Confesso que não costumo gastar meu precioso tempo para ler os numerosos artigos do prof. Marcelo Carvalho, por não os achar dignos de atenção.
No entanto, os dois artigos publicados neste último boletim da Apufsc são excessivamente absurdos e eméticos para deixar de merecer comentários.
Ele se põe na defesa do coronel Ustra, chefe do DOI-CODI, local em que numerosas pessoas foram torturadas, por vários anos. Diz que não há provas além de testemunhos das vítimas (sobreviventes). Gostaria de saber se seria aceitável a acusação se elas tivessem filmado suas próprias torturas ou a de outros para apresentar num tribunal.
Mesmo que elas conseguissem este feito impossível, a que tribunal elas poderiam apresentar suas provas, já que tudo era na época permitido aos “interrogadores” e eles se anistiaram em 1979, permitindo também aos sobreviventes não enlouquecidos pelos maus tratos voltarem ao Brasil e à política. Frei Tito, que enlouqueceu e se suicidou ouvindo a voz de Fleury, e Rubens Paiva, que “desapareceu”, não puderam ser “anistiados”.
Mesmo que estes anjos não tenham girado a manivela do choque ou posto presos no pau de arara, não deixam de ser responsáveis, pois eram os chefes de setores onde sistematicamente se torturava. Ou a “teoria do domínio de fato” só vale para o Lula?
A comparação com a matança feita por regimes “comunistas e fascistas”, esquecendo-se convenientemente dos generais argentinos e chilenos “anticomunistas”, é absurda, pois foram períodos muito maiores e situações diferentes. Então, se os que ele defende “por falta de provas” mataram 300, deixamos para lá porque Stalin matou milhões e os argentinos mataram 30 mil?
Aliás, Fleury e Ustra morreram em circunstâncias estranhas, o primeiro numa queda num cais, e o outro num assalto à sua casa num sítio. Conveniente, não? Se eles soubessem que tantos anos depois teriam defensores na própria universidade, teriam se cuidado melhor.
Aceito que a universidade, como o próprio nome diz, deve incluir pessoas com quaisquer opiniões, mas defender torturadores passa de qualquer limite de democracia e tolerância. E se algum colega defendesse Stalin, dizendo que ele não matou o suficiente ou que não há provas de que mandou matar, ele aceitaria?
Carlos Brisola Marcondes
Professor Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia