As aulas da Fundação João Pinheiro, instituição do Governo de Minas Gerais, foram suspensas nesta terça-feira (30), após circular nas redes sociais vídeo no qual o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) cita nomes de nove de professores da fundação, criticando-os em sua maneira de lecionar.
A fundação oferece curso de graduação em administração pública, e as aulas são realizadas majoritariamente pela manhã.
O vídeo foi publicado no YouTube na última segunda-feira (29), mas parece ter sido gravado antes de Bolsonaro ter sido eleito, no domingo (28), porque, na filmagem, o capitão aparece mais fortalecido e em frente de um restaurante, semelhante ao bandejão da Câmara dos Deputados. Além disso, Bolsonaro veste uma camisa branca, tipo de roupa que parou de usar desde que começou a portar a bolsa de colostomia.
A reportagem optou por não publicar o vídeo para não expor os professores citados. A Fundação João Pinheiro confirmou que todos os nomes citados por Bolsonaro são realmente de professores da instituição. O cancelamento das aulas também foi confirmado pela assessoria de imprensa da fundação.
Ainda de acordo com a assessoria, os profissionais da Fundação João Pinheiro estão reunidos para definirem qual será o posicionamento da instituição a respeito do vídeo, que deve ser enviado à imprensa ainda nesta terça.
Diretório Acadêmico
Alunos da Escola de Governo Professor Paulo Neves de Carvalho, instituição ligada à Fundação João Pinheiro, por meio de seu Diretório Acadêmico, publicaram uma nota no Facebook declarando que não reconhecem “nenhum tipo de doutrinação ou imposição de pensamento por parte do corpo docente da Fundação João Pinheiro”.
O posicionamento, segundo a assessoria da fundação, entretanto, vem exclusivamente dos estudantes e não reflete o da instituição.
Posição de Bolsonaro
A reportagem entrou em contato com a assessoria de Bolsonaro e ainda aguarda retorno.
Leia o que disse Bolsonaro
“Se nós vivêssemos no regimes que vocês defendem, você não estaria vendo esta mensagem através deste aparelho maravilhoso, que não é fabricado na Coreia do Norte ou Cuba. Caiam na real! Parem de se enganar a si mesmos. Tenho certeza que, agindo desta maneira, vocês não serão só mais respeitados, bem como poderemos trabalhar por um Brasil melhor. Podem não concordar comigo, mas na maioria das coisas eu sou muito melhor daquilo o que vocês ensinam”, diz, ao concluir: “Acredito na recuperação de vocês”.
Leia a nota publicada pelo Diretório Acadêmico
“O D.A. CSAP vem, por meio desta nota, reconhecer a Escola de Governo Paulo Neves de Carvalho como ambiente plural e democrático. Nós, alunos, não reconhecemos nenhum tipo de doutrinação ou imposição de pensamento por parte do corpo docente da Fundação João Pinheiro. O ambiente educacional é composto por pessoas de diversas ideologias políticas e diferentes opiniões, essenciais para a construção de um pensamento crítico independente, base para a formação de pessoas que buscam atender o interesse público. Prezamos pela liberdade de expressão e por um espaço no qual o diferente seja sempre aceito e respeitado e nos esforçamos todos os dias para que isso seja possível. Repudiamos, portanto, qualquer tentativa de minar essa construção, essencial para a democracia”
Posiocionamento da FENECAP
Após a divulgação do vídeo, a Federação Nacional dos Estudantes do Campo de Públicas (FENECAP) também se posiocionou desejando que as “conquistas do povo brasileiro sejam preservadas”.
Leia, na íntegra, o que eles disseram:
A FENECAP, entidade máxima representativa do Campo de Públicas, vem através desta, demonstrar o respeito pela decisão majoritária do povo brasileiro, que escolheu Jair Bolsonaro como Presidente da República. Esperamos que a democracia, o estado laico, os direitos dos povos tradicionais, o grande patrimônio cultural e natural do Brasil e todas as conquistas do povo brasileiro, sejam preservadas.
Apesar do então candidato não ter nos recebido e nem demonstrado interesse em assinar a Agenda do Campo de Públicas, com pautas importantíssimas para a profissionalização da Administração Pública e do progresso de toda a área, ficamos na esperança de que o candidato eleito reconheça a importância de nosso campo de conhecimento, que se aprofunda no estudo da res publica e tem como objetivo a supremacia do bem comum.
Com tristeza, vimos na última semana a repressão violenta e autoritária realizada a manifestação e organização dos alunos, principalmente aos centros e diretórios acadêmico, em todo Brasil. Compreendemos que esses atos são uma forma de censura e controle da liberdade política e de expressão. Esse fato é comprovado com base na Lei 9.504/1997, no artigo 24, que prevê que “a legislação eleitoral veda a realização de propaganda em universidades públicas e privadasd+ e no artigo 37, que diz que “a vedação dirige-se à propaganda eleitoral e não alcança, por certo, a liberdade de manifestação e de expressão preceitos tão caros à democracia, assegurados pela Constituição Cidadã de 88.” Assim, reafirmamos e lutamos pelo direito de que movimentos estudantis possam se manifestar livremente.
Também declaramos nossa repulsa ao vídeo em que Jair Bolsonaro cita nomes de professores da Fundação João Pinheiro e os acusam de doutrinadores. Independente de o vídeo ser ou não recente, não podemos acreditar que foi postado com inocência por seus seguidores, justamente no dia de ontem após o candidato ser eleito, a fim de causar medo em nossos colegas e docentes. Acreditamos na pluralidade de ideologias e opiniões dos professores que compõem o corpo docente da Escola de Governo e prezamos pela liberdade de expressão em todo o ambiente educacional. Reconhecemos assim, a importância da FJP para a construção do Campo de Públicas e jamais a queremos silenciada.
Por fim, repudiamos qualquer ato contra nossa democracia, tão jovem e conquistada a duras penas, bem como todo desprezo pelas minorias sociais existentes em nosso país.
Fonte: Jornal O Tempo (MG)