Sempre esperançoso de novos ares na política, neste caso sindical, fui ao Seminário de quinta-feira passada promovido pela Apufsc. Disse para mim: “Esta situação extrema em que um grupo se monta no poder do país com uma proposta política e econômica que o povo não votou deve ser o suficiente para ver reagirem os sindicatos da classe dos professores”. Não foi bem assim, o que encontramos no sítio da Apufsc foi: “A principal conclusão do encontro é de que, apesar das diferenças, as entidades sindicais que representam os professores das Instituições Federais de Ensino (IFES) precisam discutir temas que afetam diretamente a categoria, como o fortalecimento da frente em defesa da educação pública, criando comitês regionais, além de caminhar junto com outros setores da sociedade civil na defesa dos direitos dos trabalhadores, principalmente com relação a previdência social, projetos de terceirização e privatizações”. Mas a realidade é bem diferente.
Vou fazer um relato sucinto da “minha” avaliação do Seminário promovido pela Apufsc.
De manhã houve una palestra que até às 11 horas, horário em que tive que me ausentar, apresentava um retrospecto do sindicalismo desde seus primórdios, sua importância como movimento político no retorno à democracia até o desaparecimento como tal nos 12 anos de PT no governo, com a alegação de que nessa era sempre houve uma mesa de negociação aberta. Depois foram tecidos alguns comentário políticos sobre o passado recente, sem muita novidade. Sobre o futuro do sindicalismo, não ouvi nada.
De tarde houve apresentações de Andes, Proifes, MDIA e Apufsc, nessa ordem.
O Andes falou da sua história e estrutura organizacional e da desestruturação da carreira docente. Também apontou que os professores são e devem se sentir trabalhadores e relacionou as lutas de todos os trabalhadores.
O Proifes falou da sua história, fez críticas ao Andes, apontou que assinou todos os acordos com o governo desde sua criação e que ajudou a estruturar a carreira docente.
O Mdia falou da sua história e de algumas ações, como o fomento à criação de uma frente parlamentar em defesa do ensino público. Fez críticas ao Andes e ao Proifes.
A Apufsc mostrou que não está conseguindo uma atuação em nível nacional e que pretende consultar os professores sobre uma possível adesão a um representante sindical com interlocução em nível nacional (quero ver como é que isso vai ser encaminhado, eu como representante no CR não sei).
Depois houve falas de defensores das facções, com repetidos ataques, e uns poucos, em parte das suas intervenções, falaram em unidade das diversas representações sindicais em torno de pautas comuns, sem apresentar uma proposta de como fazer essa unidade.
Sobre o cenário nacional, se é que podemos identificar algum com a desmobilização que atinge a classe, tenho minha avaliação sobre as alternativas, decorrente do que ouvi no Seminário e do que conheço do sindicalismo da classe dos professores.
O Andes é o mesmo do século passado, com a mesma proposta, a mesma estrutura, os mesmos métodos. Tem uma presença muito extensa no território nacional, é combativo quando quer e muito articulado. Até onde eu consigo avaliar, não aceitaria convidar um sindicato independente para sentar a uma mesa de negociação com o governo. Ou é do jeito dele ou não tem jeito. Deixou bem claro na apresentação que não é uma federação. Está ligado ao CONLUTAS.
O Proifes, não dá para saber o que é, parece a luz (onda – partícula), há um sindicato nacional e também uma federação, ambos com o mesmo nome Proifes?! Têm dirigentes diferentes. A gestação do Proifes deu-se dentro da CUT, à qual está ligado. Tem pouca presença no território nacional. Estava muito próximo do governo que foi posto para fora, e isso lhe dava “projeção”, pois “negociava” bem com o governo. Agora estimo que não vai “negociar ” com os que se montaram no poder, por razões óbvias. Se consegue “negociar”, vamos ter que ver o que está escondido atrás das vírgulas, a meu ver. O governo que saiu tinha origem sindical e soube em 12 anos desmontar o que restava dos sindicatos de classe, também a meu ver, e nos “ofereceu” este “sindicato”. O Proifes não existia na era FHC, é de 2004d+ portanto, só foi “sindicato” na era PT. O Rolim é a cabeça desde a fundação.
O Mdia tem pouca penetração nacional, pois foi criado da forma errada. A ideia é certa, avalio, uma verdadeira federação de sindicatos independentes que trabalham independentes em questões locais e coligados em questões nacionais. Sem comando central. O problema é que a estrutura funciona se os sindicatos locais são fortes e os sindicatos locais são fortes se têm bases (participação dos sindicalizados) fortes. Isso porque os problemas se resolvem de duas maneiras: sendo amigo de quem está no poder ou mostrando que tem um grupo grande de pessoas que vão se incomodar se o problema não for resolvido.
A partir da última frase, podemos ver como resolver nossos problemas de classe. Uma forma é aceitando uma estrutura predeterminada com capacidade de combate. A segunda forma é juntando-se a um sindicato pelego e esperando que o escorpião não te ferroe antes de chegar a outra margem. A terceira forma é fortalecendo os sindicatos locais com a participação maciça para mostrar que, se não formos ouvidos, o caldo vai engrossar.
Nesta última alternativa, de que eu gosto mais, o papel da Diretoria e do CR da Apufsc é crucial. As coisas não se organizam espontaneamente, e todas, isso, todas as diretorias que tivemos fizeram o impossível para que o Movimento Docente (MD) fosse fraco, desde o século passado. Eu comprovei isso pessoalmente com três ações em prol da participação, em épocas e presidentes diferentes, que foram “engavetadas”.
Finalmente, não há unidade no MD, entre outras razões, porque 50% dos professores são novos e não sindicalizados. Para mim, não falta unidade, falta MD.
Ah, sim, ia esquecendo, nenhum dos sindicatos fez autocrítica.
Bom… na verdade, não é bom, é ruim, a meu ver. Não existe um real interesse dos sindicatos em se unirem para defender uma pauta comum, por mínima que seja, cada um está aí para defender seu espaço de poder e os professores que se f… Enfim, avalio que estamos no mato sem cachorro.
Temos que torcer para que os que se montaram no governo não façam muitas “maldades” (mirando o pleito de 2018), senão estamos fritos.
Em breve teremos eleições para a Diretoria da Apufsc, veremos o que de concreto as chapas apresentam, principalmente no quesito ativação do Movimento Docente.
A realidade tem muitas interpretações. Esta é a minha.
Nestor Roqueiro
Professor do Departamento de Automação e Sistemas
“daí é que não sai nada”, Barão de Itararé