Duas notícias ocorridas esta semana apontam para uma nova tendência que põe em xeque o mito da luta de classes. Explico. Para o dogmático marxista a luta de classes se coloca como sendo uma lei natural, algo parecido com o fato óbvio de que um corpo submetido à ação da gravidade tem a tendência de cair em direção a Terra. Neste sentido, basta “largar” o corpo que a “lei natural da atração gravitacional” determinará a “queda” do corpo em direção a Terra. Embora possa não estar consciente disso, o dogmático marxista pensa de forma análoga acreditando que pela propaganda e subversão (o equivalente a largar o corpo) pode levar as massas a dinâmica inexorável da luta de classes (que seria o equivalente a queda do corpo em direção a Terra). Neste sentido, o dogmático marxista toma para si como lei natural que
“cabe as massas desempenhar seu destino histórico na confrontação com seus opressores e, assim, o marxista põe-se na posição daquele que deve “largar” (ou melhor, subverter) as massas para a sua realização na História.” (*)
Mas, será mesmo que tal analogia do papel desempenhado por um e outro é mesmo real?
Ora, os dois eventos citados no início do texto referem-se a ocupações de escolas, uma no Rio de Janeiro [1] e outra em São Paulo [2], que foram desocupadas esta semana por ação de outros alunos que estavam insatisfeitos com a ocupação. É este o fato que aponta para uma implosão da luta de classes que, por sua vez, invalida a percepção do dogmático marxista. Com efeito, vemos que a ocupação pura e simples não deixa de ser uma herança de um modo de pensar bastante recorrente em lideranças estudantis doutrinadas no marxismo, e a frequência com que vemos ocupações e todo tipo de ações arbitrárias de grupos de estudantes, tanto em escolas quanto em universidades, mostram o quão contaminado pelo marxismo está o espaço acadêmico. Assim, a derrubada do mito da luta de classes surge quando um grupo majoritário de estudantes espontaneamente se reúne e resolve confrontar os invasores expulsando-os e liberando a escola, já que todos ali são estudantes e compartilham da mesma situação. Este dado é importante para compreendermos devidamente o evento, pois os grupos antagônicos se formaram dentro do mesmo segmento do corpo estudantil. A contradição da lei natural enunciada em (*) pela verificação da incompatibilidade entre causa e efeito é um fato experimental evidente, já que um grupo majoritário de estudantes (submetido à mesma ação doutrinária subversiva) agiu de forma contrária ao grupo que invadiu a escola.
Dirá o dogmático marxista que a atitude dos que liberaram a escola é reacionária e isso indicaria o quão necessário deve ser a ação do doutrinador a fim de levar mais estudantes a entenderem qual é o seu papel histórico. Mas, é aí que reside o erro de todo marxista, sendo isso o que justifica o fato de eu ter escrito várias vezes neste texto “dogmático marxista” em vez de “marxista dogmático” [3]. De fato, podemos estratificar vários tipos de dogmatismos, há o dogmatismo religioso, o dogmatismo científico, o dogmatismo marxista etc. Em comum, o fato de que em todos esses dogmatismos há princípios que são postos de forma inquestionável para o indivíduo. Assim, um crente ou religioso aceita como verdade aquilo que a fé lhe indica como revelado pela sua fonte primária, quer seja ela dada na forma escrita e/ou por tradição oral. Exceto se não desejar ser tido como extremista, tal crente ou religioso afirma sua fé meramente para si, sem impor a outros suas convicções. Um cientista ou indivíduo de espírito mais cético (pelo menos em relação a fatos não imediatamente observáveis) aceita como verdade aquilo que a experiência indica como sendo um fato experimental. Já um dogmático marxista aceita como verdade algo que ele jura ser científico sem, contudo, dar qualquer comprovação experimental. Em linhas gerais, o marxista assume (*) como uma lei inquestionável, e suas ações quase sempre indicam isso, contudo, relutam a invalidar sua crença quando confrontado com uma negativa experimental, como no caso da desocupação das escolas por estudantes. Ora, a luta de classes, se realmente existe como algo inexorável, se daria entre os estudantes oprimidos e um opressor, nunca entre grupos antagônicos de estudantes que, no entanto, estariam submetidos à mesma opressão. Temos aqui uma verificação experimental da falsidade de (*) como lei natural. Assim, a insistência do dogmático marxista em afirmar algo que é falso, acreditando ser científico, não o torna igual a alguém que assume sua verdade como algo afirmado para si com base na fé, pois o dogmático marxista ao advogar o direito irrevogável de conduzir e organizar as massas usurpa seu dogmatismo para além de si mesmo tornando-se um extremista.
Os dois fatos ocorridos nas escolas do RJ e SP servem de novo paradigma aos jovens estudantes para que percebam a falsidade do dogmatismo marxista e saibam implodir a luta de classes, cada um ao seu modo e com o recurso que julgarem necessário.
Marcelo Carvalho
Professor do Departamento de Matemática
[1] “Estudantes entram em confronto por desocupação de escola na Penha”
[2] Alunos contrários à ocupação retiram colegas e retomam Etec de SP
[3] A necessidade de tal diferenciação é óbvia, já que ao dizer “marxista dogmático” surgiria a possibilidade de existir a antítese ou até mesmo outras variações, por exemplo, “marxista democrático” etc., o que por si só seria um absurdo. O marxista na afirmação de suas crenças e na sua forma de agir é um tipo degenerado entre aquele que afirma a verdade com base na fé e aquele que afirma a verdade como fato experimentalmente verificado.