Para o filosofo espanhol Ortega e Gasset viver na altura dos tempos e viver na altura das ideias “vitais” do tempo. A “cultura” é o sistema vital de ideias de cada tempo. Vital porque delas se alimenta a vida social. Estas ideias podem ser cientificas ou não.
Mas, a pergunta é qual é a cultura de nosso tempo. Podemos dizer, seguindo o pensamento de Bauman, que estamos numa cultura liquida, dominada pelo mercado e as finanças, onde todas as referencias e sentidos foram retirados para dar espaço a lógica do “agora, do consumo, do prazer, e da artificialidade”. As relações são frágeis, sem compromisso e procurando se desconectar sem grandes custos. Esta cultura é uma força de individualização que desvinculo totalmente a construção da vida individual da construção politica da sociedade que não podem ser separados. Por isso o ser humano foi reduzido, pelo mercado, a uma mercadoria a mais, que pode ser consumida ou jogada no lixo a qualquer momento. Acaso, o CNPq a CAPES os Reitores etc. no falam de formação de “recursos humanos”. Que significa ser um recurso? Uma mercadoria.
Fomos transformados em consumidores e objeto de consumo, em procura da felicidade pelo consumo de mercadorias é assim a felicidade sempre é inalcançada. Os mercados transformaram a felicidade na busca incessante de mercadorias, que podem virar vicio, a pessoa torna-se dependente como se fosse uma droga. Todo vicio é autodestrutivo
Não observamos tal vez, esta situação na quase nula preocupação que existe entre nossos colegas pela situação de nossa universidade e de nosso país? Ao menos, as assembleias da APUFSC que não conseguem o quórum assim estão manifestando.
A ideologia de mercado neoliberal é o mais potente aparato de controle de opinião e pensamento que existiu na terra. Faz tempo uma grande líder neoliberal expressoud+ “A economia é o método, o objetivo é o coração e a alma” Esta claro que mudando as condições materiais se podem mudar as estruturas ideológicas e morais. Pelo geral a gente pensa segundo vive e não a inversa. Kafka tinha ração ao expressar que “o capitalismo é um estado da alma”. Devemos adicionar que é um estado negativo da alma. E lamentavelmente isto foi conseguido com a colaboração do braço mais ranço do cristianismo e do catolicismo farisaico trabalhando pelos seus interesses e não pelo Reino de Deus que nunca predicaram. Isto é lamentável, porque o cristianismo é a base religiosa de nosso povo. Esqueceram, ou os fariseus ocultaram, que os verdadeiros formuladores dos direitos humanos totais, no foram os franceses nem os americanos como desejam fazer acreditar, mas dois domínicos espanhóis: Francisco de Montesinos (mártir) e Bartolomeu das Casas em nossa américa latina. Os fariseus da religião serviram ao Deus da riqueza, ao mercado, ao qual não se pode servir junto ao verdadeiro Deus.
Esta situação, “a globalização financeira” a levado a que 2.500 milhões de pessoas sofram graves carências e que 70 milhões acumulem tantos bens com todo o resto do planeta. (No Brasil 0,9% população tem 68% das riquezas -Dados da Receita Fed. )Resulta claro que existe uma grave violência que permite que um 0.1% da população mundial se aproprie de tantos recursos e 0,9 % da Brasileira do 68% das riquezas.
Frente a globalização a “soberania nacional” em todos os âmbitos, que implica identidade e “dignidade”, é um grave problema. Brasil deve defender sempre os direitos humanos totais: morada, trabalho, saúde, cultura etc. suas indÚstrias, seu patrimônio energético, sua cultura etc. A universidade deve estar totalmente comprometida com esta tarefa. Não podemos ignorar esta “realidade” básica.
Para procurar reconstruir uma universidade que não forma “recursos humanos”, mas pessoas, cidadãos brasileiros, patriotas dispostos a trabalhar por uma sociedade sem excluídos, pela soberania do país, devemos urgentemente trabalhar e dialogar sobre temas de importância fundamental sobre nossa identidade como universidade.
A historia da Universidade brasileira, da qual formamos parte, em grandes rasgos e simplificando demonstra uma mistura de uma universidade Napoleônica herdada da cultura portuguesa com a adição de departamentos tipo USA introduzidos na reforma de 1967 por uma comissão com predomino de professores americanos.
Evidente que esta mistura não funciona adequadamente porque Brasil e USA são dois países completamente diferentes. Assim, estamos numa crise permanente. A Crise significa que entre a universidade e seu contexto social e nacional (estado) existe um problema, digamos de coexistência.
Qual é problema de coexistência entre universidade e estado? A autonomia universitária.
Ortega escreve que o direito é estático por isso seu organismo principal se denomina Estado. Mas, as coisas humanas são históricas, isto é, puro movimento, mutação permanente. A historia bate com a estabilidade do direito que se transforma numa camisa de força. Este é um motivo para nossa universidade estar engessada e controlada pela AGU. Podemos assim dizer que nossa universidade é autônoma?
Aparece o primeiro grande objetivo para recuperar uma identidade universitária e colocar elas na altura dos tempos:
Primer objetivo: conscientizar da necessidade de mudar, trabalhar para formular uma lei racional e solicitar mudar totalmente a lei referente às universidades do país,
Os autores mais radicais sugerem que a melhor lei seria aquela com artigos referidos somente aos objetivos que são conferidos e a obrigação total de seu cumprimento. Acredito que existem dois ideais importantes: 1-desenvolver mais ciência, mais tecnologias autônomas, mais indÚstrias nacionais atualmente esquecidas, tudo subordinado ao interesse comum e 2-a emancipação do ser humano pela solidariedade, o arte, a compaixão pelos mais pobres, pelo amor. Sugiro assim um mínimo de leis indicando estes objetivos, suas obrigações e dura cobrança das mesmas e uma estrutura que permita ensinar segundo a capacidade de aprender, ensinar a pensar, ensinar a solidariedade para construir uma sociedade igualitária, sem excluídos e o desenvolvimento da interdisciplinaridade e da pesquisa orientada para objetivos aplicados ou básicos concretos, sem disfarces, para estender seus resultados a estrutura econômico-social autônoma de nossa região e da nação..
A luta levara muito tempo, mas é completamente necessária para construir a “soberania nacional” e a identidade universitária.
*Rosendo A. Yunes
Professor Aposentado
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