Temos perdido nossa identidade

Muitos são os autores que tem definido de formas diferentes a sociedade moderna: sociedade líquida (Bauman,), sociedade da transparência (Vattimo), sociedade do resgo (Beck) , etc. mas acredito que, tal vez, uma palavra unificaria grande parte de estas: sociedade sem identidade. 

Esse é um problema psicológico e social ao mesmo tempo.  Qualquer um de nós pode identificar-se como brasileiro.  Mas, isso não define sua identidade pessoal, seguramente não, pode definir alguma caraterística, mas não a qualidade real dessa pessoa. Esse é um problema fundamental de nossas vidas como pessoas e como sociedade.  

A pessoa que se identificou como brasileira é algo do que essa pessoa desejava, no entanto podemos observar que devemos reformular o problema de uma forma simples: Que deseja essa pessoa ser?  Isso significa que e como essa pessoa quer ser. Essa pergunta nos leva a uma individualidade qualitativa, única, que está definida como uma dinâmica que vai para o futuro, se refere ao futuro, não ao presente nem ao passado.

Como se manifesta esse querer ser? Pela ação. São ações voluntárias que com o tempo formam uma disposição para atuar orientados por algum conceito ou valor. Um cantor com a ação de cantar, com os arranjos de sua voz, com sua vontade consegue uma disposição, uma capacidade para o canto. Mas o homem não vive sozinho. Vive nua família, a família numa sociedade, a sociedade numa cidade ou município, e esses numa nação.

O homem está orientado para o futuro, o que não ocorre com os animais, que, por esse motivo, não tem o problema da identidade. Todo homem procura sua felicidade e para isso precisa de sua liberdade e da sociedade na qual vive.  E aqui entra a forma de identificação pessoal. Uma que é puramente individual e egoísta, indiferente aos outros e outra ética, na qual nós identificamos com os outros.

Esse fato resulta da antropologia humana. Temos dois egos: um ego que denominei reptílico, fundamentado nos puros instintos de conservação e reprodução, que é egoísta, violento, não pessoal, dominador, hedonista, e outro ego mais profundo que é o espiritual, o ego da ciência, do amor, da solidariedade, das artes etc. (R.A. Yunes “The Real Sate Strange Loop: Evolution and the Uniqueness of the Human Mind. Psychological Implications” Syntropy 2013 (1) 42-59).

O neoliberalismo que predomina em nossas sociedades, pelo enorme poder de seus meios de comunicação massiva: TV, rádios, jornais etc., guiado por um materialismo ingênuo, tem estimulado o ego reptílico na procura do prazer imediato: dinheiro, fama, comodidade, etc. Este prazer não pode ser interpretado na dimensão do futuro, é puro presente.  A vida desse homem desaparece numa série de momentos de prazer sem sentido. Uma pessoa assim se parece com os produtos light de nossos dias. Café descafeinado, cerveja sem álcool, etc. é uma pessoa sem conteúdo, sem princípios, sem objetivos espirituais, entregue ao poder, ao dinheiro, a fama, ao gozo etc. um homem sem identidade.

Desta forma o neoliberalismo tem conseguido um Brasil sem identidade, light, conduzido por dirigentes light, títeres de interesses escuros, de interesses puramente egoístas de grupos ou máfias, de interesses estrangeiros, etc. O Brasil atualmente é um país sem objetivos próprios, autônomos, incluso, o sonho de um Brasil potência foi sepultado ao deixar de investir em ciência e tecnologia nacionais, em educação, em artes, em uma “economia soberana”, que deveriam orientar um futuro onde todo brasileiro poderia participar sem morar em favelas inumanas, sem depender de nenhum político, porque todo brasileiro seria uma pessoa que sabe pensar livremente, em base a princípios éticos orientados para o BEM Comum.

A universidade, como parte desse Brasil, nunca chegou a ser: a consciência crítica do país, porque não foi orientada pelo futuro, mas pelo presente, pelo poder, pela fama etc.  A famosa PEC 241 devia ser objeto de uma manifestação, não de alguns professores da Apufsc, mas dos Reitores das universidades, assessorados pelos seus departamentos de economia. Isso não ocorre porque os professores não estão interessados no bem comum, não se identificam com a pátria, por não ter uma verdadeira identidade pessoal, não se identificam com o povo que sofre, que vive ainda em favelas, que são explorados por grandes empresas agrícolas, de minerais etc. enquanto o governo não protege suas industrias porque segundo o neoliberalismo globalizador deve dedicar-se somente a agricultura e gado. 

Algumas perguntas importantes: Como não temos ainda um pensamento econômico próprio para o Brasil contando com mais de mil professores de economia? Podemos dar trabalho para 200 milhões de pessoas somente com agricultura e gado? A PEC 241 não compromete o futuro do desenvolvimento autônomo, soberano do país? Pergunto isto porque escuto dos jornalistas da rede Cultura de TV falando que dão risos sobre o problema da “soberania”, no caso do petróleo. Acaso os economistas da UFSC pensam como os neoliberais que a economia apresenta leis como a física ou a química? Que pais futuro, desejam?

Não é o momento de a Apufsc assumir sua identidade de sindicato e exigir que a UFSC defina sua identidade como universidade: “consciência crítica do país”, engajada na sociedade, na pátria e por isto no futuro do Brasil como país autônomo, livre e soberano?

 


Rosendo A. Yunes

Professor aposentado