Prof. Nilton Branco em seu texto “A liderança que deve ser exercida pela Diretoria da Apufsc” manifesta seu apoio à iniciativa da diretoria em fretar um ônibus para que os associados participem da votação da PEC55 em Brasília.
Prof. Nilton tenta então legitimar a decisão da diretoria analisando a resposta que os associados deram a questão 3 da pesquisa de opinião, algo que segundo o prof. Nilton respalda a decisão da diretoria. Pretendo mostrar que isso não é verdade a menos que façamos um esforço considerável de “desconstrução estatística” que, por sua vez, apontaria para um evidente atestado de desonestidade intelectual, como explicarei a seguir.
Com efeito, a questão 3 da pesquisa de opinião perguntava aos associados:
“Que atitude deve a APUFSC tomar em relação a PEC55?
,10< obtivemos como resultado o seguinte 1, Greve: 24%
Acionar judicialmente: 22.2%
Nenhuma: 30.1%
Outros: 23.2%
Prof. Nilton faz uma interpretação confusa desses dados quando escreve que:
“Apoio a iniciativa da Diretoria em fretar um ônibus para levar colegas a Brasília durante a votação no Senado da PEC 55, esta atitude tem respaldo na pesquisa feita junto aos colegas. Especificamente, a pergunta 3 dá à Diretoria esta permissão, visto que 47,6% dos entrevistados indica apoio à greve ou a outras iniciativas contrárias à PEC. Infelizmente, a opção “Acionar judicialmente” não esclarece a posição dos colegas frente a esta questão (apesar de ser razoável supor que os colegas que a escolheram não sejam favoráveis à PEC). Apenas 30,1% dos que responderam à pesquisa indica que nada seja feito.”
Ora, não é muito difícil entender como o prof. Nilton chegou ao percentual de 47.6% de associados que “apoiam a greve ou outras iniciativas contrárias a PEC”. De fato, é razoável admitir que os 24% a favor da greve também são contra a PEC. Assim, descontando um erro de aritmética de 0.4, vemos que para o prof. Nilton chegar ao índice de 47.6% contrários a PEC ele deve ter contabilizado (24 + 23.2)%= 47.2%. Mas, neste caso, estamos diante do fenômeno da desconstrução estatística de dados, onde somente com um enorme esforço intelectual 2 seríamos levados a pensar a opção “Outros” como sendo equivalente a “outras iniciativas contrárias a PEC”, já que a opção “Outros”, diante da possibilidade de se manifestar explicitamente contra a PEC escolhendo as duas primeiras respostas da pergunta (“Greve” e “Acionar judicialmente”), assume uma posição muito mais de neutralidade (e que não excluiria a priori também um apoio a PEC) do que de oposição a PEC.
Fixemos nossa atenção agora ao que o prof. Nilton escreveu e que destaco a seguir
“Infelizmente, a opção “Acionar judicialmente” não esclarece a posição dos colegas frente a esta questão (apesar de ser razoável supor que os colegas que a escolheram não sejam favoráveis à PEC)”
É igualmente estranho que o prof. Nilton faça tal colocação, pois, sendo o objeto da pergunta a PEC55, é totalmente sem sentido que alguém que seja favorável a PEC possa defender que a APUFSC acione judicialmente o governo por conta da PEC. Neste sentido, entende-se que os que defendem tal opção são de fato contrários a PEC, e o próprio prof. Nilton reconhece isso. Ora, segue-se então que a única estatística segura que o prof. Nilton poderia apresentar embasando um universo de associados contrários a PEC55 seria de (24 + 22.2)%= 46,2%, contra um segmento de (30.1 + 23.2)% = 53.3% que ou não se opõe ou não tem opinião formada e, portanto, são neutros e/ou favoráveis. Ora, aceitando aplicar estes percentuais como expressando a opinião dos associados o fato é que contrariando o que o prof. Nilton coloca não há uma rejeição majoritária a PEC55 que justifique que o sindicato custeia a ida de um certo segmento a Brasília, e tampouco os autorizem a falar em nome do sindicato.
Há um ponto que eu desejo considerar aqui sobre a leitura equivocada que o prof. Nilton fez do resultado da pesquisa. Não acredito que ele tenha deliberadamente deturpado os dados da pesquisa para criar artificialmente um efeito psicológico de oposição a PEC ao contabilizar como contrário a PEC os 23.2% da categoria “Outros” (que como assinalei indica muito mais uma opção de neutralidade do que de oposição a PEC) , ao mesmo tempo deixando de considerar como contrário a PEC os 22.2% favoráveis a uma ação judicial, percentual que ele mesmo admite como provavelmente contrários a PEC55. Seria intelectualmente desonesto fazer isso, não tanto pelo engano de pensar “Outros” como sendo contrário a PEC, mas sim por deliberadamente ter deixado de fora os óbvios 22.2% contrários a PEC, e, assim, de não ter apresentado o que seria uma estatística robusta de (24 + 22.2 + 23.2)%= 69.4% contrários a PEC, já que retirar os óbvios 22.2% é a manobra que criaria este efeito psicológico importante na desconstrução do dado. Acredito, assim, que foi um engano infeliz da parte dele, um mero descuido de interpretação e não algo deliberado de quem tenta desonestamente “descontruir” dados.
Exposto isso, finalizo observando que em relação aos associados é uma “decisão meramente política” da diretoria atender o desejo de alguns que solicitaram o custeio da sua ida a Brasília. De modo algum as razões alegadas pelo prof. Nilton, baseadas na pesquisa de opinião, legitimam tal decisão.
Notas
1 Provavelmente, há um erro “experimental” de 0.5% na pesquisa.
2 E, aqui, tal esforço intelectual lembra as suposições fantásticas de um personagem célebre de um programa absurdo chamado “Alienígenas do Espaço”.
Marcelo Carvalho
Professor do Departamento de Matemática