O senhor de todas as ações e todas as verdades

Há no gênero humano, uma tendência a observar fatos/acontecimentos se quer ver, mas em alguns casos, a distorção pode dar-se por equívoco, excesso de ego inflado, onde só sua verdade conta e até mesmo má-féd+ e, em alguns casos, estes fatores podem estar aliados.

Fica a critério de o leitor fazer o devido enquadramento, mas me permito à análise do documento intitulado “Minhas Surpreendentes Surpresas”, que foi publicado no site da entidade no dia 27 de setembro de 2016.

Inicialmente aborda a vinculação de sindicatos a partidos e que este foi um tema criticado em recente encontro promovido pela Apufsc-Sindical, alegando que estas preocupações fossem esquecidas. A partir daí o autor elenca suas surpresas que irei comentá-las brevemente.

Quanto à realização da reunião política com o deputado federal Pedro Uczai, em que cita diversos professores que assistiram a apresentação do deputado, num tom de denúncia e acusação, o que muito se assemelha a um patrulhamento ideológico típico dos regimes ditatoriais.

Cabe salientar que a palestra foi aberta, pública e se deu na própria sede da Apufsc, e imagino com anuência da diretoria, pois ali nada foi secreto, ao contrário a reunião era aberta e participaram inclusive professores que não foram convidados, mas que circulam cotidianamente pelo sindicato. Além do patrulhamento, o tom é em forma de denúncia como uma verdadeira delação típica dos momentos mais negros que passou o Brasil com o odioso SNI e as Assessorias de Segurança e Informações (ASI) nas universidades e de cujos relatórios resultou a minha prisão em 13 de agosto de 1982.

Cabe lembrar que Pedro Uczai, além de deputado é professor universitário. Deve ser, de fato, um grande crime assistir um professor universitário que é deputado federal falar para seus pares. Acaba de ser instaurado o Comando de Caça aos Professores.

Em sua missiva, continua a atirar, agora contra um dos ícones de nossa Universidade, professor Raul Valentim da Silva, pois o mesmo se apresenta como candidato na diretoria do sindicato, sendo presidente de uma Fundação de Apoio à Universidade, embora aposentado. Ora não há nada que impeça no estatuto da Apufsc a acumulação de tal cargo, e caso houvesse caberia à Comissão Eleitoral ou mesmo à chapa adversária (que se confunde com a atual diretoria) fazer a denúncia e a devida impugnação da chapa. Mas, o Ex-Presidente da Apufsc que assina o artigo, se posiciona acima do estatuto da Apufsc, da atual diretoria e da própria lei, emanando normas de seu próprio alvitre como se fosse o senhor de todas as ações e detentor da verdade único sobre o justo, o moral e o desejável.

Continua com sua denúncia, agora contra o professor Joao de Deus Medeiros, em função de este ter enviado um manifesto em favor de um dos candidatos à prefeitura de Florianópolis e 3º colocado, segundo os resultados divulgados. Aqui sua verve autoritária ferve, pois além de delator das atividades (talvez subversivas em sua mente brilhante), agora se arvora na tarefa de censor, estabelecendo o que cada professor deve ou não divulgar. Só faltava esta: a volta da censura! Em tempo: somos favoráveis que cada um diga o que quiser e apoie o que bem entender desde que seja identificado e não por meio do anonimato.

Quanto à homologação da chapa, citando meu nome, este SENHOR DE TODAS AS AÇÕES E TODAS AS VERDADES, também se coloca acima da Comissão Eleitoral e a ele todos devem reverência. Amém! Confunde o autor independência ideológica e partidária de um sindicato com a liberdade de escolha e associação com quem estiver de acordo com os valores que este professa.

Que mente mais tendenciosa, ou seria apenas má-fé? Talvez coubesse uma visita a um clássico da literatura política, o Leviatã, de Thomas Hobbes, quando este afirma “o soberano tem poder absoluto ou não é soberano”.  Este senhor, Ex-Presidente da entidade continua se achando dono de todas as ações e que pode fazer os que o cercam de marionetes.

Finalizo com outro clássico da literatura política, Etienne de la Boitie, que em seu discurso da servidão voluntária afirma: “é desprezível que existam pessoas que tudo queiram dominar e submeter os demais aos seus desejos, mas é incompreensível que outros o aceitem de forma submissa”. Pois, é o comportamento do submisso que dá o poder ao tirano!

Esperamos ter em breve o fim destes senhores que se julgam acima da lei e com poder absoluto, bem como suas marionetes que levam a ruina as entidades que ocupam.

 


José Francisco Fletes

Professor do Departamento de Informática e Estatística