Porque devemos combater a insidiosa ideologia de gênero

Há algum ganho educacional na adoção da ideologia de gênero nas escolas? Como ponto inicial de reflexão para entendermos algumas das implicações da ideologia de gênero nas escolas, transcrevo parte do discurso do deputado Jair Bolsonaro proferido em 01/04/2015 na Câmara dos Deputados e que está disponível aqui.

“Olhem só! Livros escolares!… A Sra. Dilma Rousseff, no início de 2011, falou que estava mandando recolher o material chamado kit gay. Olhem os livros escolares agora aqui! (Exibe livros.) Exemplo: uma sugestão de brincadeiras escolares. Temos aqui índios seminus, que é da tradição deles, brincando de gavião. Diz aqui o texto: “Façam uma fila indiana. Todos nus. Fiquem bem agarradinhos, um junto do outro, e o Último da fila” – é bem explícito – “agarre com mais firmeza para não ser comido” É o que está escrito aqui. E aqui embaixo, agora, para nossa surpresa, diz o seguinte: “Você entendeu a brincadeira? Gostou dela? Convide os seus amigos para brincar de gavião”.

A forma maliciosa que sugere que o Último “agarre com mais firmeza para não ser comido” se transforma em um verdadeiro atentado a infância, uma verdadeira violência a condição infantil, pois antecipa um desejo sexual que ela ainda não sente. Obviamente que os autores deste material têm um objetivo claro: perverter na mais terna idade aquilo que é mais característico da infância, a sua pureza. Mas, o que é a pureza para um ideólogo do gênero? Darei a seguir um exemplo concreto para entendermos no que consiste a pureza do mundo infantil em contraposição ao que a ideologia de gênero pretende instalar nas escolas públicas, exemplificado aqui pela brincadeira do gavião, mas igualmente presente em tantas outras obras e materiais de cunho duvidoso que querem expor as nossas crianças e jovens, mostrando assim a situação lastimável em que chegamos ao não defender essa maravilhosa característica da infância.

Qualquer um que se disponha a ir a uma missa de crianças da catequese verá uma celebração inusitada, por exemplo, como aquela que ocorre na Missa de Domingo na Paróquia Santo Antônio, no Centro. Ao fim da missa, o frei chama as crianças a irem para a frente do altar onde serão abençoados pães que são distribuídos a elas, algo que serve como um prêmio de consolação, já que ainda não fizeram a primeira comunhão e, portanto, ficam de fora da participação da eucaristia. Invariavelmente, segue-se uma conversa do padre com as crianças onde se pede que elas rezem a Deus para que nunca falte o pão, o trabalho e a saúde na casa de ninguém, e a missa é então finalizada com as crianças estendo suas mãos à comunidade, e a comunidade estendendo suas mãos as crianças, enquanto o padre dá a benção final. Para quem já teve o privilégio de assistir a uma missa de crianças, o que vemos ali é certo que remete primeiro a um ato de adoração a Deus, contudo, não deixa de ser também uma verdadeira celebração de valores da família pela própria forma como pais, mães e seus filhos participam, bem como uma etapa de formação na educação desses jovens pelo que exige de atenção, compreensão e observância da própria missa, que é posta em uma linguagem mais acessível as crianças, sem, contudo, perder de vista a centralidade de nenhum dos santos mistérios que são celebrados. Aqui, a pureza típica da criança não é suprimida, mas sim cultivada e direcionada a algo que é aceito plenamente e inteiramente pelos pequeninos sem muita elaboração, que é amar a Deus. Como conciliar então que uma criança que recebe essa formação de fé dos catequistas na igreja, e de seus pais em casa, possa se submeter à maliciosa consciência daqueles ideólogos do gênero que propõem a infame brincadeira do gavião?

Definitivamente, há algo terrivelmente deturpado aqui que só fica claro quando contraposto a uma realidade diametralmente oposta, como expus anteriormente, e é nesta contraposição que devemos nos perguntar em que experiência há algum ganho na formação integral das crianças e jovens? Na experiência da celebração da fé cristã, ou na “brincadeirinha” do gavião onde o “educador” é taxativo ao lembrar que o “Último deve agarrar com firmeza para não ser comido”? Afinal, os ideólogos de gênero que promovem e defendem a adoção de tais obras entre as crianças nas escolas públicas informaram aos pais dessas crianças o teor do material a que elas estão expostas? E, se informaram, estão os pais de acordo que seus filhos sejam expostos a esse material, ou apenas se resignam a deixar tudo como está por nada poderem fazer?

O ponto crucial aqui é que não se fala de gênero sem se falar em opção sexual, e isto é algo que só é compreendido ao se estimular o desejo, e é aqui que começa o atentado contra a infância, pois o desejo surge pela supressão da pureza infantil. Em suma, a pureza das crianças torna-se um obstáculo para que a ideologia de gênero seja efetivamente compreendida. Cientes disso, maldosa e astutamente muitos ideólogos do gênero tentam burlar esse obstáculo alegando que a introdução do gênero e da questão da identidade sexual as crianças e jovens faz-se necessário para se coibir o preconceito. Colocam então como inexistente a inadequação da ideologia de gênero ao mundo infantil pelos elementos estranhos a infância com que essa ideologia é construída (vide o apelo malicioso da “brincadeira” do gavião). Por ironia do destino, invalidam o apelo ao preconceito de seu batido discurso vitimista, já que demonstram também um inato desrespeito a tradição religiosa e aos valores familiares tradicionais, pois deveriam reconhecer que pelo menos na questão da sexualidade há várias formas de se pensar o tema, inclusive uma forma coerente com a perspectiva cristã da sexualidade a qual eles julgam retrógrada e, em si mesmo, preconceituosa, exatamente por propor uma abordagem que põe a sexualidade dentro de uma estrutura bem consolidada que é a família. Mas, afinal, vendo a sexualidade como uma questão de foro íntimo e existindo variadas perspectivas sobre o tema não seria o caso de deixar que cada um se inclinasse aquilo que mais lhe convêm? Por que então os ideólogos do gênero tentam colocar sua visão como sendo a Única forma válida de se pensar a sexualidade, a ponto de exigirem que a ideologia de gênero faça parte do currículo escolar? Não deveria um cristão exigir que o currículo contemplasse também uma visão cristã da sexualidade? Ora, sabemos que o Estado laico supõe a não-interferência entre a religião e os “affairs” do Estado, mas esse princípio de não-interferência também se aplica ao Estado não interferir em questões da religião, seja esta envolvendo instituições religiosas ou a própria convicção religiosa dos indivíduos. E aqui surge o problema de se dar exclusividade a ideologia de gênero. Com efeito, se a perspectiva da ideologia de gênero se mostra negativa e crítica ao que o cristianismo propõe (ou qualquer outra convicção religiosa de um indivíduo) então a imposição do ensino da ideologia de gênero nas escolas públicas interfere na convicção religiosa deste indivíduo. Assim, a escola pública sendo uma instituição financiada pelo Estado estaria se intrometendo indevidamente nas convicções religiosas do indivíduo, algo que violaria a “laicidade” do Estado. A Única solução seria então não privilegiar uma Única perspectiva, dando espaço para outras abordagens e, neste caso, não faz sentido algum uma referência explícita a adoção da ideologia de gênero nos planos de educação de estados e municípios, ou, alternativamente, reconhecer a sexualidade como algo de foro íntimo do indivíduo e não fragmentar ainda mais o escasso tempo escolar, retirando da escola a necessidade de qualquer discussão sobre o assunto.

Ora, não haveria necessidade de se discutir coisa algum se a exposição à insidiosa ideologia de gênero fosse apenas a opção de algumas pessoas que valoram ser mais educativo para seus filhos (ainda crianças) a ‘brincadeira” do gavião do que preservar a infância (o que na minha opinião não deixa de ser uma opção infeliz), contudo, o que fazer quando a ideologia de gênero avança indistintamente como uma imposição as crianças das escolas públicas?

O perigo deste avanço é real e motivou recentemente um deputado de nome Izalci (PSDB-DF) a fazer um questionamento ao MEC no plenário da Câmera dos Deputados sobre o Documento Final do Conae-2014, assinado e apresentado pelo Fórum Nacional de Educação, como passo na articulação da educação nacional como política de Estado, no qual define, contrariamente ao que foi estabelecido durante a votação do PNE nesta casa, a ideologia de gênero como diretriz obrigatória para o PNE, o planejamento e as políticas educacionais no Brasil.”

Veja o documento aqui

O trecho acima, retirado do requerimento de informação número 565/2015 feito pelo deputado Izalci ao ministro da educação, tem um sentido, pois o que este documento do Conae pretende fazer é reintroduzir a ideologia de gênero nos planos de educação a nível de estados e municípios, contrariando algo que já fora retirado do texto do Plano Nacional de Educação. Mas, é isso mesmo que a maioria do povo brasileiro deseja? Um outro deputado fez uma acusação séria de que o MEC estaria forçando os municípios a introduzir a ideologia de gênero em seus planos de educação sob pena de não terem repassados os recursos da educação a quem tem direito. Deduz-se então que há um lobby a favor da ideologia de gênero entrincheirado no MEC, que se mostra criativo em passar por cima de decisões do Congresso Nacional que rejeitou qualquer menção a ideologia de gênero no Plano Nacional da Educação. Que isso venha a ocorrer em um governo petista não surpreende, pois sabe-se muito bem os valores anti-família que este maléfico partido defende. Que isso ocorra sem a reação e luta de uma maioria de pais e mães que não desejam a corrupção moral de seus filhos é o que realmente surpreende. Estejamos atentos e lutemos sem tréguas e de forma radical pela extirpação da adoção da ideologia de gênero nas escolas. Essa luta envolve conversar com nossos vereadores e deixar expressa a desaprovação à adoção da ideologia de gênero nos planos municipais e estaduais de educação.

Referências:

1. “Caindo no Conto do Gênero”, Pe. José Eduardo http://blog.comshalom.org/vidasemduvida/caindo-conto-genero-entrevista-com-pe-dr-jose-eduardo-de-oliveira-e-silva-professor-de-teologia-moral/

2. “Você já ouviu falar da ideologia de gênero?”, http://biopolitica.com.br/images/CARTILHA-ContraIdeologiaDeGenero-2015.pdf

3. “Requerimento de informação 565/2015”, Dep. Izalci (PSDB-DF)

*Marcelo Carvalho
Professor do Departamento de Matemática da UFSC