A transformação da APUFSC de satélite da ANDES em sindicato independente foi o desdobramento de um processo de ruptura finalizado em 2009 e iniciado algum tempo antes que catalisou a insatisfação dos associados com as práticas pouco representativas adotadas pela ANDES.
Farei aqui uma breve exposição do que é essa aberração conhecida pelo nome de ANDES e das razões porque não devemos jamais cometer o equívoco de refiliar a APUFSC a ANDES.
Para se ter uma idéia da ideologia que permeia a ANDES é suficiente observar os seus boletins informativos que mostram um evidente alinhamento a pautas de esquerda que extrapolam o que se espera de um sindicato cuja função principal seria se limitar a defesa dos interesses profissionaisda categoria docente. O leitor pode então se perguntar qual o instrumento que a ANDES se utiliza para avançar uma pauta tão ideologicamente carregada sem a oposição dos associados. Eu diria que é a percepção que a ANDES tem de que um docente deve se engajar na defesa de uma causa política ideológica (e a ANDES não esconde isso) ao invés de concentrar seus esforços num academicismo individualista. Tal percepção afirma algo que era comum nos anos 80 e que eles identificam com as chamadas “lutas históricas” em defesa da democracia. Era um tempo diferente onde as demandas do academicismo de agora não eram tão imperiosas. Assim, continuamos vendo o velho discurso de alguns colegas que identificam o academicismo atual de forma pejorativa como sendo “produtivismo acadêmico”, como se a busca pela excelência acadêmica centrada na publicação de artigos fosse algo errado. Isso explica também o discurso de um colega em assembléia recente da APUFSC em que criticava a despolitização da APUFSC como decorrente da preocupação que os novos professores têm com seus “Lattezinhos” (isto é, os Currículos Lattes). É exatamente por ser incapaz de perceber que os docentes de agora tem pouca coisa em comum com os docentes de perfil mais militante do passado (era chique na época ser militante) que a ANDES continua funcionando de forma excessivamente frenética com grupos de trabalho sobre os mais diversos assuntos, ou na elaboração da análise de conjuntura disso e daquilo etc,. Há assim uma profusão de atividades que se mostram incompatível com as demandas atuais do docente que deseja formar uma carreira acadêmica e não quer se engajar numa causa estranha a seus interesses. Essas demandas acadêmicas afastam então os docentes de um sindicato como a ANDES, explicando a razão da ANDES dominar seus satélites locais pelo total desinteresse e impossibilidade dos associados abdicarem de seus projetos acadêmicos em prol do que o sindicato exige. Outro instrumento eficaz no controle de seus satélites se mostra no “assembleísmo” que consiste em alongar demasiadamente a Assembléia Geral até que esvaziada pelo cansaço de horas e sem necessitar um quórum mínimo significativo de associados, reste apenas um pequeno grupo de obstinados que decidem em comum acordo e sem nenhuma oposição. Foi exatamente contra essa triste realidade que em 2009 os associados da APUFSC reunidos em duas AG”s decidiram de forma corajosa dar um basta a essa submissão da APUFSC a ANDES. Na primeira AG os associados decidiram pela desfiliação da APUFSC. Na segunda AG os associados votaram um novo regimento necessário para viabilizar uma nova dinâmica sindical sem os vícios do antigo regimento que permitiam desvios como o assembleísmo. Na épica AG que votou o novo regimento ainda havia uma expectativa de que os andesianos vetassem as mudanças no regimento de modo que oportunamente pudessem reverter a decisão da desfiliação deliberada na primeira AG. Lembro na ocasião que para cada item do novo regimento haveria duas falas, uma a favor seguida por outra contra a mudança. Quando a assembléia deveria deliberar pela adoção de um novo dispositivo para decidir greve, no caso, uma AG extraordinária em dois dias com votação em urna com 25% dos associados, inicialmente ninguém se dispôs a defender a proposta, talvez intimidados pela presença dos andesianos que ali estavam. Assim, quando um conhecido professor do CFH se encaminhava para defender a rejeição da proposta de mudança , eis que um professor meio impetuoso e irritadiço se levanta e se dispõe a defender a proposta de mudança do regimento. O que se seguiu de forma previsível pela própria necessidade de aprovar o quórum mínimo, e não pela eloqüência do discurso, foi então a aprovação do novo dispositivo que desde 2009 garante legitimidade a decisões de AG”s, corrigindo um desvio que se evidenciava na banalização de greves decididas por um quórum sem qualquer representatividade.
Defender a APUFSC contra a investida de alguns simpatizantes da ANDES que sugerem o retorno da APUFSC a ANDES é defender a autonomia e independência que a APUFSC conquistou nessas AG”s de 2009 e que desde então são contestadas judicialmente pela ANDES. Lembremos também que a ANDES, violando decisão soberana da AG que votou pela desfiliação da APUFSC, instalou uma seção sindical “paralela” na UFSC, algo que a justiça já declarou ser indevido e que somente a APUFSC detém esta representatividade. Por fim, lembremos que alguns dos que defendem a aproximação da APUFSC a ANDES são as mesmas pessoas que dois anos atrás vendo que não conseguiriam forçar uma AG de greve na APUFSC pelos requerimentos de quórum mínimo, tentaram uma “segunda via” formando um obscuro “comando independente de greve” em que se auto-declararam em greve. Ironicamente, tais pessoas do comando independente de greve participaram de uma AG da APUFSC que não foi instalada por falta de quórum (~ 130 associados) , onde demonstraram que nem eles mesmo conseguiram 130 pessoas para referendarem a greve que eles auto-declararam, do contrário, teriam conseguido trazer 130 colegas a AG da APUFSC que teria então se instalado, algo que não ocorreu. Esse fato deixa claro como essas pessoas pensam e a forma como atuam. Será vale a pena aceitar a reaproximação que eles propõem?
Marcelo Carvalho
Professor do Departamento de Matemática