Após enviar para o Boletim da APUFSC meu artigo sobre o povo brasileiro, confesso que fiquei esperando com preocupação uma resposta raivosa de algum colega, considerando a polarização política atualmente existente no Brasil. Fiquei muito feliz por isto não ter ocorrido, por estarem os colegas da ativa ocupados demais com seus afazeres na universidade ou por não terem achado pertinente responder deste modo.
Lembrei-me depois que perto do que os europeus “civilizados” têm feito com seus desfavorecidos e o povo de Mianmar “budista” vem fazendo com uma minoria islâmica, a violência das elites brasileiras é apenas mais uma, mas não deve ser desconsiderada e continuada. Peço perdão pela omissão, assim como espero que Otávio Frias Filho, que ontem atribuiu apenas à redução do PIB a queda de Dilma, esquecendo-se do massacre que ela sofreu, especialmente do deputado Eduardo Cunha assim proceda também.
Estive pensando na diferença entre esquerda e direita, atualmente desconsiderada por muitos, alegando ter ela deixado de existir. Como Umberto Eco recomendou considerar direitista quem afirmar isto, venho expor minha opinião sobre o assunto.
Tendo sido esta classificação originada da localização de dois grupos ideológicos na Assembleia formada após a queda da Bastilha, passou-se a considerar de esquerda os que pretendem que todos sejam protegidos da pobreza e tenham oportunidades iguais para progredir. De direita seriam os que consideram que a concorrência deve ser livre entre as pessoas, não importando se começaram ou não de patamares diferentes, e quem ficar pelo caminho deve ter apenas o consolo da religião e a caridade, sem forçar os vencedores a ajuda-los.
Além disso, os esquerdistas em geral consideram que o Estado deve se responsabilizar pela administração do máximo possível de setores da economia, ou pelo menos controlá-los estritamente, para impedir que sejam usados somente como fonte de lucro para alguns. Os direitistas tendem a considera que intromissões do Estado, mesmo por meio de impostos sobre os que ganham muito, são inconvenientes, e deveria vir a “revolta de Atlas” de Ayn Rand, ou seja, a dos que produzem contra os que não produzem. Que me corrijam os especialistas.
Desconsiderando os esquerdistas que querem “enforcar o último burguês nas tripas do último padre” e os direitistas que, no dizer de Leandro Karnal, “falam aos gritos e babam na gravata”, é preciso avaliar bem o que é melhor para nossa sociedade.
Já que, como disse hoje na Folha o Duvivier, o Brasil não tem sido dominado pelo demônio e a maconha e nem governado pelo Zé Celso e o pessoal do Teatro Oficina, e o que é apresentado como novidade, especialmente pelo Bolsonaro e os bolsominions (e os MBLs da vida) é apenas uma repetição dos erros antigos, é hora de pensarmos bem o que fazer. Novidade, como ele diz, pode ser tatuagem no testículo, mas se se “tem que manter isto aí, viu?”, vai tudo continuar igual e maravilhoso como tem sido neste 500 anos. Ou há alguém sem apartamento em Miami ou Paris que esteja satisfeito? Mesmo quem tem um destes, se tiver consciência (ou seja, vergonha na cara), quer reduzir a pobreza e a injustiça.
Carlos Brisola Marcondes
Professor do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia (MIP)