Crise no Brasil: responsabilidade das universidades

A desordem estabelecida: No Brasil segundo a CEPAL a miséria chega a 6% da população (sobrevivem com 1US$ por dia). As desigualdades, a pesar de que os ingressos dos pobres  tenham crescido ultimamente, continuam de forma alarmante: 46% da renta nacional está nas mãos de 5 mil famílias. As últimas investigações das empreiteiras mostram uma corrupção endêmica, em todos os tempos, onde uma grande quantidade de políticos e empresários, a maioria formados nas universidades, estão comprometidos.

A universidade como consciência critica da nação: O conhecido filósofo espanhol Ortega e Gasset, escrevia em 1930 que a cultura é o sistema vital das ideias de cada tempo e que a Universidade devia formar professionais para viver e influir vitalmente à altura dos tempos. Como foi observado no comportamento da classe dirigente do Brasil, mostrada claramente na Câmara de Deputados, a formação foi completamente negativa.

Em 1930: a Igreja porque abandonou o presente, a Universidade por não intervir na atualidade como tal universidade ( a vida pública e atualíssima) e o Estado porque na democracia é governado pela opinião pública, deixaram esta em mãos dos meios massivos de comunicação.. Este é o motivo, segundo Ortega, pelo qual Europa estava de cabeça para baixo y pês para cima fazendo piruetas. Agora, este fato ocorre em nossa América Latina.

Ortega escrevia que não deveriam obrar sobre os jornais os interesses muitas vezes inconfessáveis de suas empresas, que o dinheiro deveria ser castamente eliminado de influir na doutrina dos jornais. Atualmente observamos que existe liberdade de imprensa, mas não de expressão, os meios de comunicação massiva são totalmente governados por 6 grandes grupos multinacionais e propiciam um pensamento único: o neoliberalismo de tipo anglo-saxão.

Nesta situação a Universidade, considerando os últimos progressos da ciência, deveria impor seu poder espiritual respeito da imprensa por meio de uma discussão séria e cientifica dos fatos frente à frivolidade e domínio dos centros de informação massiva que nos levam lentamente a um totalitarismo. Não podemos ignorar ou ser cegos, a progressiva concentração de poder (politico, financeiro, mediático e qualquer outro) em poucas mãos e de aqui o intento de evitar qualquer coisa que escape do seu controle.

Porque não reunir os melhores professores da politica, da economia, da sociologia, da filosofia, da historia e de outras áreas de conhecimento, para dar uma opinião, ainda que expresse diferentes posições, sobre a situação do Brasil neste momento critico?  Existem muitas perguntas que podemos fazer e veremos na frente.

A  banalidade do mal na universidade: Hannah Arendt, analisando o caso Eichmann,  chegou a conclusão de que os crimes por ele praticados não eram de uma mente enferma e diabólica, mas originários de algo banal: a mediocridade absoluta de um burocrata incapaz de desobedecer ordens. Incapaz de pensar e de julgar. Incapacidade de pensar por si mesmo, de ter o valor de usar o próprio entendimento. A renúncia ao pensamento abre as portas para o totalitarismo porque nos convertemos em peças de uma engrenagem, nos tornamos supérfluos. O mundo moderno dominado pelo neoliberalismo procura converter os homens em supérfluos, meros consumistas, viciados pelo consumo de novidades.

No entanto, muitos filósofos questionaram a ideia de Arendt de que Eichmann era meramente um burocrata incapaz de desobedecer a ordens. Ele devia ser um nazi ideologizado, e por isto odiar aos judeus. Recordemos a frase do General Argentino Camps: ”Nos não matamos pessoas, matamos subversivos” assim podiam matar sem culpa. Os que matam não podem ser neutros, é uma impossibilidade psicológica. A Jesus, o mataram por ser subversivo.

A universidade atualmente: acaso não se reduz a um sistema burocrático onde os funcionários escolhem o Reitor (só os funcionários? Com que proposta?), máxima autoridade, e onde não se ensina a pensar, a julgar com responsabilidade, onde somente existem “direitos”, mas não “obrigações”, não existem compromissos com a sociedade, o país, os excluídos da vida cultural e econômica. Não se formam “pessoas” com responsabilidades, mas “indivíduos” centrados em si mesmos, egoístas e irresponsáveis. A banalidade do mal existe na universidade.

Não podemos iludir esta realidade: as universidades brasileiras são parcialmente responsáveis da desordem estabelecida no Brasil.

O neoliberalismo na sociedade e na universidade: o neoliberalismo estimula um individualismo radical, a sociedade não é gerada pela natureza humana, ela é um contrato entre indivíduos, o social não existe como realidade. Isto leva ao subjetivismo onde a verdade é de cada um, não existe uma verdade objetiva e assim chegamos ao relativismo que entra em todos os elementos da existência e vai corroendo todas as estruturas sociais e humanas. Com o disfarce de apertura e tolerância o relativismo elimina toda ética social e politica, nada vale nada, tudo é igual, efêmero e subjetivo. Isto é o que observamos nos políticos do Brasil atual -299 deputados nacionais de 513 complicados na lava-jato, formados a maioria em nossas universidades, e continuam sem problema seus mandatos.

 O neoliberalismo infiltrou-se nos movimentos progressistas ou de esquerda.  Eles somente falam do “direito” de ensino gratuito, dos grupos excluídos (negros e outros) mas pouco falam de “obrigação” frente à sociedade. Este fato atribuído falsamente aos governos populares (“populismo” na linguagem dominante) é consequência da ideologia neoliberal de um individualismo sem compromisso com o social, nem com o próximo, nem com o país. O neoliberalismo contaminou também os movimentos populares.

Um profissional deve ser formado para ter a capacidade de morrer pela justiça e pelos outros. O exemplar filósofo francês, Emmanuel Mounier, escrevia que o homem somente chega a ser adulto quando é capaz de morrer por uma causa ou uma pessoa.

Devemos criar um pátio dos verdadeiros liberais: onde podem entrar todos os comprometidos com nossa sociedade e o país, devemos escutar as perguntas e dar respostas convincentes. Por exemplo, estou manifestando algumas perguntas: Nestes tempos instáveis no devemos salvar o “construtor” da sociedade: o ser humano, com toda sua natureza material e espiritual? (Salvar o homem é transformar ele em uma pessoa responsável que pensa e decide). A universidade não deve mudar totalmente seu sistema de ensino e sua participação na sociedade para superar a imprensa frívola e com obscuros interesses econômicos? Os deputados, que hipocritamente mencionaram a família e a Deus, não deviam propor para que objetivos procuram mudar de governo.  E o vice-presidente não está comprometido? Podemos falar de democracia onde não existe nenhuma transparência de objetivos?  As universidades não deviam participar com sua opinião neste importantíssimo processo, caso existam propostas divergentes elas não deveriam ser expostas publicamente? Os 299 deputados complicados na lava-jato podem seguir legislando no país?

As próximas autoridades de nossa universidade assumiram o “dever” ou “obrigação” de dar respostas?

 


Rosendo A. Yunes

Professor Aposentado