Depois da segunda guerra mundial o destacado filósofo alemão K. Jasper definia a função da universidade como “A procura da verdade na comunidade de alunos e professores…”. Preliminarmente me pareceu uma definição muito simples e incompleta. Mas meditando e com o tempo peguei consciência da profundidade e complexidade que existia nessa simplicidade.
Analisemos a “verdade”. Ela é fundamental para a comunicação. No pode existir um dialogo realmente humano sem verdade. A mentira leva a uma parte (que mente) a ser opressora e a outra submissa. Por isto a verdade é a fonte da liberdade. E assim como ocorre entre pessoas ocorre entre países no mundo. Por ocultar a “verdade” não existe, neste momento no mundo, uma verdadeira liberdade de expressão. Observemos, por exemplo, que em Inglaterra todos os jornais sem exceção (populares, oligárquicos etc.) apoiaram ao candidato conservador . O controle mediático atual nunca foi igual. No nosso pais chegam as informações desde 6 grandes corporações mediáticas de USA, mas nada de agencias da RÚssia, nem da rede Voltaire da Francia, que não tem outra fonte de financiamento que seus subscritores. Por quê? Pior ainda, uma clara ideologia neoliberal é imposta nos sistemas educativos dos países e se reduz a educação a mera quantificação de conhecimentos. Não se ensina a pensar livremente. Assim tudo resulta suspeito, calculado, manipulado, ou seja , cheio de segundas intenções.
Assim, existem aqueles que não desejam ver , nem que seja visto, que nossa universidade é uma mistura: da universidade Napoleônica do século XIX dependente do Ministério de Educação e agora, para pior, do AGU com a copia da universidade americana do século XX (foram professores americanos em 1967 que mudaram as “velhas” estruturas). Assim temos ilhas de pesquisa na procura de estar na altura dos tempos com predomínio de estruturas feudais de grupos de poder sem nenhum objetivo social, democrático ou de inspiração espiritual..
A demonstração esta no fato de, por exemplo, não existirem debates, nem fórum, nem palestras, nem convidados especiais, para ao menos dialogar sobre os novos paradigmas científicos que se gestaram especialmente nestes últimos 10 a 20 anos. Somente alguns dados: Não se debate, nem existem palestras, nada, sobre algo de extrema importância social como é a desigualdade gerada pelo capital que tem uma taxa de rendimento maior que o crescimento econômico que se traduz em uma maior concentração de riqueza que pode levar a ameaçar nossos valores DEMOCRATICOS ( ver O Capital no século XXI, T. Piketty Ed. Intrínseca Ltda, RJ 2014) Não se debate sobre que é o que realmente da estabilidade a matéria que não é meramente inerte, estática, mas que dependeria de uma subjacente energia de ponto zero que é continuamente absorvida e reemitida ( H. E. Puthoff Physical Review D 1987, 35, 3266). Não se convidam palestrantes para falar sobre o fim do dogma darwinista que foi a teoria cientifica na qual se fundamentou Hitler para realizar o holocausto e que agora esta em crise total (ver D. Noble, Experimental Physiology 2013, 98, 1235d+ M.R. Rose, T. H. Oakley, Biol. Direct. 2007, 2,30, Koonin E. V. Nucl. Acids Res.2009, 17, 1011) y o problema dos caracteres adquiridos que foi mais um problema de politica entre Rusia que os promovia por Lysenko y USA que os negava pelo moderna síntese de 1930. Nestes ultimo 5 anos foi confirmado que realmente existem.
Nada leva a tomar consciência sobre o problema “fundamental” da concepção do homem, que durante 300 anos foi reducionista e materialista. Porque ela afeta a natureza do homem, Rabbbi Abraham Heschel um rabino, que acompanhou Luter King em sua famosa marcha contra a segregação racial, escrevia “Nos tornamos o que pensamos que somos ( cit. em “Ecological Developmental Biology, Gilbert S., Epel D., Sinauer Associates Inc, USA 2008) No mesmo sentido J. Eccles, Prêmio Nobel de Medicina, explica “Creio que há um mistério no homem e estou certo de que ao menos é maravilhoso para o homem obter a impressão de que não é simplesmente um macaco apressadamente realizado, existindo, algo muito mais maravilhoso em sua natureza e em seu destino ( Popper K.B, Eccles J.C.,” O eu e seu cérebro”, Labor, Espanha 1980) finalmente, o problema mais grave, foi denunciado por um dos maiores psicólogos do século XX (Vitor Frankl Judeu, que salvou-se das câmaras de gás em 1945) que corajosamente escreveu “Não foram apenas alguns ministérios de Berlim que inventaram as câmaras de gás de Maidanek, AusChwitz, Treblinkad+ elas foram sendo preparadas nos escritórios e nas salas de aula de cientistas e filósofos niilistas, entre os quais se contavam e contam alguns pensadores anglo-saxônicos laureados com o Prêmio Nobel” (Frankl V.E. “Sede de Sentido, Quadrante, Brasil 1989)etc. etc.
Não observamos que quando escrevemos, inconscientemente, estamos formando “recursos humanos” reduzimos o homem a ter unicamente um valor econômico, uma cremalheira mais na linha de produção (como “recursos energéticos” ou outros) e depois se denuncia que somente o comunismo soviético fazia isso. Formamos “pessoas”, “cidadãos”, com qualificação profissional.
Pergunto: que realizaram as autoridades universitárias da UFSC neste sentido, nestes últimos, digamos, 10 a 15 anos? Que fizeram para promover, estimular, desenvolver uma verdadeira universidade nacional, na altura dos tempos científicos e tecnológicos? NADA. E se fala de universidade moderna? Somente se dedicaram a gestão burocrática criada por complexas leis, que são aplicadas segundo a conveniência do poder, onde o professor trabalhe 60 ou10 horas aparece na planilha com 40 horas, onde o professor esta submetido a uma sobrecarga burocrática que não o deixa pensar, nem ter tempo para deixar sua imaginação fluir e inovar em ensino ou pesquisa.
Complexas leis criadas para evitar trapaças, quanto erro! Assim não se evita NADA porque ou aparecem novas trapaças ou porque na verdade não se cobra nada, porque ninguém é responsável de nada, ninguém tem alguma obrigação “real”, porque desde os horários ate muitas aulas e pesquisas, tudo é manipulado para satisfazer o máximo poderd+ A BUROCRACIA JURIDICA, num intrincado mundo de leis, que dão lugar a muitas interpretações.
Sem duvidas a Verdade nos fara livres, como proclamou Jesus, livres e autênticos, por isto nem os religiosos devem temer a verdade, e menos a cientifica, somente a verdade nos pode dar a liberdade. E verdade é igual à justiça. Por exemplo, num concurso deve ganhar aquele que verdadeiramente merece pelos seus méritos e não o que previamente, por companheirismo, ou outro fator não universitário, foi pensado devia ganhar. O mesmo ocorre com a eleição de Reitor: deve ser eleito aquele que apresente os méritos suficientes para ser Reitor e não os complacentes com alunos, funcionários, ou professores. O Reitor deve ser LIVRE de condicionamentos y deve responder somente a VERDADE= JUSTIECcedild+A.
No entanto, muitos Pilatos existem em nossa sociedade. Perguntam, qual é a verdade? E não esperam a resposta, as verdades preocupam porque sua procura é algo propriamente humano. Mas, a verdade compromete nossas consciências e por isto fugimos, todos temos Pilatos em nossa consciência e mais fácil não saber nada e não comprometer-se com nada.
E igualmente temos e somos Pilatos em nossa universidade. Neste momento histórico devemos fechar os olhos aos desafios de um mundo globalizado onde podemos ser absorvidos por outras culturas ou devemos contribuir para a maior autonomia de nosso pais conservando nossa cultura? Na guerra econômica, existente no mundo atual, não devemos promover, proteger e incrementar nossa capacidade industrial e cientifico-tecnológica? Não devemos ser a consciência critica da nação?
Devemos fazer um esforço de humildade e reconhecer a “verdade” que estamos bastante longe de ser uma universidade moderna. Não podemos seguir no engano de que nossa universidade e altamente qualificada, nenhuma universidade ibero-americana em nenhuma classificação aparece entre as 100 primeiras. Igualmente, devemos conscientizar aos alunos e a sociedade que arrastamos a carga histórica da península ibérica onde não somente não ocorreu a revolução industrial cientifico-tecnológica, mas que ao mesmo tempo em toda ibero américa não existiram governos com a capacidade, nacionalismo e honestidade suficiente para ver a necessidade urgente de apropriação de essa realidade cultural (industrial e cientifico-tecnológica) sub nossas identidades nacionais, preferindo ser simples colônias
Sem a verdade não existe autenticidade nem liberdade. Continuamos na patologia da falsidade, da inautenticidade, e por isto na obscuridade.
*Rosendo Augusto Yunes
Professor voluntario na Química