Não chores…

(Inspirado em “no llores por mí argentina”, de Andrew Llhoyd Webber)

(“Don”t Cry for me Argentina”)

Prosa Poética Panfletária

(Com citações)

 “Beije devagar e perdoe depressa. /A vida é muito curta para ser pequena. /

Talvez o outro não mereça, /mas você merece ter paz”.

(Márcia Guimarães)

“A poesia não faz nada acontecer: flui para o sul, cruza cidades cruas nas quais cremos e morremos, sobrevive, é um jeito de acontecer. (…) Mesmo o mais horroroso martírio precisa seguir o seu curso”. (…)

(Mário Sérgio Conti)

“Se o afeto igual é impossível, que seja eu o que ama mais”.

(Wystan Hugh Auden – considerado por Joseph Bodsky, a maior inteligência do Século XX)

“Passe fome, trabalhe na clandestinidade, seja anônimo”

(Vladimir Lenin)  

       

“Voz racional se calou. Triste está Eros, criador de cidades, chora a anárquica Afrodite”

(Palavras de W. H. Auden, quando morreu Sigmund Freud )

 

Não, não chores por mim – depois

meus “hermanos”

cidadãos do mundo

carregando Borges, Sábato, Guevara, Evita, Maradona, Messi, Letícia  e tantos outros

Tantos/tangos

Amei o que foi possível na terrena finitude

(“Velho demagogo e panfletário” – a chacota de muitos.)

Sofri/fiz sofrer (“é demais – acho que ele quer ser irônico”).

É da humana lida.

Choramos por ti, Brasil.

Trago tantos outros no peito: Castro Alves, Machado, Villa-Lobos, Graciliano, Drummond, Rosa, Vinícius, Bandeira, João Cabral, Prestes, Sobral Pinto, Jango, Glauber etc.

Tentamos mudar a tua face desigual, cruel, obscena – da escravidão, dos golpes, dos pactos oligárquicos.

(“Adjetivesco, novamente panfletário, lamuriento”.)

Éramos poucos – parecíamos muitos.

Te amei, Brasil, fui obrigado –  em certa época – a te deixar, como tantos.

Hoje: novamente, exílios internos.

Pátria de chuteiras, digital, desigual, de futilidades e celebridades vãs.

Os pactos continuam – irradiam-se pelos podres poderes (“novamente panfletário”).

Brecht queria que os que viessem depois nos olhassem com simpatia.

Como?

Fracassos nos “pactos populares”, na vitória da Igualdade e da Justiça.

(“Está sendo sincero, mas novamente discursivo”.)

Que fazer diante das dissimulações, mentiras, piratas poderosos, saques, elites vorazes?

Desde as Capitanias Hereditárias, desde a Colônia, desde sempre.

Não sei.

Deus faz que me esquece, depois reaparece.

 

(Brasília, julho de 2018)


Emanuel Medeiros Vieira

Escritor