Novo curso do Itamaraty propõe afastar futuros diplomatas de “amarras ideológicas”

A proposta do novo curso de Política Internacional do Instituto Rio Branco, escola que forma os diplomatas brasileiros do Palácio Itamaraty, é afastar os futuros diplomatas de “amarras ideológicas eventualmente adquiridas em sua formação anterior”, para “passar a organizar seu trabalho com base em fatos, não em lugares-comuns e frases feitas”. Segundo a ementa da disciplina, a ideia é “diferenciar entre os especialistas verdadeiros — com pesquisa e análise reais e conhecimento prático do terreno e do tema — e os “fazedores de opinião” onipresentes na mídia”. O curso será ministrado pelo embaixador Achilles Zaluar Neto, dono de um blog de “literatura, religião, filosofia e pensamento político conservador”.

 

Segundo o jornal O Globo, Zaluar Neto é considerado um diplomata competente por seus colegas de profissão e a proposta do formato do curso, organizado em debates, é promissora. Entretanto, o tom da ementa foi criticado por embaixadores e professores da área. O historiador de política externa brasileira e embaixador aposentado, Rubens Ricupero, comenta que “esta formulação insinua uma abordagem de lavagem cerebral ideológica. O que se propõe é mudar opiniões e convicções de estudantes que se encontram em situação vulnerável, na necessidade de serem aprovados”. Para o historiador, a crítica às “amarras ideológicas” de terceiros é um sinal claro “de que você as tem”.

 

Ricupero interpreta, também, que a mudança no curso é influência do Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. O Instituto Rio Branco passou por uma reforma curricular neste semestre e disciplinas como História da América Latina e Organizações Internacionais foram excluídas por serem consideradas “globalismo” pelo ministro Araújo.

 

Procurado pelo O Globo, o ministrante da disciplina, Zaluar Neto, afirma que a finalidade do curso é provocar o debate. Ele admite que pode ter usado um tom “incisivo, para sacudir as premissas”, mas que “foi mal entendido”. A proposta do curso de Política Internacional, segundo ele, é permitir aos estudantes que eles próprios identifiquem suas “premissas ideológicas”, a partir da autoanálise: “O objetivo é refletir se os esquemas mentais que o aluno usa para as situações que encontrará no dia a dia são os mais adequados. O curso parte da premissa de estimular a total liberdade de expressão e pensamento. É o contrário da doutrinação ideológica”.

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L.S/L.L