Prof. Carlos Montez e a tentação do anti-academicismo

Prof. Carlos Montez, provavelmente inconformado com algum texto de minha autoria onde cito a obra “A Verdade Sufocada: a História que a esquerda não quer que o Brasil conheça”, do Coronel Carlos Brilhante Ustra, escreve o seguinte comentário

“Honestamente, sinto vergonha dos boletins da APUFSC pelos artigos de opinião fascistas publicados mensalmente por alguns professores da UFSC. O que esperar de um professor que exalta o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra em artigo ???” (*)

Aproveito este comentário do prof. Montez para alertar para um latente anti-academicismo presente em (*) que muitas vezes se manifesta de forma mais ampla na universidade, um espaço onde isso nem deveria existir e, por isso, julgo relevante cortar o mal pela raiz.

Com efeito, talvez inconsciente disso, é óbvio que o comentário feito pelo prof. Montez exala anti-academicismo, pois se entendemos que ele escreveu (*) não para militantes, mas em um jornal de um sindicato de professores, então, admitindo ser plausível o argumento do prof. Montez, ele dá a entender ser possível

rejeitar uma obra pela crítica feita ao autor e não a obra em si. (**)

Imaginemos que tal critério fosse aplicado na área de “ciências” humanas. Neste caso, todos daquela área estariam proibidos de ler qualquer livro do genocida Lenin, pelo simples fato de Lenin ter assassinado milhões de seus cidadãos. Ironicamente, algo mais chama atenção no comentário do prof. Montez que é a crítica acertada e implícita que ele faz ao fascismo, junto com sua incapacidade de ver que são exatamente comunistas e fascistas que exercendo sua índole autoritária estão mais propensos a adotar o critério exposto em (**) para rejeitar uma obra pela crítica do autor e não da obra.

Acredito que o prof. Montez não fez seu comentário movido por um anti-academicismo, tampouco por ter uma índole autoritária, logo a conclusão que resta é que o argumento posto no comentário (*) do prof. Montez não é plausível, ou que ele pensava estar escrevendo para militantes e não para professores. Em qualquer dos dois casos, concluímos então que não se deve prestar muita atenção ao que ele escreve no Boletim dos Professores. E, paro por aqui, pois não vale a pena polemizar demais com discursos de natureza panfletária como o que foi feito em (*).

 


Marcelo Carvalho

Professor do Departamento de Matemática