, e pronta a sucumbir baixo o peso da verdade.

Lembremos que para os economistas formuladores de o neoliberalismo, especialmente Milton Friedman e Friedrich von Hayek (da alta nobreza Austríaca), seguindo a Adam Smith  de que “mão invisível do mercado” sempre consegue oequilíbrio, o único bom é deixar os indivíduos ou empresas competir livremente no mercado, que isso produzirá o bem estar gerald+ assim a sociedade e o social, é uma quimera, não interessa, é nada real.

Mais ainda, na década dos anos 20 do século passado Walter Benjamin escreveu um artigo “O Capitalismo como religião” no qual considerava o capitalismo no como uma mera construção religiosamente determinada, mas como um fenômeno essencialmente religioso. Esta metamorfoses é tal, que observamos no operativo Condor em Latino américa, que se devia salvar a civilização ocidental e cristã  e defender ocidente do comunismo materialista, quando na realidade era somente defender um capitalismo igualmente materialista.

 A crise futura de nossas universidades será o produto da crise das denominadas “democracias” neoliberais, onde o neoliberalismo, como no Reino Unido da Grã Bretanha, propõe subsidiar somente as carreiras definidas como prioritárias, porque elas contribuem a economia de mercado, enquanto se deve persuadir aos outros estudantes que para conseguir uma educação superior devem pagar mais em ordem a conseguir mais. 

O neoliberalismo, enquanto oculta seu caráter religioso, há instalado uma cultura de uma implacável racionalidade, um ordem, aparentemente natural, de como devem ser as coisas.Funciona como uma religião monoteísta de tendência rígida e  desumanizadora, Em ela o mercado a substituído ao Deus das religiões monoteístas. Assim este pensamento leva a um totalitarismo, um totalitarismo fundamentalista, de aqui, como observamos no Brasil, a adesão de todos os fundamentalismos religiosos que exploram aos pobres  e não pobres em nome de Deus.

Celebra suas assembleias litúrgicas nas reuniões do Fundo Monetário Internacional Banco Mundial e Organização Mundial de Comercio e G-8 os 7 países de Europa junto a seu Império:  EEUU.

Os sacramentosda nova religião são os produtos comerciais que se publicitam, com mensagens subliminares orientados a criar necessidades novas nos cidadãos e motivar seu consumo de modo compulsório. Os templos profanos de esta religião do mercado são hoje os bancosonde os fregueses devem entrar com respeito e reverencias 

Se o mercado é Deus, então a competividade se transforma no único evangelho que se predica. Fora de ela não existe salvação possível, nem humana, nem divina, não existe crescimento econômico, nem bem estar social, nem independência politica.  

De aqui, a defesa da universidade é igualmente a defesa de esta paradoxal democracia, que na realidade não é uma verdadeira democracia. A defesa deve iniciar perguntando definir: Economia para que? Impacto para que? Eficiênciapara que? Perguntas que o neoliberalismo considera incoêrentes e irrelevantes.

Mas, a pergunta mais importante hoje é: Lava Jato da educação para que? Quando as universidades desamparadas de políticas que fomentem sua autonomia e a gestão democrática, fragilizadas pelos cortes orçamentários e a desorientação na pesquisa, que é fundamental para o Brasil, devem estar preparadas para sua luta permanente pelo ensino público, gratuito, democrático e de qualidade.

Lamentavelmente as universidades federais, a indústria e o governo não criaram o triangulo de desenvolvimento através de uma rede profunda de pesquisas orientadas a sua aplicação em áreas fundamentais como agricultura (ver artigo ”A ciência é nossa melhor aliada” de Adriana Brondani diretora executiva do Conselho de informações sobre biotecnologia em Scientific American  Fevereiro de 2019), saúde energia etc.,, que neste momento, poderia induzir ao setor produtivo e a sociedade apoiar esta luta na qual esta em jogo nossa paradoxal democracia. 

Nosso segundo dever é criar uma contra cultura de forte racionalidade, assimé necessário:i) mostrar as variadas e complexas relações entre economia e sociedade, ii) repensar a natureza da justiça, da solidariedade e da sustentabilidade dos recursos no mundo atual, e iii) as formas de organização humana que permitam a cooperação e competição não predatória, como a atual.

Igualmente devemos resgatar a dimensão comunitária do ser humano, devemos resgatar a tradição católica, que adoto no passado uma atitude antiliberal e anticapitalismo, porque a economia no deve estar ao serviço do capital, mas da pessoa humana e da sociedade a qual pertence (ver encíclicas de Pio XI) devemos resgatar o que no âmbito da filosofia é claro depois de Emmanuelle Lévinas a ética como filosofia primeira, e segundo o teólogo holandês Schillebeeckx, que a ração moral é a mediação entre a fé em Deus liberador e a ação ética.

Ainda que a fé cristã não se esgote na ética, se manifesta de maneira privilegiada no comportamento moral. No encontro com o outro, pode se identificar uma experiência significativa de Deus. Deus de alguma forma esta presente nos outros.

A ética cristã, no seguimento do Jesus histórico, o mais real possível, procura a liberação das diferentes opressões e escravidões a que se vem sometidos pessoas e grupos sociais, mas desfavorecidos. Identifica-se com os pobres e como consequência opta por eles. Esta identificação responde à logica da vida de Jesus.

O imperativo ético é: Libera ao pobre! Libera ao oprimido!. É categórico, absoluto, porque regula a práxis e obriga todos e sempre sem exceção alguma.

* Professor Aposentado do Departamento de Química