Responsável por estabelecer a primeira linhagem brasileira de células-tronco embrionárias de multiplicação in vitro, nos anos 90, a geneticista da USP Lygia Pereira da Veiga critica a falta de investimentos e a burocracia na ciência. Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, ela destacou que as verbas para ciência foram reduzidas em 50% nos últimos quatro anos – situação agravada pelo teto nos gastos com educação – e sugeriu uma forma de compensar a insuficiência de recursos na área: “Aqui a ciência não é prioridade, não é vista como o motor da economia. Seria legal se a gente tivesse uma Lei Rouanet para a ciência”.
Cientista respeitada no país, Lygia defende que “ciência não é gasto, é investimento”. Ela diz ter esperança de que o novo Ministro da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações, Marcos Pontes, cumpra a promessa de investir 3% do PIB em ciência. “(Ele) é um cientista. Porque não é qualquer um que consegue chegar até a Nasa e a Nasa o colocar dentro de um foguete pra ir ao espaço. É alguém que sabe como é feita uma pesquisa”.
A geneticista salienta a importância da pesquisa básica para o desenvolvimento da ciência e, em consequência, da economia. “Países como EUA, Rússia e Coreia do Sul, em tempos de crise financeira, aumentam o investimento em ciência. Sabem que essa é a maneira sustentável e orgânica de fazer a economia rodar. Não é baixando o imposto da linha branca, entendeu? Aqui no Brasil a gente precisa muito dessa agenda”.
Outro problema que precisa ser enfrentado, aponta, é a burocracia. “O governo me dá um dinheiro pra fazer uma pesquisa inovadora e eu não tenho como prever o que virá. De repente percebo uma coisa nova e para confirmar isso preciso de um reagente novo. Nos EUA o dinheiro chega no dia seguinte. Aqui, demora dois meses”, compara.
Atuando em cooperação, a Receita Federal, a Anvisa e outros setores envolvidos poderiam diminuir esse processo para duas semanas. “Se o fizerem, vão revolucionar a ciência no país. Por isso eu bato muito na tecla da burocracia, que só depende da vontade política. E pode trazer um impacto tremendo”.
Confira a entrevista completa: O Estado de São Paulo
L.L