Nossa categoria, juntamente com outros servidores federais, está em fase de negociação salarial com o governo. Todavia, a Apufsc isolou-se e limita-se a assistir passivamente o que se passa em Brasília. Obviamente, sozinhos não participaremos de qualquer negociação, fato que questiona profundamente o sentido da nossa entidade e compromete nossa sobrevivência como sindicato.
A situação é deprimente e escandalosa, pois a Apufsc historicamente teve um protagonismo decisivo no movimento sindical docente deste país. Ainda hoje muitas ADs, antes de se posicionarem, procuram saber o que aqui decidimos.
O Andes, que na UFSC realizou seu primeiro congresso em 1982, ao ser fundado em 1981 foi pioneiramente presidido pelo prof. Osvaldo Maciel, então presidente da Apufsc. Nos anos 2000, face ao esgotamento do modelo de sindicato nacional (SN), algumas ADs (entre as quais as da UFMG, UFRGS e UFSCar) fundam o Proifes, um fórum de ADs independente do Andes.
Animados com esta perspectiva, também fizemos a ruptura com o Andes, e fomos o primeiro sindicato a ser reconhecido como sindicato autônomo, implodindo o modelo sindical centralizado. Superando o desatino político da forma sindical que mistura e unifica no mesmo saco docentes das universidades privadas e públicas (federais, estaduais e municipais) e vinculando o SN à uma central sindical atrelada a um partido político, o surgimento da Apufsc-Sindical em 2009 trouxe ao MD algo novo e esperançoso.
Na continuidade deste processo refundacional e completando-o, em 2012 também aqui na UFSC se cria o MDIA: Movimento Docente Independente e Autônomo.
´Movimento´ não significa ´federação´ ou ´sindicato nacional´ ou uma estrutura burocrática enrijecida e centralizada, mas uma união de sindicatos com os mesmos ideais. E o MDIA foi criado com o propósito de reunir entidades independentes e incluindo todas as entidades que comungam os mesmos propósitos, tanto da Andes quanto do Proifes.
´Independente´ significa exatamente o que o nome está dizendo. Queremos independência de partidos, de ideologias políticas e de centrais sindicais. A universidade não foi feita para isto!…
´Autônomo´ significa que somos nós a decidir o nosso destino. Que estamos dispostos a assumir a responsabilidade desta independência.
Portanto, hoje há 3 caminhos para que a Apufsc se faça ouvir em nível nacional. O primeiro é formarmos trincheira com o Proifes. É o sindicalismo do SIM ao governo do PT e da CUT, com aliados importantes no PCdoB (…vimos isto na última greve). O segundo é formarmos trincheira com o Andes. O Sindicato do NÃO ao governo do mesmo PT, cuja base (do sindicato) é PSol, PSTU, Conlutas, Prestistas, Trotkistas e outros istas (…também vimos isto na última greve).
Esta é uma divisão que há uma década divide esquizofrenicamente o movimento sindical universitário. O Andes e seu reino das “boas intenções”, apenas se guia por ideologias anacrônicas e estéreis. O Proifes, apenas fiel aos interesses dos grupos no poder federal desde 2003, faz o jogo pragmático das conveniências políticas. Ambos, por estarem distantes da realidade acadêmica e seus dilemas, mostram-se inábeis para representar os docentes universitários do Brasil em quaisquer negociações com o governo.
Estes dois caminhos significam ceder, desistir de procurar construir um novo sindicalismo, mais apropriado a professores de universidade, sem partidos ou ideologias políticas, sem paneladas, sem demagogia e sem nos atrelarmos a centrais sindicais que, por sua vez, são braços de partidos políticos (como é o caso do Proifes na CUT).
O terceiro caminho é o MDIA, opção que nos coloca juntos com a Apubh (da UFMG), Adunb (UnB) e Adunifei (Itajubá), entidades que foram parceiras em sua fundação, e que presentemente conta com a simpatia dos sindicatos das Universidades Federais de Goiás e Bahia. O Movimento Docente, Independente e Autônomo é a opção natural para sairmos desta estreita estupidez e o único caminho para termos expressão nacional sem cedermos à mesmice sindical que tantos prejuízos têm causado às nossas universidades.
Todavia, a Apufsc, entidade fundadora do MDIA, pouco (…ou nada) fez pelo MDIA em toda a gestão anterior, impondo dificuldades para que o mesmo hoje fosse uma outra federação (estágio que se alcança quando sindicatos de cinco estados se congregam).
Ainda que tenha sido uma gestão exitosa nas questões relativas aos novos campi, a gestão Marcio Campos representou tudo o que não queríamos em política sindical, quando a Apufsc perdeu o brilho e a liderança nacional que tinha conquistado. Nela, projetos importantes como o MDIA, Frente Parlamentar e Instituto de Pesquisas em Educação (IPE) foram literalmente abandonados, um boletim de opiniões transformou-se num panfleto publicitário dos atos da Diretoria e o seu GT de Política Sindical foi intempestivamente dissolvido violando nossos estatutos que dão esta atribuição apenas ao CR.
Hoje, vergonhosamente, a Apufsc está apequenada e isolada, debatendo temas irrelevantes e completamente à deriva na principal questão que justifica a existência de um sindicato.
O MDIA escancara que a essência de um sindicato é ser um “movimento”, pois a força sindical reside exclusivamente na sua capacidade de mobilização. Ora, isto significa um permanente trabalho de convencimento, especialmente junto aos novos docentes.
Todavia, há muito tempo nenhum dirigente produz textos formadores de opinião no Boletim. Também há anos, nenhum diretor se importa em se fazer presente nas listas de discussão da UFSC, especialmente na da Apufsc. Do que vale termos sedes e funcionários, e mesmo o aparato legal a nosso favor, quando nossa pauta se restringe à organização interna da entidade, à proteção jurídica do associado e à confraternizações e passeios contratados com empresas de turismo?…
Daqui advém o atual desfibramento e ineficiência da Apufsc, que sequer consegue efetivar uma AG, enquanto o grupúsculo andesiano na UFSC se mobiliza e dá as cartas por aqui.
A atual campanha salarial sinaliza que esgotou o nosso tempo. Ou altiva e corajosamente assumimos a construção do MDIA, ou o futuro da Apufsc-Sindical estará severamente comprometido.
*Armando de Melo Lisboa
Departamento de Economia e Relações Internacionais
*Paulo Cesar Philippi
Departamento de Engenharia Mecânica