Um dos fósseis mais completos de hominídeos já achados até hoje foi o de um adolescente, descoberto em 1984 perto do lago Turcana no Quênia. Continha 108 ossos e pertencia a um garoto de um ramo de ancestrais dos humanos, denominado Homo erectus, com cerca de 1,60 metros de altura e idade por volta de dez anos. Pela datação aplicável, deve ter vivido entre 1,5 e 1,6 milhões de anos atrás.
Pelos estudos científicos realizados com esse fóssil, foi possível concluir que o garoto de Turcana estava bem adaptado para corridas de longa distância. Deve ter sido dotado de músculos, ossos e articulações bem apropriados para esta atividade física. De outro lado, a ciência atual comprova que na época em que viveu esse adolescente ocorreu uma grande seca na África com o consequente surgimento das savanas, assemelhadas ao cerrado brasileiro, na região em que ele viveu.
Ainda segundo os dados aceitos pela comunidade científica, o Homo erectus deve ter surgido há cerca de 1,9 milhões de anos atrás. Entre os hominídeos estão, além do gênero Homo, também símios como gorilas e chimpanzés. O antepassado comum entre os hominídeos deve ter sido um quadrúpede bem adaptado a subir nas árvores. Esta habilidade permitia fugir das ameaças dos predadores e conseguir alimentos nas florestas.
Na savana, sem a proteção da floresta, os membros do gênero Homo, como o garoto de Turcana, precisaram melhorar suas habilidades de bípedes. Os estudos realizados com base no mencionado fóssil mostraram que isto de fato ocorreu e os ancestrais dos humanos puderam correr o suficiente para caçar, fugir e sobreviver.
O problema que se coloca é como isto tudo ocorreu. A teoria simplista de que a pressão do ambiente foi suficiente para que músculos, ossos e articulações se modificassem de forma correta, em decorrência de erráticas mutações genéticas aleatórias, ajudadas apenas por correções de seleção natural, me parece logicamente inaceitável. Deve ser salientado que tais alterações no corpo precisam ser devidamente incorporadas aos genes das células germinativas dos dois sexos, junto com os respectivos mecanismos de crescimento e funcionamento, para que possam ser efetivamente repassadas aos seus descendentes.
O guepardo é considerado o animal mais veloz. No entanto, várias presas conseguem fugir deste animal porque sua temperatura corporal sobe muito com o esforço físico e ele não consegue correr por muito tempo. Os estudos do garoto de Turcana mostraram que ele era também dotado de sistemas apropriados para evitar que sua temperatura subisse muito durante a corrida. Como os humanos atuais, o referido adolescente já devia possuir alguns milhões de glândulas sudoríparas que produzem suor e que servem para regular a temperatura do corpo nas corridas.
O surgimento dessas glândulas e sua vinculação com o sistema sanguíneo também desafiam a teoria simplista da atuação do acaso para criar funcionalidades exigidas por restrições externas. O controle das glândulas sudoríparas pelo hipotálamo e o seu abastecimento com plasma sanguíneo tornam essas teorias logicamente inaceitáveis. A melanina da pele negra também foi importante fator na sobrevivência de ancestrais dos humanos no sol da África e cujo surgimento, pela minha lógica, igualmente não pode ser simplesmente creditado ao acaso de mutações genéticas.
O crescimento do cérebro e do crânio protetor ao longo do tempo ainda permanece um grande mistério a desvendar. Os mamíferos já precisavam de um cérebro capaz de controlar, por exemplo, sua temperatura corporal. Observa-se que o tamanho do cérebro dos primatas, que inclui os hominídeos, é quase o dobro daquele dos demais mamíferos de semelhante tamanho corporal. A maior parte do crescimento do cérebro ocorreu nos últimos dois milhões de anos. Do Homo erectus inicial até o homo sapiens, o cérebro quase dobrou de volume.
Associando o raciocínio lógico à teoria científica da evolução considero indispensável, pelo menos, admitir a existência de um Ente suficientemente inteligente capaz de promover dinamicamente, ao longo do tempo, modificações necessárias no organismo dos integrantes do gênero Homo para assegurar sua sobrevivência na savana africana. Este gênero, que inclui o Homo sapiens, deve ter surgido há cerca de três milhões de anos atrás.
Diferentemente do que ocorre com o acaso, que nada sabe, acredito que a atuação do Ente que denomino “Verdadeiro Autor do Universo e da Vida” seja sempre decorrente, essencialmente, de uma intencionalidade devidamente vinculada a propósitos muito bem estabelecidos. A organicidade e a harmonia sistêmicas, largamente observadas numa natureza terrestre extraordinariamente diversificada, podem servir para comprovar este direcionamento extremamente inteligente e bem objetivado.
Raul Valentim da Silva
Professor aposentado e autor do blog newcreatorism