Eleição de reitor: por uma universidade comprometida

Nossa sociedade teledirigida, como toda a humanidade, está levando a uma etapa de primazia da imagem provocada pelo sistema de comunicação (especialmente TV e Internet) com sua grave consequência de diminuir a capacidade de analises e pensamento do ser humano. A imagem dirige a mirada do conceitual da linguagem para o icônico, se trata de uma involução mental simplificadora de toda realidade, em especial a social, econômica e politica.

De aqui, um mundo manipulado por interesses diversos, não transparentes e destrutivos. Permanentemente estamos condicionados pelo medo, medo da situação econômica, medo do terrorismo, medo de um conflito nuclear etc. O medo é empregado para substituir a verdade e a justiça, pela falta de transparência do uso de recursos públicos que são do povo e é apropriado por minorias, de países ou de pessoas no mundo todo.

Necessitamos assim uma universidade comprometida fundamentalmente com a verdade, a justiça e o desenvolvimento do nosso país.

Com a verdade: onde procurar a verdade. No sistema politico? Não, seu objetivo é o pragmatismo, No sistema de comunicação? Não, está manipulado por interesses econômicos. Nas artes? Não, não é independente do mercado.

Somente pode ser procurada na vida acadêmica. Mas: I) Agora a primeira pergunta é: Pode um Estado suportar o pesquisa da verdade que seja independente do Estado? As políticas de Estado procuram um controle da pesquisa em lugar de garantir sua liberdade. Caso concreto no Brasil, o professor  emérito da USP (Unifesp) e da Escola Paulista de Medicina Eliseo Carlini vem sendo criminalizado em razão de sua pesquisa sobre Cannabis sativa (maconha), na qual é reconhecido internacionalmente. Foi intimado a depor na policia de SP no dia 21/02. II) A comunidade científica, lamentavelmente tem seus “dogmas” como positivismo, darwinismo etc.  que é difícil discutir, ou grupos de poder fechados em departamentos que dominam sem deixar espaço para a liberdade.

Por estes motivos, como a “dignidade” do ser humano se fundamenta na liberdade, até o ponto de aceitar a morte antes de mudar de ideias, assim, igualmente a liberdade da ciência reside nessa liberdade incondicional que possa garantir a pesquisa, com o risco que seus resultados possam chegar a contradizer qualquer verdade política, econômica, social, ou religiosa.

Precisamos lutar por uma pesquisa militante pela verdade

Com a Justiça: No Brasil as desigualdades de riqueza são enormes.  As desigualdades de bens materiais como propriedades, bens financeiros e aplicações em ações e maior que as desigualdades de renda.  O 0,1% mais rico concentra 48% de toda a riqueza nacional, e o 10% dos mais ricos ficam com74%.  (Oxfam Brasil “A distância que nos une. Um retrato das desigualdades Brasileiras 25/09/2017) A Oxfam tomou estes dados de um informe do Banco Credit Suisse “Global Wealth Database 2016”, aqui está ocultado.

Hoje, seis brasileiros possuem a mesma riqueza que a soma do que possui a metade mais pobre da população, mais de 100 milhões de pessoas. Gastando 1 milhão de R$ por dia, juntos levariam 36 anos para esgotar seu patrimônio.

E o 10º país mais desigual do mundo (O Globo 21/03/17) e o 4° de  América Latina, atrás de Guatemala, Honduras e Colômbia (ONU).  28% de sua população moram em favelas inumanas.

Nossa obrigação, não somente intelectual, mas moral, é lutar por um país mais fraterno, mais humano, onde todos, sem exceções, possam participar das riquezas materiais e culturais do país e possam morar em vivendas dignas do ser humano. Precisamos lutar por uma pesquisa militante pela justiça.

Com o desenvolvimento de nosso país: “Não basta, no entanto, como construir uma vigorosa infraestrutura científico-tecnológica para assegurar que um país seja capaz de incorporar a ciência e a técnica a seu processo de desenvolvimento: é essencial transferir a realidade, os resultados da pesquisa, acoplar a infraestrutura cientifico-tecnológica a estrutura produtiva do país”.

Em um artigo anterior “Pensar sobre qual deve ser a orientação da UFSC no futuro” escrevia que as universidades federais têm perdido sua função de ser a “consciência crítica” do país e que era necessário recuperar essa função escolhendo reitores que tenham como objetivos: I) Priorizar pesquisas orientadas a conseguir resultados “concretos” em todas as áreas que nosso país precisa desenvolver: agricultura, novos materiais, química fina (fármacos, aditivos etc), eletrônica, inteligência artificial, robótica etc. II) Exigir do governo apoio econômico e legalmente na formação de triângulos virtuosos governo-indústria-universidade, III) Ensinar a pensar mediante um ensino menos enciclopédico, discutindo somente os princípios fundamentais das disciplinas, com o aluno 24 horas na universidade e 24 horas para meditar, estudar, pensar etc. IV) Orientar a todos: alunos, professores e funcionários que o objetivo é: servir a todo o povo brasileiro e especialmente aos mais necessitados.

Agora, cada candidato deve definir que posição vai observar em seu Reitorado, respeito de estar comprometidos com a verdade, a justiça e o desenvolvimento de nosso país. No entanto, analisando e pensando podemos chegar a uma conclusão clara, aquele que é mais independente de pressões de sociedades, de grupos políticos ou religiosos, de interesses não transparentes. Seu objetivo deve ser o povo brasileiro, um país melhor e mais fraterno.

Por uma universidade comprometida


Rosendo A. Yunes

Prof. aposentado