Lições do passado

No início de março deste ano estaremos comemorando o cinquentenário da pós-graduação na UFSC. Para quem vivenciou o seu processo de implantação surgem muitas lembranças que merecem ser compartilhadas. O mestrado da Escola de Engenharia Industrial foi pioneiro na região sul do Brasil. Seu sucesso pode ser comprovado pelo destaque nacional e internacional alcançado por uma universidade federal criada numa cidade de pequeno porte que não possuía muitas das características propícias encontradas em suas coirmãs de outros Estados.

Uma pergunta que pode ser colocada neste contexto é sobre o efetivo início do processo de criação do mestrado na UFSC. Para o autor deste artigo, a nossa pós-graduação iniciou-se com a viagem do professor Stemmer para a Alemanha a fim de fazer um curso de especialização. Lá o professor da Engenharia Mecânica da UFRGS teve oportunidade de conviver com uma realidade universitária bastante diferenciada daquela existente em Porto Alegre.

A universidade onde foi estudar já tinha uma larga tradição em interagir com os setores produtivos. Os temas de estudo estavam devidamente vinculados com os trabalhos de engenharia que eram desenvolvidos na região e no país. No lugar dos professores de tempo parcial, que atuavam na UFRGS apenas no ensino de graduação, os alemães dedicavam-se a pesquisas inovadoras. O modelo alemão de interação entre universidades e empresas está sendo utilizado agora no Brasil através da Embrapii.

Como diretor da Escola de Engenharia e depois do Centro Tecnológico da UFSC, Stemmer teve, contando com o entusiasmado apoio do reitor Ferreira Lima, oportunidade de adaptar, com sucesso, o modelo alemão à realidade brasileira. Mesmo antes da reforma universitária que criou o magistério em tempo integral e dedicação exclusiva, contratos de docentes já eram feitos em duas disciplinas com cláusula de DE.

Tais contratos viabilizaram a saída dos docentes para cursar a pós-graduação no Rio de Janeiro formando a equipe que implantou o mestrado na UFSC. Saindo para fazer o mestrado em Engenharia Industrial na PUC carioca, tive a grata surpresa de vivenciar outra iniciativa bem concebida e implantada. Aquela universidade havia montado um programa, com apoio governamental, que começou com a escolha das melhores universidades do mundo na área de implantação de um novo curso de pós-graduação.

Na Engenharia Industrial a universidade escolhida foi Stanford. A PUC/RJ selecionou seus formandos melhor capacitados e os enviou para essa conceituada universidade dos Estados Unidos. Assim quando iniciei meu mestrado, eu não tive os melhores professores do mundo, mas estudei nos livros textos, em inglês, que eram adotados numa das melhores universidades do mundo. Os exercícios e as provas também tinham o mesmo nível de Stanford.

Na área de Administração de Empresas a PUC/RJ firmou convênio com Harvard. Na disciplina que cursei nesta área, tive oportunidade de vivenciar o famoso método dos casos. As discussões sobre uma temática específica tinham como base o conteúdo teórico do livro texto adotado naquela famosa universidade. Os resultados das análises de cada um dos casos eram utilizados na avaliação.

Em Harvard havia uma correção paralela dos textos elaborados pelos pós-graduandos por parte de alunos de graduação de inglês que servia para uma avaliação da clareza dos conteúdos para pessoas que não dominavam o linguajar mais técnico dos profissionais de administração. Esta boa ideia não foi adotada na PUC/RJ. Um significativo ganho de meu mestrado foi o domínio do idioma inglês que já era predominante na “Industrial Engineering” americana, que no Brasil passou a se denominada de Engenharia de Produção.

Como uma homenagem ao principal mentor da implantação da pós-graduação na UFSC, a Fundação de Ensino e Engenharia de Santa Catarina (FEESC) também por ele criada para viabilizar a implantação das graduações em Engenharias Elétrica e Civil, passou a adotar no ano passado a denominação de Fundação Stemmer para Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação.


Raul Valentim da Silva

Professor aposentado