O corregedor-geral da UFSC, Rodolfo Hickel do Prado, concedeu entrevista ao DC nesta quarta-feira e falou sobre o seu afastamento relâmpago, ao menos no papel, da universidade. Uma portaria assinada pelo então chefe de gabinete Áureo de Moraes, no dia 20, afastava Hickel da corregedoria após uma denúncia de um professor da universidade. Quatro dias depois, a reitora em exercício, Alacoque Erdmann, anulou a decisão. O corregedor explica que não chegou a receber qualquer notificação da decisão de afastamento e afirma que continuou despachando normalmente do seu gabinete nos dias seguintes. Após a anulação, o professor Áureo de Moares entregou o cargo de chefe de gabinete na universidade.
ENTREVISTA: Rodolfo Hickel do Prado, corregedor-geral da UFSC
Em nota, o ex-chefe de gabinete Áureo de Moraes escreve que “pressões externas” levaram a reitora em exercício a anular o seu afastamento. O senhor sabe se houve algum tipo de pressão?
Rodolfo – O que sei é que a reunião foi para explicar a forma de proceder em caso de afastamento ou não de um corregedor. Há uma legislação federal e o estatuto da universidade que devem ser cumpridos. Se há pressão na reitora Alacoque, é do grupo colocado pelo antigo reitor, basta ver postagens em redes sociais.
Qual a sua análise sobre essa reviravolta?
Rodolfo – Quando soube da portaria do afastamento em mensagens de amigos, percebi que o documento estava disponibilizado na íntegra. Ele foi publicado na rede social do Julio Cancellier, irmão do ex-reitor Luiz Carlos Cancellier, às 15h26 da tarde se sexta-feira. Veja bem, mesmo que o Julio soubesse após a publicação no diário oficial, não teria acesso ao documento na íntegra, apenas ao cabeçalho da portaria. Ou seja, ele recebeu diretamente da chefia de gabinete logo após a decisão do Áureo de Moraes. Há um claro conluio entre essas pessoas.
Sobre a comissão criada pela Corregedoria para analisar os médicos do Hospital Universitário envolvidos na operação Onipresença. Qual foi o procedimento de escolha dos nomes e o que aconteceu depois?
Rodolfo – Os três professores indicados tinham experiência em área administrativa, cada um em sua área de conhecimento. No caso do Gerson Rizzatti Junior, ele já tinha presidido outras comissões de procedimento administrativo. Naturalmente ele seria o presidente desta, mas pediu para que não fosse e indicou a professora Mônica Gonzalez. Os três professores escolhidos, incluindo a Evelize Welzel, posteriormente pediram para serem liberados da comissão, isso é algo normal. Aceitei apenas o pedido da professora Evelize, pois ela estava com um familiar doente, que inclusive veio a falecer depois.
Quando protocolou a representação funcional em julho, o professor Gerson Rizzatti Jr cita que o senhor teria ameaçado membros da comissão. Isso ocorreu?
Rodolfo – Não houve qualquer tipo de ameaça, e quem acusa tem que mostrar documentos que comprovem as acusações. O que vejo é um conluio nas ações. Na quinta-feira (19), eu recebi um ofício do chefe de gabinete Áureo de Moraes pedindo cópia de todos os documentos de uma investigação da Secex-SC, que envolvia outros órgãos como Polícia Federal e MPF, para atender um ofício do TCU. O documento dá prazo até o dia seguinte para resposta, que deveria ser encaminha para o e-mail do Áureo, o que me chamou a atenção. Eu dei a resposta via sistema da UFSC, o que ele não fez quando fez o primeiro pedido, e expliquei que não poderíamos passar informações de outros órgãos. Além disso, a investigação não foi aberta pela corregedoria e o processo foi autuado pelo servidor Gilberto Moritz, que tem estreita ligação com o ensino a distância (EaD) e chegou a ser preso temporariamente na operação Ouvidos Moucos. A minha resposta foi encaminha no sistema às 15h04 do dia 20, e às 15h26 o Julio Cancellier publicou na rede social a íntegra da portaria assinada pelo Áureo que pedia o meu afastamento.
Em reuniões recentes do Conselho Universitário (CUn), alguns professores reclamaram que continuavam recebendo vários pedidos de cópias de documentos da Corregedoria sobre o EaD. Como está o andamento do procedimento preliminar de investigação sobre este assunto?
Rodolfo – A Corregedoria ainda está analisando os documentos e buscando mais informações. Não posso falar mais sobre este tema. Espero concluir essa fase inicial de apuração até dezembro.
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Fonte: Diário Catarinense