Após receber advogados e o presidente da OAB-SC, Paulo Brincas, ontem de manhã, o reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Ubaldo Balthazar, falou pela primeira vez sobre o inquérito da Polícia Federal (PF) e a denúncia do Ministério Público Federal (MPF) em que ele e o chefe de gabinete da reitoria, Áureo Moraes, são alvos. Ambos respondem “por ofenderem a honra funcional da delegada da Érika Mialik Marena”. Em entrevista exclusiva à coluna, Balthazar dá detalhes do depoimento na PF, além de dizer que não mudará seus atos após a investigação.
Qual foi a sensação após a informação da denúncia? O senhor acredita que ajudou a cometer o crime de calúnia?
Tenho uma formação que me impede de censurar opinião. Converso com as pessoas quando alguém não concorda comigo, tenho por costume conversar. Até algumas pessoas dizem que sou parecido com o Cau (ex-reitor da UFSC Luiz Carlos Cancellier), costumo dizer que é o contrário, ele que era parecido comigo porque era mais novo. Procuro resolver sempre dialogando. Quando alguém se manifesta contra alguma coisa com faixas, cartazes, discurso, não cabe a mim censurar. Jamais vou censurar, ainda mais dentro da universidade que é um espaço democrático, crítico. Ensinamos nossos alunos a sempre criticarem. Nossos alunos têm um diferencial, inclusive, que considero importante, que é ver as coisas na perspectiva crítica, mas de respeito. Fiz política estudantil nos anos 1970 aqui dentro, fiz política depois no sindicato dos professores. Tenho uma história e até hoje ninguém me acusou, que eu me lembre, de ter censurado alguém, de ter pegado pesado porque alguém foi contra o que penso.
Por que, então, o senhor acha que houve a denúncia do MPF e a investigação da PF?
Não faço a menor ideia, com toda a honestidade. Depois do meu depoimento (na PF), pensei que a coisa estava clara. Eles entenderam no sentido contrário. Não gosto muito da teoria da conspiração, mas às vezes eu fico preocupado. Não é a UFSC. As universidade brasileiras vêm sofrendo um pouco nesse sentido com esses certos ataques à sua autonomia.
O senhor mudará seus atos, terá mais preocupação na hora de falar?
Na verdade eu estava de acordo com o que sempre penso e falo. Não vou mudar meu discurso em virtude de uma decisão do Ministério Público. Quem me conhece sabe que o meu discurso é esse, minha fala será sempre no mesmo sentido. Procuro falar com tranquilidade, virou chavão aqui dentro a palavra serenidade, todos dizem que ajo sempre assim. Essa é a minha característica, não vou mudar.
No seu depoimento à PF, o que foi perguntado?
A preocupação (da PF) era quem autorizou, quem levou a faixa para dentro do hall da reitoria e porque o reitor, autoridade máxima da instituição, não proibiu a colocação da faixa. Eu respondi: não sei quem fez, conheço alguns que seguravam a faixa e não proibi porque não cabe a um reitor coibir um ato de crítica e oposição dentro da universidade.
O senhor evitou dizer nomes?
Quando disse que conhecia alguns nomes e não sabia de todos, eles me perguntaram quais eu sabia. Eu disse que não diria para não ser leviano. Poderia prejudicar uma pessoa sabendo que havia outras que eu não conhecia. Até onde me lembro, no final, quando me virei e vi a faixa, vi que tinha várias pessoas a segurando. Mas 95% do tempo que a faixa esteve ali eu não a vi. Vi ao final porque da posição onde eu estava, não conseguia.
E se ocorrerem novos protestos parecidos dentro da universidade?
Se for uma manifestação pacífica de crítica a quem quer que seja, vai circular aqui dentro. Já foram dentro do meu gabinete com faixas. Essa faixa que está no hall da reitoria, mandando eu fazer direito (alusivo ao um protesto da associação dos funcionários da UFSC), entraram dentro do meu gabinete com ela. Perguntei se eu falaria com a faixa dentro, aí um dos rapazes disse: “Isso faz parte”. Concordei e segui. Ficamos conversando e aquilo não me abalou minimamente, porque era manifestação pacífica, uma crítica bem-humorada.
Fonte: Diário Catarinense