Aborto, feminismo e os adoradores de Baal

Semana passada o governador do estado de New York  passou uma lei abominável que permite o aborto em qualquer momento da gestação. Em sua fala, o governador democrata  saudou  efusivamente a nova lei como uma consolidação do direito das  mulheres exercerem a qualquer tempo os chamados direitos reprodutivos. Ironicamente, no contexto do aborto, o termo “direito reprodutivo” não passa de uma palavra construída para tentar ocultar aquilo que o aborto realmente é – um assassinato! Um vez que o aborto é uma decisão da mulher, é natural que o feminismo se apresente como abraçando essa causa, e é na defesa dessa causa que eu vejo uma associação do feminismo como sendo uma versão moderna do culto a Baal tanto no que se refere a naturalização que ambos fazem a matança de seres humanos quanto a atrocidade da prática em si.

 

Não é difícil entender o fascínio que o aborto exerce na maioria das feministas, pois decretar o fim da gravidez implica a morte de um ser humano em gestação. Deter esse poder de vida e morte parece agradar as feministas na sua frenética e obsessiva agenda de tentar imprimir uma leitura do que elas julgam ser apropriado as mulheres.

Definitivamente, vivemos hoje uma cultura permissiva que flerta com tendências perigosas e desumanas travestidas como “atitudes progressistas” e, assim, assistimos  a matança de seres humanos pelo aborto como sendo algo normal e nem questionamos a falácia da opinião majoritária  da mídia global que considera “avançadas” as “sociedades” onde o aborto é permitido. Será? Há mesmo algo avançado e progressista no aborto que possa ser reclamado como uma conquista do nosso tempo? Vejamos.

 

As feministas  que hoje levantam o estandarte do aborto identificam claramente que tal prática confere um poderio as mulheres, assim,  é inequívoco que agem  na consecução dos preceitos essenciais do mantra feminista. Mas, os povos da antiguidade do oriente médio, que sacrificavam  no fogo suas crianças a Baal, também não agiam movidos pelo desejo de cumprir preceitos que  julgavam essenciais? Neste sentido, não há nada de novo na defesa do aborto pelas feministas e na observância ao culto a Baal pelos povos da antiguidade já que ambos são movidos por preceitos assimilados cegamente, e é isso que constitui a idolatria: a adoração e observância de sujeitos e ritos criados e referenciados em conceitos puramente humanos. É neste sentido que o feminismo na sua defesa do aborto torna-se um retorno ao culto a Baal. Se a similaridade psicológica entre ambos os tipos é baseada na necessidade de cumprir preceitos tidos como essenciais pelas feministas e pelos antigos adoradores de Baal, há também uma similaridade quanto a crueldade da prática em si, afinal, queimar crianças no fogo não é menos bárbaro e cruel do que trucidar um ser humano no ventre da mãe com um fórceps, ou de sufocá-lo em solução  salina, ou ainda, de que crianças recém nascidas numa tentativa de aborto mal sucedido sejam deixadas sem socorro para morrer. Definitivamente, se defender tais atrocidades é ser progressista não há muita coisa para se orgulhar do nosso tempo.

No meio dessa realidade dura e crua onde a existência de seres humanos em gestação é posta como algo desnecessário e relativo, há algum valor que os defenda e que não seja humanamente referenciado? Sim, já na antiguidade os israelitas foram alertados por Deus através das Escrituras a não repetir as práticas abomináveis do sacrifício de crianças que os povos vizinhos cometiam. De forma graciosa, surge um novo princípio que é transmitido no livro do  Êxodo para instrução dos israelitas e que não sendo humanamente referenciado, mas de natureza divina, se impõe como um valor moral por gerações futuras. O que o feminismo defende hoje em relação ao direito ao aborto, não sendo nada novo em sua substância que os povos antigos faziam, deve ser tratado com as mesmas armas com que os líderes do antigo Israel combateram as tendências abomináveis de seu tempo, em particular, a prática do sacrifício de crianças a Baal ou Moloque. Instruídos pela mesma fonte de que os israelitas se nutriam, é preciso que os cristãos unifiquem seus esforços para combater e denunciar a farsa do discurso que o feminismo faz  a favor do aborto como sendo uma pretensa garantia de um direito absoluto das mulheres, e afirmar uníssono que o aborto não é um direito absoluto das mulheres, pois envolve outro ser humano que deve ser igualmente protegido!  O cristão, como cidadão consciente, deve entender que é a defesa de posições nos mais diversos níveis que acaba por condicionar legisladores e também juízes que infelizmente abusam de sua função num ativismo judicial  inaceitável. É preciso também exigir políticas públicas de apoio a mulheres vulneráveis que muitas vezes são persuadidas a fazer o aborto pelo desespero de não ter nenhum apoio para levar sua gravidez até o fim.

Finalizando, é triste, mas não surpreendente, ver uma legislação que permite o assassinato de seres humanos a qualquer momento da gravidez ser saudada como um avanço. Somente uma deformidade da consciência trazida por movimentos esquisitos, entre outros, o feminismo, permitiria ver alguma normalidade nisso. É contra essa estranheza que o cristianismo mais uma vez deve se levantar apontando os valores universais de respeito ao ser humano independentemente em que fase ele se encontra.

Marcelo Carvalho

Professor do Departamento de Matemática