Submeto aqui neste Boletim um texto de uma estudante da UFSC e divulgado no grupo UFSC alertando para a situação de violência e constrangimento que vem ocorrendo na UFSC e UDESC e que requer a atenção da administração central e do Ministério Público para que se garanta a segurança e a liberdade de expressão na universidade. Julgo esse relato pertinente para que nós docentes também denunciemos quaisquer atos ilícitos ou coercitivos que venham a nos constranger no nosso trabalho aqui na UFSC. Repudio e lamento a omissão, o silêncio e a incapacidade do magnífico reitor da UFSC em dar uma satisfação à comunidade acadêmica sobre a difícil situação em que se encontra a universidade. A seguir, o relato da estudante da UFSC.
Na terça-feira, por volta de 20h, uma amiga mandou mensagens em um grupo do whatsapp no qual eu participo dizendo que estava com medo de apanhar pois estava sendo ameaçada na universidade. Segundo ela, foram três caras e uma guria na porta da sala dela intimidá-la e ameaçá-la. Um dos caras disse para ela “uma hora você vai sair da UDESC”, sim UM CARA, marmanjo, barbado, acompanhado de outros dois caras e mais uma guria ameaçando uma garota sozinha. As mensagens dela no grupo foram ficando com um leve tom de desespero do tipo “antes eram 4, agora já tem uns 10 lá fora”. Eu liguei para um amigo e expliquei a situação e pedi que ele fosse comigo buscá-la. Chegando lá, eu perguntei a alguns alunos que estavam no térreo onde ficava a sala do respectivo curso, eles me orientaram e eu subi as escadas. Chegando no corredor do ocorrido, já ficou bem claro onde era a sala dela pois haviam ali umas 10/15 pessoas sentadas no chão e cercando o corredor onde ela iria passar se quisesse ir embora. Passei por eles, cheguei à sala dela e a chamei. Junto a ela estava uma aluna (parece que de outra turma) que nos contou que as garotas que estavam sentadas lá falavam “se for lá fora não vai dar em nada” (se referindo as agressões, uma vez que eles seriam expulsos se agredissem ela ali dentro). Então, saímos da sala dela e eu a acompanhei pelo corredor onde estavam “os estudantes lutando por educação” que começaram a nos seguir e falavam “só queríamos conversar com ela”. Continuamos andando e aí começaram os resmungos in “comune language”: “facista” “não passarão”, etc., e assim acompanharam a gente até quase na saída, nos seguindo e gritando palavras de ordem.
Lá fora, já no carro, uma mulher que parecia ser diretora ou coordenadora disse para aguardarmos que o pró-reitor queria conversar com a Duda. Ele falou com ela por alguns minutos e disse que ia tentar resolver. Mas, qual o motivo das ameaças e o cerceamento da minha amiga dentro da sala? O fato de ter ido à coordenação pedir para que fizessem algo em relação ao barulho que estava alto e atrapalhando a aula. Por consequência disso, ela terá que continuar a faculdade na modalidade à distância, pois aparentemente a universidade não tem como garantir a integridade física dela.
Um dia antes, outro amigo meu foi agredido fisicamente na UFSC, cercado por algumas pessoas que o jogaram no chão e tentaram quebrar a câmera dele enquanto o agrediam verbal e fisicamente (tem vídeo rolando aqui pelo grupo). Motivo: ele estava fotografando os manifestantes que estavam no CTC, após os mesmos entrarem fazendo barulho em um bloco da mecânica onde os alunos estavam em aula e até mesmo em prova. Alguns dos que agrediram ele na UFSC também estavam na ocupação da UDESC. Pergunto-me se esse pessoal tem algum vínculo com uma das duas universidades ou se são apenas “volume” dos movimentos esquerdistas.
Na quarta-feira, uma amiga que faz um curso no CFH me relatou que recebeu ameaças de agressão física onde falaram “eu sou de boa, mas tem gente que não teria o pudor de te sentar a mão na cara”, tendo recebido inclusive um convite para mudar de curso/centro porque ela não tinha cara de “humanas”. No decorrer dos dias, recebeu mensagens autoritárias de algumas pessoas que diziam que ela deveria sair do grupo da UFSC (querem mandar até nos grupos que as pessoas frequentam), que deveria rever suas opiniões etc. A intimidação foi suficiente para que ela não comparecesse na assembleia que votaria pela ocupação do centro.
Ontem li um relato de um policial que atendeu uma ocorrência de tentativa de homicídio de um estudante na UFSC, ele compareceu a delegacia com vários ferimentos na cabeça e marcas de agressão física, relatando que foi agredido por ser contrário a um movimento de estudantes.
Ameaças, agressões, intimidação, cerceamento do direito de ir e vir, impedimento do direito de ter aula. Terá que acontecer algo mais grave na universidade para que a reitoria tome as devidas providências? Eu espero realmente que não.
PS: Protestar contra o Temer é um direito seu, ter aulas, ter a liberdade de ir e vir sem ser intimidado ou ameaçado é um direito dos demais alunosd+ seu direito de protestar sobre o que quer que seja não pode se sobrepor ao direito dos demais.
Marcelo Carvalho
Professor do Departamento de Matemática