Numerologia Publicatória Obsessiva

A frase acima foi difundida pela internet, em lista do Apufsc-Sindical e outras, por ocasião de um debate intenso sobre critérios para a promoção ao cargo de Professor Titular. Ela denuncia uma cultura perversa e deletéria sobre o que deve imprimir reconhecimento e respeitabilidade acadêmica. Como consequência, tem-se uma multidão de medíocres, autores de centenas de inutilidades publicadas, mas festejados, agraciados, prestigiados e pagos por conta de uma obra que certamente morrerá com eles sem que jamais tenha utilidade para o país ou para a humanidade.

Por aquele critério quantitativo enunciado acima, o antigo diretor do Institute of Sound and Vibration Research, da Universidade de Southampton e Medalha de Ouro pela Royal Society, meu amigo Brian Clarkson, estaria lascado. Ele jamais produziu quantidade, mas que qualidade imprimiu ao que publicou!

Falar sobre Peter Higgs, prêmio Nobel de física por prever matematicamente o Bóson na Mecânica Quântica, então, é covardia. Ele jamais seria titular de UFSC alguma. Ele só publicou, em toda a vida, oito artigos (Ver referência em link abaixo). Um Zé Ninguém, se comparado a alguns “gênios” da Numerologia Publicatória Obsessiva (NPO, doença obsessiva-compulsiva-picaresca que assola a academia brasileira), com cerca de duzentos ou mais artigos publicados. (Temos alguns “gênios” desses no Departamento de Engenharia Mecânica da UFSC, EMC). Só que esses “gênios”, com todas as suas centenas de artigos publicados, não valem uma unha acadêmica de um Higgs, de um Brian Clarkson, ou de um Einstein. Apesar do número exíguo de artigos publicados, Peter Higgs recebeu os seguintes prêmios (uma injÚria, para os portadores de NPO):

Medalha Hughes (1981)

Medalha e Prêmio Rutherford (1984)

,Medalha Dirac (1997)

Prêmio Wolf de Física (2004)

,Medalha Oskar Klein (2009)

Prêmio Sakurai (2010)

Prémio Nobel da Física (2013)

Por aí se vê a sideral distância que separa as mentes do primeiro mundo da cabecinha subdesenvolvida de nossos pesquisadores idolatrados, que carregam na testa siglas e selos de qualidade dispensados pelo CNPq.

NÚmero de papers publicados é o maior blefe, a maior mistificação que a periferia pesquisadora inventou (e pegou!) para “ganhar vantagem”.

Tristes trópicos!

Referência

https://scholar.google.com/scholar?hl=enEampd+lr=Eampd+q=authorPW+authorHiggsEampd+btnG=Search

* José J. de Espíndola – Ph.D.
Professor aposentado da UFSC