A prestação de serviços significaria: a) um aumento da eficiência da universidade no uso de sua infraestrutura físicad+ b) a possibilidade de ampliar o seu quadro de técnicos e pesquisadores pagos com os recursos advindos da própria prestação de serviçosd+ c) fundos para a manutenção destes equipamentosd+ d) a melhoria da qualidade de nossos laboratórios, preservando-se a memória.
Os laboratórios das universidades federais ressentem-se, com algumas poucas exceções, da falta de técnicos qualificados para a operação e manutenção de equipamentos, frequentemente de altíssimo custo. Também para o planejamento e montagem de bancadas na pesquisa experimental associada ao desenvolvimento de dissertações e teses e ao trabalho de pesquisa como um todo. E, finalmente, para a própria gestão do laboratório.
Por técnicos qualificados entenda-se uma ampla faixa, desde o técnico de nível médio até ao Pesquisador-Doutor, este Último apto não só a conduzir projetos de pesquisa, mas a projetar e construir equipamentos de pesquisa e a contribuir para a melhoria da infraestrutura física do laboratório, sem a obrigação de assumir uma carga de ensino.
Quem atua como técnico na grande maioria de nossos laboratórios é o próprio estudante quando em fase de tese É ele quem aprende a lidar com os equipamentos e quem planeja e monta as bancadas. Terminada a tese, ele vai embora e os equipamentos e as bancadas acabam ociosos aguardando o próximo estudante que, inevitavelmente, deverá repetir o mesmo ciclo.
Tudo isto implica em baixa eficiência e subutilização de toda esta nossa infraestrutura física (que é importante).
Por outro lado, o que se faz com estes equipamentos interessa à indÚstria. Um exemplo: um goniômetro é antes de mais nada um equipamento de pesquisa para medir tensões superficiais e ângulos de contato entre líquidos e sólidos. Estas medidas são importantes para a pesquisa em física de superfícies. Mas pode-se, também, com este equipamento, inferir a energia de adesão e qualificar desde colas, tintas e vernizes até inseticidas. Isto interessa à indÚstria naval, de motores elétricos e de fornos “auto-limpantes” .
A disponibilidade destes equipamentos nas universidades pode (ou poderia) ser traduzida em um processo de prestação de serviços de interesse mÚtuo, tanto para a universidade quanto para a indÚstria.
E aqui estou limitando-me à prestação de serviços, uma vez que projetos de pesquisa mais complicados, de longo prazo, envolvendo desafios mais importantes para universidades e empresas já vêm sendo desenvolvidos há muitos anos nas universidades (…e tornaram-se possíveis graças às nossas fundações de apoio).
Esta prestação de serviços significaria: a) um aumento da eficiência da universidade no uso de sua infraestrutura físicad+ b) a possibilidade de ampliar o seu quadro de técnicos e pesquisadores pagos com os recursos advindos da própria prestação de serviçosd+ c) fundos para a manutenção destes equipamentosd+ d) a melhoria da qualidade de nossos laboratórios, preservando-se a memória.
Quais são os nós?…
Nada disto que eu falei acima é novidade, sendo prática comum nas universidades europeias e americanas e privadas brasileiras.
Também não pode ser traduzida como um processo de privatização da universidade pública, que continuará pública.
Trata-se apenas de aumentar a eficiência da universidade pelo uso racional dos recursos disponíveis.
Nada além disto.
Esta prática não cabe ao professor ou ao aluno, cujos interesses são (ou devem ser) outros, mas ao técnico, seja ele um técnico de ensino médio ou um Pesquisador-Doutor.
Mas onde estão os nós que impedem ou dificultam esta prática na universidade pública brasileira?…
São muitos:
i) O empresário precisa de respostas rápidas às suas demandas. E neste quesito a universidade privada acaba levando vantagem (isto faz, por exemplo, com que os agricultores de SC prefiram a Unisul para as suas análises de solo)
ii) O empresário precisa conhecer quais os serviços que a universidade está capacitada a oferecer e isto ele, presentemente, só consegue saber se chegar por aqui e perguntar (…no lugar certo).
iii) Alguns de nossos colegas (não preciso dizer quem são) têm birra com as fundações e defendem que a universidade deve existir apenas com recursos públicos (o recurso que vem dos impostos). Outros de nossos colegas, entre os STAE, defendem a redução de carga horária dos servidores. Uns e outros estão, hoje, no CUn e fazem maioria nas votações. Uns fazem greve por conta própria e outros fecham a BU e o RU. Isto tudo num país em crise que precisa, de uma forma ou de outra (seja ela qual for), acertar o seu passo e de soluções. Não de birra.
iv) A prestação de serviços é considerada uma atividade de extensão e normatizada (por enquanto, ao menos) pela Resolução 03/CUn/09, de 08 de dezembro de 2009. Quem der uma olhada nesta resolução rapidamente se dará conta dos muitos nós que é preciso desfazer para que a prestação de serviços tenha a agilidade que lhe é necessária. Exemplos de nós: a) você precisa fazer um projetod+ b) este projeto precisa envolver estudantes, deve indicar a relevância social e acadêmica da atividade e precisa ser aprovado no departamento. Dois grandes motivos para o interessado sair correndo porta-afora.
A prestação de serviços deve ser entendida como ela é: uma atividade rotineira de curta duração, uma perícia, uma medida de tensão de ruptura, uma microtomografia, uma análise de solos, um serviço de microscopia. Sem esta de projetos!…
Imagine você se o Santa Luzia precisasse fazer um projeto interno com o envolvimento de estudantes de enfermagem toda vez que você fosse lá para o seu exame de urina?…
A atividade de prestação de serviços não é acadêmica e, para ser eficiente, precisa de profissionalização de gestão.
Cada uma destas atividades exige a disponibilidade de equipamentos e, evidentemente, de alguém que assine o relatório, responsabilizando-se pelos resultados. Mas, acima de tudo, precisa de alguém que a faça. E é isto o que nos falta.
E isto não nos falta apenas no CTC, mas no CCB, no CFM, no CCS, no CCE, no CCA e (sem esquecer) os laboratórios de geologia do CFH.
Em resumo:
Precisamos de técnicos qualificados (e bem pagos) em nossos laboratórios, mas não temos recursos para isto.
Falei em bem pagos?… Sim, pois de outra forma eles irão para outro lugar onde sintam que suas remunerações fazem jus às suas qualificações (daí eu sugerir isto no título como uma bandeira para os STAE).
Temos o que é preciso para isto.
Estas atividades tenderão a aumentar a eficiência da universidade evitando-se a subutilização de equipamentos que custam fortunas.
Laboratórios com técnicos responsáveis significam uma enorme melhoria de nossas atividades acadêmicas de ensino e pesquisa
O que falta para isto, além de dois neurônios?…
*Paulo C Philippi
Professor do Departamento de Engenharia Mecânica
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