As discussões sobre “Escolas sem partido” colocam-se em grande destaque na atualidade brasileira. Múltiplas formas de abordagem desta temática vêm sendo apresentadas. As matérias que tenho lido na imprensa mostram carências sobre o enfoque que considero mais relevante neste contexto.
Ao apresentarem conteúdos escolares em formas bastante divergentes do posicionamento adotado pelas respectivas famílias, certos professores geram um clima de conflito que pode ser bastante prejudicial às crianças e aos jovens estudantes. Em muitos casos não se trata de posicionamentos devidamente respaldados pela ciência.
Muitas verdades aparentemente científicas resultam de estudos desenvolvidos em contextos bastante diferentes da realidade brasileira. Em diversos campos da ciência as verdades são mutáveis no tempo e no espaço. Diferentes culturas podem gerar diferentes interpretações para um mesmo texto.
Conflitos entre pais e professores podem ser bastante prejudiciais para o processo de ensino-aprendizagem. Verdades díspares em casa e na escola geram insegurança e podem provocar desleixo, reprovações e abandonos por parte dos alunos. Um ambiente de cooperação e entendimento na comunidade da escola é altamente benéfico para todos.
Um mesmo aluno passa por uma grande diversidade de professores de diferentes matérias ao longo de seus estudos. Assim, dentro da própria escola pode surgir uma série de divergências. Os familiares que permanecem com a criança ou o adolescente durante toda a vida têm suas crenças e verdades que precisam ser devidamente respeitadas.
Mesmo crenças rejeitadas pela ciência devem ser respeitadas. Rezas, chás, homeopatias e mapas astrológicos, por exemplo, podem ser benéficos para quem acredita neles. A ciência vem comprovando o efeito placebo, em que substâncias sem qualquer princípio ativo podem curar doenças reais. Experimentos mostram que quando tais placebos são injetados, seus efeitos curativos tendem a acentuar-se.
O respeito às crenças religiosas, bastante vinculadas com culturas, tem um amplo respaldo em preceitos constitucionais e em convenções internacionais. Muitas destas crenças têm repercussões morais que não podem ser contestadas numa escola realmente laica. O ensino precisa concentrar-se em conteúdos que não interfiram na liberdade religiosa.
O ateísmo vinculado às ciências é um problema específico que apresenta alto potencial conflituoso. Como nunca foi provada cientificamente a inexistência de um Ente criador do Universo e da vida, não há razões lógicas para que professores imbuídos do poder intelectual do magistério venham confrontar-se com alunos e familiares religiosos que acreditam em uma ou mais entidades divinas.
Raul Valentim da Silva
Professor aposentado da UFSC