No dia 16/11/16, quarta-feira por volta das 14 horas, dirigi-me ao CCE para participar de uma banca de avaliação de projeto de pesquisa de uma candidata ao Programa de Pós-Graduação em Linguística, atividade previamente prevista e negociada com os estudantes que “ocuparam” o Centro. Ao acessar ao prédio, a aluna e uma das professoras da banca entraram na minha frente sem nenhuma dificuldade. Ao contrário, eu fui barrado de forma arbitrária e desrespeitosa, sob a alegação de que meu nome não estava na relação fornecida pela coordenação da pós-graduação.
Considerando o direito constitucional de ir e vir (inciso XV do art. 5º), bem como minhas obrigações de servidor público definidas pela Lei 8.112, de 11/12/1990 – Regime Jurídico Único e Decreto 1.171, de 22/06/1994 – Código de Ética do Servidor Público, ignorei a decisão de um “estudante-porteiro” e fui entrando no prédio, que é meu local de trabalho. Conforme se observa parcialmente no vídeo divulgado pelos estudantes nas redes sociais e de forma ampla nas imagens gravadas pelas câmaras de segurança do local, disponíveis na Secretaria de Segurança Institucional, fui contido à força por alguns estudantes, que me agarraram e puxaram escada abaixo e em seguida formaram uma barreira na subida da escada. Aos gritos, diziam que eu não estava autorizado a entrar.
Permaneci no local por cerca de 15 a 20 minutos, tentando dialogar com os estudantes, inclusive com intermediação do Coordenador da Pós-Graduação em Linguística, que confirmou meu compromisso de trabalho no CCE naquele horário. Os estudantes foram irredutíveis em sua decisão de barrar a minha entrada no prédio. Durante todo o tempo em que permaneci no local, gritavam palavras de ordem, chamaram-me de fascista e acusaram-me de agressão a estudantes, desrespeitando minha trajetória docente de mais de 36 anos na UFSC.
A análise dos vídeos mostra claramente que não agredi ninguém, apenas tentei me desvencilhar de quem me agarrou e me puxou escada abaixo. Ao contrário do que afirmam os estudantes, quem sofreu a agressão física e moral fui eu. Mais do que isso: fui humilhado covardemente, apesar de minha idade de 63 anos, o que também caracteriza grave ofensa prevista no Estatuto do Idoso (Lei 10.741, de 2003) e de minha longa e vitoriosa trajetória acadêmica na UFSC, onde ocupo o cargo de Professor Titular. Nas notas divulgadas pelos estudantes, fica claramente evidenciada a manipulação grosseira da interpretação da cena, imputando-me a agressão a estudantes – o que não é verdade – e, ao mesmo tempo, invocando pretenso direito dos manifestantes.
Essas inverdades e falsas acusações foram difundidas pelas redes sociais e imprensa, ensejando julgamentos precipitados, sem direito à ampla defesa e ao contraditório. Felizmente, muitos servidores técnico-administrativos, servidores docentes, estudantes e egressos, além de meus familiares e amigos, que conhecem meu caráter e minha história, não se iludem com essas mentiras construídas para fins difusos e empoderamento de quem não têm argumentos. Mais do que isso, percebem a manipulação grosseira, mal intencionada e criminosa dos fatos.
Para que tudo isso seja devidamente apurado e esclarecido, por meio do processo sindicante, já demandado ao Gabinete do Reitor pela Direção do CCE, decidi solicitar ao Reitor meu afastamento das funções de Pró-Reitor de Graduação. Trata-se de uma decisão pautado em princípios éticos que tem o objetivo de criar as condições necessárias para maior transparência e isenção na apuração e esclarecimento dos fatos. Tenho a convicção de que, ao final, serei inocentado de todas as acusações que fazem.
Não me cabe aqui avaliar os fundamentos que motivam uma parcela dos estudantes a ocuparem alguns prédios da UFSC, inviabilizando o transcurso normal de atividades acadêmicas. Todavia, em situações como as que estão acontecendo na UFSC, assim como nas greves, deve-se questionar a radicalização de posições e a imposição de decisões tomadas por grupos minoritários e, às vezes, raivosos, em detrimento daqueles que têm outras posições, que exercem o livre direito de não aderir aos movimentos de paralisação e de continuar a exercer suas atividades.
Por fim, espero que em todos esses episódios prevaleçam o bom senso e a tranquilidade, para que se possam construir, pelo diálogo e respeito às posições divergentes, alternativas de convivência pacífica e harmoniosa, apesar da instabilidade política e moral por que estamos passando.
Felício Wessling Margotti
Professor Titular da UFSC