Depois de ler o artigo de Ladislau Dowbor (http://outraspalavras.net/capa/dowbor-como-as-corporacoes-cercam-a-democracia/), estou me sentindo como uma formiga. Não faço parte de nenhum grupo que tenha lobby para influenciar o congresso e o governo. Não faço parte do pequeno grupo financeiro que se beneficia sempre, nas épocas das vacas gordas e, principalmente, na época das vacas magras. Mas o que mais me faz sentir como formiga é a minha incapacidade de participar do processo decisório sobre a alocação de recursos, principalmente de recursos na Educação, algo que está sendo decidido por uns poucos(http://www.redebrasilatual.com.br/blogs/blog-na-rede/2016/06/limite-de-gastos-de-temer-vai-destruir-a-educacao-e-a-saude-do-brasil-1886.html). Individualmente, a minha capacidade de influenciar qualquer decisão é quase zero. Mas tinha a esperança de que, através do sindicato ao qual estou filiado e do qual participo, pudesse influenciar as políticas públicas de educação, algo que vislumbro cada vez mais distante em um sindicato em que a carta sindical serve de adorno em uma parede qualquer de um salão de reuniões. Como diz o autor do artigo supracitado, “A construção de processos democráticos de controle e alocação de recursos constitui hoje um desafio central”, mas o nosso sindicato não quer participar. Esse olha para cima procurando uma cadeira para sentar à mesa de negociação, mas “esquece” que sua força verdadeira vem da base que empurra, e não da mão com luva que puxa desde as sombras. A democracia se tornou uma caricatura, uma simples instância para legitimar decisões já tomadas. O Conselho de Representantes não representa praticamente ninguém, a não ser os próprios membros, e não tem uma agenda a seguir, vai ao sabor do vento, sem rumo.
Mas nesses tempos algo me incomoda mais, muito mais, e é o sepulcral silêncio sobre o reajuste salarial pactuado e não cumprido ainda pelo governo. Se um sindicato, que é uma corporação de trabalhadores de dado setor, não se interessa por lutar pelo salário dos seus filiados, não pode se chamar de sindicato. Se o acordo salarial não for cumprido pelo patrão, é imperativo que o sindicato tome todas as medidas necessárias, inclusive as mais extremas como a da GREVE, se for preciso. O que o sindicato não pode fazer é ficar calado e consentir que um acordo de reposição salarial, que sequer repõe inflação, seja rasgado para preservar os ganhos dos que possuem lobbies ou daqueles que nem disso precisam para garantir seus lucros.
Nestor Roqueiro
Professor do Departamento de Automação e Sistemas