Lendo o que o prof. Brisola escreve fico na dúvida se ele presta atenção ao que lê, ou se atropela os fatos pelo gosto de polêmicas, pois eu vejo essas duas características no último texto que ele escreveu onde afirma que
“Gostei muito de ver que o prof. Marcelo conhece bem a situação e a história da Nicarágua, que parece estar caótica nos últimos anos. Daniel Ortega, que chefiou a revolução sandinista, que expulsou Somoza e outros parceiros da United Fruit, que vinham desgraçando o país há um século, parece também ter se tornado um ditador, provavelmente corrupto. Ele afirma que a ditadura é intrínseca ao comunismo, que parece ter sido implantado na Nicarágua.”
Não me lembro ter afirmado que a Nicarágua em algum momento foi comunista ou que tenha se declarado como tal, mas entendo que o líder da revolução sandinista tinha ideias comunistas que tentou implementar no passado. Meu argumento se baseou então na observação de que sendo a violência o modus operandi de todo comunista, eu não via sentido em afirmar que o Ortega de agora se tornou o Somoza do passado, como se isso pudesse dar alguma legitimidade ao Ortega da revolução sandinista, mas sim que estamos lidando com o mesmo Ortega de sempre, pois a violência que ele aplica agora é a mesma violência que ele aplicou no passado para tomar e se manter no poder. Assim, não é difícil imaginar que o viés autoritário de Ortega em 2018 seja algo novo, mas sim um velho hábito. Neste sentido, vale comparar Ortega a Zé Dirceu, já que Dirceu mesmo não tendo conseguido implantar uma ditadura comunista no Brasil quando participou de grupos que usavam o terrorismo contra o regime militar, ainda assim, nos anos seguintes, ajudou a fundar um partido que saqueou o Brasil e nunca renunciou ao comunismo. Assim, o velho Dirceu de agora não é uma versão corrompida do jovem Dirceu, ele é o mesmo Dirceu de sempre, sedento do poder e que nunca renunciou a abjeta doutrina comunista. E faço aqui um parágrafo para criticar nossa política atual tendo por base o que o prof. Brisola escreveu
Fico feliz por ver que após se livrar da “praga petista” e enjaular o “monstro”, estamos no caminho certo, com a limpeza e reorganização capitalista que vem sendo feita por aqui. Só é preciso dizer aos 60 mil que são assassinados por ano e os 14 milhões de desempregados, muitos destes morando na rua, que tenham paciência, pois eles são apenas vítimas daqueles governos comunistas de 2003 a 2016.
Em relação aos 60 mil assassinatos e aos 14 milhões de desempregados isso se originou em 2016 ou representa uma tendência já presente em anos anteriores? Por acaso, o Brasil alguma vez exibiu estatísticas menos dramáticas de assassinatos? Ora, ao fim da fracassada gestão petista de Dilma Roussef, já não se contabilizavam 13 milhões de desempregados? No início do governo Temer, não estava a economia dando sinais de recuperação sendo este processo interrompido devido a questões políticas que impediram a votação de reformas importantes como a da previdência? A defesa velada que o prof. Brisola faz do PT não se fundamenta em fatos, mas constitui-se em boatos que a militância e o próprio PT espalham, algo que apenas reforça algo que eu identifico como três possibilidades para alguém queapóia o PT: ou é um desinformado que se põe numa condição de eterna submissão e que dá seu voto apenas para não deixar de receber algo em troca (bolsa família), ou é um obstinado que vive em eterna negação acreditando não haver desvio de conduta algum por parte das lideranças petistas e que tudo não passa de um complô de forças retrógradas conservadoras, ou são pessoas com um desvio de caráter que legitimam as ações de seus líderes alegando não haver delito algum já que tais ações se enquadram na moral comunista de que é necessário avançar a causa custe o que custar. Ou seja, o que é tido por deplorável é fruto da leitura feita pela moral burguesa que deve ser suprimida.
Na ânsia de defender o indefensável prof. Brisola salta uma pérola quando escreve
“Suponho que violência seja associada ao comunismo, mas não ao capitalismo, já que os outros países da região vão muito bem, sem violência. Mesmo que haja gangues assustadoras nos países do istmo, que induzem os habitantes a procurar desesperadamente ir para os Estados Unidos. Talvez alguns até tentem vir para este nosso pobre país, que era maravilhoso antes de 2002, mas foi estragado pelos petistas.”
Ora, prof. Brisola, não embaralhe o sentido das palavras, sejamos precisos e lógicos, assim, a assertiva correta seria afirmar: se há comunismo entãohá violência, já que a violência é uma condição necessária para haver comunismo, o que não significa que não há violência em países não-comunistas, mas sim que há países não-comunistas onde não há violência, pelo menos não numa forma endêmica. De fato, a violência ser condição necessária ao comunismo é algo inerente a própria ideia e prática do comunismo comprovada historicamente tanto pelos vários artigos que Marx escreveu no jornal que editava – Neue Rheinische Zeitung [1], quanto pela autofagia de matar em larga escala seu próprio povo, característica historicamente comprovada e comum a todas as ditaduras comunistas. Ou seja, como idéia e como prática o comunismo requer como condição necessária o uso da violência. Qualquer um que tente argumentar o contrário é refutado pelas evidências! [2]
Agora, o que causa mesmo estranheza é ler algo como
“Suponho que violência seja associada ao comunismo, mas não ao capitalismo, já que os outros países da região vão muito bem, sem violência … ´´
pois, descontada a ironia, o trecho revela um pensamento recorrente em muitas pessoas e que sugere algo mais ou menos assim:
– O comunismo mata, mas o capitalismo também mata, assim, sendo você capitalista eu também me afirmo como comunista, pois o que você critica em mim também é criticável em você.
Definitivamente, desejo acreditar que o prof. Brisola não endossa este tipo de pensamento, pois quando encontro alguém disposto a fazer concessões à sua própria consciência de modo a justificar sua inclinação a uma doutrina abjeta alegando que o outro também simpatiza com outra doutrina abjeta, a minha posição é de não me solidarizar com nenhum dos dois. Meu princípio é bastante simples, “que o seu sim seja sim, que o seu não seja não”, ou sendo bem pedagógico: Algo ruim não serve para justificar algo ruim. Dito isto, criticar o comunismo não me torna um defensor do capitalismo. Agora, alguém simpatizar com o comunismo justificando isso porque o outro é simpatizante do capitalismo é algo estranho ao meu pensamento. Sinta-se livre de fazê-lo quem assim desejar, desde que não projete esse vício de pensamento no outro.
Voltando ao texto do prof. Brisola é ainda notável que alguém referindo-se a Haiti, Jamaica, Guatemala, consiga escrever algo como
“Suponho que estas ilhas, que como Cuba produziam exclusivamente açúcar na década de 1950, tenham ciência e indústria mais desenvolvidas que as de Cuba e que seu povo seja livre e não haja pobreza por lá. Elas certamente não têm os bordéis e os mafiosos americanos que Cuba tinha antes da revolução dos Castro, pois devem ter progredido muito mais que Cuba neste meio século.
Ora, Cuba é exemplo para o que? Que progresso há em Cuba? Que modelo de país é esse, onde seus cidadãos são submetidos a um racionamento de comida? Se houve alguma prosperidade em Cuba nos anos que seguiram a revolução cubana isso não teria sido fruto da necessidade da finada URSS manter economicamente um posto avançado na América Latina para comunizar a região? Mas, para não ficarmos em meras opiniões polêmicas, analisemos os fatos. Por exemplo, se Cuba é tão desenvolvida e com uma saúde tão avançada como dizem, o que levou milhares de cubanos a tentarem sair de lá, arriscando suas vidas atravessando o mar para chegar na Flórida e, assim, viverem num país conhecido por ter um sistema de saúde privado??? Também, qual o sentido de se comparar Cuba com países não-comunistas igualmente empobrecidoscomo Haiti, Guatemala, Jamaica? Ora, prof. Brisola, sua argumentação tem um erro bem evidente que o senhor não percebeu, pois a sua comparação de Haiti, Guatemala e Jamaica com Cuba mostra unicamente que a pobreza não é restrita apenas as nações de regimes comunistas. Agora, aplicando o seu raciocínio aos empobrecidos países do leste europeu que foram satélites soviéticos temos a opção de compará-los com países não-comunistas europeus que são tidos como exemplo de desenvolvimento econômico, Finlândia, Norway, Dinamarca, Suécia, etc., o que nos mostra que se a pobreza não se limita aos países de regime comunistas, a riqueza certamente se limita aos países capitalistas.
É por conta desses comentários que eu classifico tudo que o prof. Brisola escreveu em seu texto “Aprendendo sobre a Nicarágua” como mera polêmica que se limita a ideias desarticuladas e sem muito fundamento, já que ora colocam posições que eu sequer expus em meu texto, ora colocam pontos que são contraditos pelos fatos. Não que suas polêmicas não sejam engraçadas, prof. Brisola, mas sim que tudo que se mostra demasiadamente engraçado acaba por se tornar desnecessário e sem graça.
CORREÇÃO: Lendo meu texto anterior, “Nicarágua, Venezuela, Cuba, … há alguma diferença?”, vejo que de forma equivocada mencionei no último parágrafo daquele texto a seguinte sentença:
“A violência que Ortega usa agora contra o povo da Nicarágua é a mesma violência que ele usou para destituir a ditadura de Somoza e implantar uma outra ditadura-comunista.”
Assim, erroneamente, de forma apressada para finalizar meu texto vejo que na última frase associei o regime revolucionário implementado por Ortega em 1979 à uma ditadura comunista, o que não pode ser visto como tanto. Faço então uma correção, de que a violência que Ortega usa contra seu povo agora pode não ser um desdobramento de algo comum ao Ortega de 30 anos atrás, e, caso seja, também não remeteria a uma viés comunista do Ortega de trinta anos atrás. Contudo, exceto por isso, não vejo nenhuma outra correção a ser feita nos pontos em que critico na argumentação do Prof. Brisola.
Marcelo Carvalho
Professor do Departamento de Matemática
[1] http://www.paulbogdanor.com/left/communists.html
[2] “O Livro Negro do Comunismo”, Stehpne Courtois