Finalmente, o Brasil está colhendo os frutos da austeridade, considerada por alguns como reação ao desperdício e falta de juízo dos anos petistas. A mortalidade infantil aumentou pela primeira vez desde 1990, e a situação vai piorar. O saneamento básico está péssimo, o desemprego aumenta, há filas quilométricas por emprego (vide Folha de São Paulo e outros jornais) e as ruas estão coalhadas de sem teto. Os lixões estão a cada dia mais populares para obtenção de alguma comida e renda.
Os “erros” da era petista, que para alguns destruiu o maravilhoso sistema de ensino e a saúde pública no país e criou uma era de enorme corrupção, algo que jamais houve nesta nossa Dinamarca, estão finalmente sendo corrigidos. Dilma tentou agradar o mercado com a nomeação de Levy para o controle da economia, mas tentou tirar sua liberdade de impor austeridade ao país enlouquecido, sendo bloqueada, pois precisavam de alguém mais confiável para fazer o serviço sujo.
Afinal, que loucura foi esta de gastar com bolsa-família, bolsa-isto e aquilo, Minha Casa Minha Vida etc., tirando da miséria milhões de pobres coitados? Quem é pobre é preguiçoso ou burro, e os bem sucedidos não têm obrigação de os sustentar (e o estado perdulário), como dizia a economista Ayn Rand, propondo que Atlas se revolte, parando de carregar peso desnecessário!
Alguns milhares de pessoas, que por habilidade ou sorte conseguiram juntar fortuna e sabem ganhar dinheiro com o suor do rosto dos outros, ficaram cansados e aplicaram o que disse Kissinger sobre países, que “quando não têm juízo para escolher bons governos, precisamos interferir”. Assim, no desespero de eliminar o desperdício de dinheiro “público”, que deveria ser para “quem merece”, fizeram uma campanha bem organizada para estimular milhões de desinformados, que se julgavam participantes da festa, a ir para as ruas bater panelas de camiseta da CBF.
É muito bonito exigir austeridade, quando quem lucra (ou quer lucrar mais) com a festa e o desperdício é uma elite, e quem paga, com teto de gastos (não com juros) e cortes em tudo que é essencial são os pobres. Afinal, cortes na verba de saneamento e do SUS não incomodam os frequentadores do Einstein, não é? Dificilmente um deles vai beber água contaminada ou ter uma pneumonia não tratada a tempo.
Confesso que tenho medo de ler sobre economia, pois além de complexa para leigos, sempre tenho a impressão que o autor está me enrolando e vai acabar provando que dois mais dois são cinco. No entanto, estou gostando muito de ler o ótimo livro “Austeridade: a História de Uma Ideia Perigosa”, de Mark Blyth, que diz que se recomenda apertar o cinto, mas as calças têm tamanhos diferentes, de acordo com a renda. Uns poucos se divertem na festa, e todos pagam o rescaldo, por meio desta absurda austeridade, que nem sequer recupera a atividade econômica.
Foi sendo prometido para nós que a reforma trabalhista, o teto de gastos, os cortes na saúde e educação etc. nos levariam ao paraíso. Somente um otário ou alguém muito “esperto” ainda pode afirmar isto. Quem sabe, a longo prazo, quando todos nós estivermos mortos, isso ocorrerá.
Carlos Brisola Marcondes
Professor do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia (MIP)