Crise civilizatória, de Brasil e responsabilidade das universidades

A crise de um sistema se produz por um esgotamento das bases o guias do mesmo que podem levar a uma mudança ou a sua substituição total. Da crise econômico-social global de 2008 os poderosos e muitos ricos saíram com mais poder e riqueza, enquanto os pobres, fracos aumentaram quali- e quantitativamente sua pobreza e debilidade.

A crise não é agora do capitalismo, é uma crise civilizatória porque tudo: problemas, informação, produção, qualidade humana, etc. estão interconectados. É uma crise humana porque se relaciona com nossa condição contraditória e errática, mas ao mesmo tempo racional emocional e espiritual.

É evidente que um ser humano no qual seus instintos, seu ego instintivo (egoísta, violento, individualista, ganancioso, camaleônico etc.), e seu ego espiritual (da fraternidade, compaixão, arte, ciência e amor) não estão harmonizados, com domínio do ego instintivo, criaram uma sociedade não harmônica porque reprime os valores fundamentais, e está sociedade não harmônica modela e reforça a falta de harmonia individual.

Uma corrente de individualismo e de competição ilimitada gerada pelo ego instintivo, em países desenvolvidos e opressores a contaminado nosso país e Latino América. Do grande lema da revolução francesa Liberdade, Igualdade e Fraternidade, esta última foi eliminada para deixar somete a liberdade absoluta dos poderosos para oprimir, e uma suposta igualdade e oportunidades e não de condições ( não é o mesmo trabalhar na Universidade de Harvard que na UFSC). Isto levou a dar prioridade a competição sobre a cooperação, ao individual sobre o social, e a uma economia social transformada em guerra como observamos atualmente entre dos poderes globais EEUU e China.

Erich Fromm. afirma que as sociedades mentalmente sanas no estão ligadas ao grado de satisfação fisiológico, impulsivo e libidinoso, más das estruturas de orientação e sentido que os seres humanos utilizam para afrontar sua existência, por isto explica “Uma sociedade sana desenvolve a capacidade humana para o amor a seus próximos, para trabalhar criadoramente,. Para ter um sentimento de si mesmo baseado em suas próprias capacidades”

O aprendizado do conformismo e das relações sociais simbióticas, parasitarias o dependentes aparece e se desenvolvem na infância, assim se ensina a reprimir os sentimentos espirituais de verdade e de justiça, por isto o desejo de eliminar as ideias de Paulo Freire que levam a pensar, a raciocinar e desenvolver a procura da verdade e da justiçad+

Este fato e realizado pelas denominadas “indústrias da consciência”, entre as quais estão as agencias de informação, os grandes consórcios empresariais e financeiros, as empresas de publicidade, os meios de comunicação de massa, especialmente TV, jornais, rádios, assim como algumas organizações políticas e religiosas. Isto último, observado claramente no Brasil.

Esta situação a levado ao que Lipovetsky  denomina a “felicidade paradoxal” na qual o individualismo extremo e o hedonismo sem limites se combinam com intensos sentimentos de vácuo, soledade, frustração, e desamparo.

Este processo global vai junto com a expansão dos mercados, o êxito dos “shopping center”, o incremento da demanda para o qual se procuram sempre novidades voláteis, fluidas, não permanentes, criando uma situação de stress, ansiedade, e um estado que oscila entre aborrecimento e euforia.

Para entender um pouco de nosso Brasil atual devemos ler o que Bruckner: afirma: a crise é caraterizada por infantilismo e vitimização. O infantilismo leva a não aceitar qualquer empecilho a realização imediata dos desejos e assim desenvolve uma patologia neurótica de “intolerância” a qualquer frustração. A tendência individual e social a se sentir vítimas, de roubos, ameaças, crimes, em resumo insegurança e medo, e não poder solucionar a situação senão pela transformação em verdugos, abre as portas para ideologias autoritárias e totalitárias ou a um salvador da pátria. O medo sempre foi usado como instrumento de Opressão.

Frente a esta grave crise: qual é a missão da universidade? Para simplificar (quem deseja mais detalhes podem ler meus artigos sobre universidade)

1)-O fundamental é ensinar a pensar. Ou seja, procurar sempre os fundamentos que podem justificar uma teoria, seja ela econômica, política, científica, médica etc. Considerando que o homem é um ser onde se integram e harmonizam matéria e espírito. A espiritualidade não é patrimônio, nem monopólio das religiões, nem de caminhos espirituais codificados, é uma dimensão de cada ser humano, como capacidade de diálogo, de amor, de compaixão, de solidariedade e de ter um sentido profundo de valores pelos quais vale qualquer esforço, energia, tempo e até sacrificar a própria vida.

2)-O conhecido filosofo espanhol Ortega e Gasset escrevia em 1914 “Eu sou eu e minha circunstância se não salvo ela não me salvo eu”. Assim, existem aqueles que estão preocupados com salvar sua circunstancia econômico-social, cientifico-tecnológica, e humana que somente é possível em base a verdade e a justiça, e aqueles que não estão preocupados com nada, gostam da vida de consumo, prazer, e são conformistas e no extremo terminam , segundo Lipovetsky, em um individualismo puramente narcisista.  Devemos ensinar a construir um mundo mais justo, mais fraterno y mais humano.

3)-Se deve ensinar que no ensino, na pesquisa e na extensão deve existir uma forte adesão a verdade e a justiça

4)- No ensino, na pesquisa, na extensão se deve estimular o trabalho em equipe onde a cooperação seja muito mais importante que a competição.

Espero que as novas autoridades da APUFSC possam considerar estas ideias para o bem de nossa universidade, de nossa comunidade e do Brasil.

Fromm E. 1964 “Psicoanálisis de la sociedad contemporánea. Hacia una sociedad sana” Fondo de Cultura Económica, México.

Lipovetsky G. 2007 “La felicidad paradójica” Anagrama, Barcelona

Bruckner P. 1996 “La tentación de inocencia” Anagrama, Barcelona


Rosendo A. Yunes

Professor aposentado