Um tal Daniel, inconformado com o texto “As perversas implicações da introdução da ideologia de gênero nas escolas”, escreveu o seguinte comentário:
“Como que a APUFSC pode ser conivente com a publicação de um texto fascistóide desse, que está todo argumentado partir de premissas falaciosas, cheio de “achismos” e escrito por uma pessoa que nitidamente não tem a menor ideia do que está falando? O texto foi escrito por um conhecido professor da universidade que encabeça um movimento que prega ódio e ideais anti-democráticos. Sabemos que ele já protagonizou episódios nos quais ele injuriou alunos/as (mulheres e gays). APUFSC, cade o critério editorial desse site? Vocês vão ser mesmo coniventes com isso?! Lamentável, APUFSC, lamentável!”
Ora, qual seria a premissa falaciosa que parece ter incomodado tanto o coitado do Daniel a ponto de em vez de apontar a falácia ele usar o espaço para fazer falsas acusações contra mim? (isso você terá que responder judicialmente!). Lamentavelmente, esta universidade tem-se mostrado um terreno fértil para falsas acusações de toda espécie, onde denúncias anônimas são feitas na ouvidoria sem nenhum critério, apenas para efeito de intimidação e cerceamento da liberdade de expressão.
Mas, voltando ao Daniel, vejo que ele não entendeu o meu argumento. Vou então ser um pouco mais didático para que ele entenda. O meu argumento principal é que atribuir o suicídio de um indivíduo homossexual como tendo origem exclusivamente em um suposto preconceito que ele sente é algo que carece de substância, afinal, podemos considerar também outros fatores como relevantes. Mencionei, assim, que a recusa da identidade sexual biologicamente recebida pode não ser uma escolha tão simples de ser feita e que a complexidade envolvida nesta questão, dependendo da pessoa, poderia desencadear o ato extremo de suicídio, uma situação que não teria sido causada, neste caso, por preconceito. Ora, se Daniel discorda dessa possibilidade, que apresente então um argumento suficientemente convincente. O fato é que por trás dessa exploração de tragédias individuais esconde-se uma prática perversa por parte de certos grupos LGBT que alegam que tais suicídios se devem unicamente a preconceitos e, assim, querem a todo custo introduzir nas escolas o embuste da ideologia de gênero e a questão da orientação sexual. Ora, isso é um grande equívoco, pois para indivíduos que ainda não estão convictos sobre a decisão de recusar sua identidade sexual biologicamente recebida a ideologia de gênero pode servir como instrumento causador de conflitos, persuadindo e estimulando o indivíduo a fazer algo que ele ainda não tem capacidade de apreciar devidamente. Se for capaz de levar ao suicídio, temos aqui um caso concreto onde a ideologia de gênero se mostra maléfica.
Mas, afim de mostrar que não se deve dar aos “ideólogos de gênero” a primazia na questão da orientação sexual (como os militantes LGBT tanto desejam), sugiro olhar a questão por uma outra perspectiva. Ilustro isso com o caso de um cristão que em dado momento questiona sua sexualidade, e desejo aqui fixar-me meramente em uma questão de foro íntimo, que diz respeito à escolha, e que não é determinada significantemente por nenhum preconceito É sabido que esses cristãos vivem um dilema existencial profundo por se identificarem livremente com os preceitos cristãos. Ora, esse indivíduo cristão, desejoso de se conformar com os preceitos cristãos que livremente aceitou, pode, em certo momento, decidir pela abstinência sexual, aprendendo a conviver com sua condição, ou até mesmo gradativamente descobrir que se sente atraído pelo sexo oposto, mostrando-se feliz nesta escolha. Isso é demonstrado pelo testemunho de muitos cristãos em comunidades evangélicas e católicas. Em essência, todos esses testemunhos assinalam que o questionamento da sexualidade foi superado pela afirmação da identidade sexual biologicamente recebida após esta ter sido compreendida pela ótica cristã. Estes cristãos souberam então superar suas dÚvidas mantendo sua identidade sexual biologicamente recebida, são felizes e não cometeram suicídio. Dado o nível de realização e satisfação desses cristãos, fica difícil crer que a exposição deles à ideologia do gênero produziria o mesmo resultado. Por outro lado, há casos de cristãos que em certo momento optam pelos preceitos da ideologia de gênero, tornando-se reféns de um conflito interior que o levam ao suicídio. Neste caso, quem deve ser estigmatizado: o cristianismo ou a ideologia de gênero? Ora, mas como poderíamos estigmatizar o cristianismo se ele não é algo imposto, mas livremente aceito e também, como vimos, há inúmeros casos de indivíduos que depois do questionamento acabaram reafirmando sua identidade sexual biologicamente recebida e vivem bem? Nesses casos não deveríamos aqui olhar com mais critério o papel desempenhado pela ideologia de gênero e a questão do suicídio desses cristãos?
Daniel, façamos mais uma transição em nosso raciocínio e pensemos agora um indivíduo qualquer que questiona sua sexualidade. Se ele é não-cristão, a princípio, alguns diriam que a ideologia de gênero deveria ser aplicada a ele. Mas, o que dizer se o conflito interno (que não é determinado pelo preconceito de terceiros) também o levar ao suicídio, afinal isso também não ocorre? Aqui, como no caso anterior, não poderia a ideologia de gênero ter alimentado ainda mais esse conflito interior que levou o indivíduo ao suicídio? é fato que a ideologia de gênero pode sim ser de valia para alguns que a abraçam e a defendem, assim como é o cristianismo para muitos outros, mas as coisas param por aí. Na verdade, é da incapacidade dos ideólogos de gênero não conceberem que seu discurso é apenas um entre tantos outros que finalmente se entende a fixação que eles dão a questão do “preconceito”, já que isso permite que a ideologia de gênero nunca seja responsabilizada diretamente pela tragédia do suicídio envolvendo aqueles se mostram incapazes de harmonizar uma decisão pessoal e complexa de renúncia da sua identidade sexual biologicamente recebida. “Tudo é causado pelo preconceito”, dizem eles. E aqui, aproveitando a ideia anterior, faço uma rápida incursão para explicar ao Daniel algo que ele definitivamente não sabe. Com efeito, Daniel, ser anticomunista não torna ninguém fascista, e a utilização do termo “fascistóide”, como você utiliza, é típico de uma estratégia dos comunistas que cunharam o tal “movimento antifascista”. E sabe por que os comunistas fizeram isso? Primeiro, para estigmatizar todas as forças que lhe fazem oposição, associando essas forças ao fascismo (assim, possivelmente, até um escoteiro com seus valores peculiares de lealdade e civismo tornam-se fascistas). Segundo, para que os comunistas se distanciem do fascismo quando sabemos (excluindo você, é claro) que comunistas e fascistas, na verdade, são muito semelhantes, pois perseguem os mesmos objetivos – a supressão da democracia liberal, e usam os mesmos métodos – a violência e terror do regime de partido Único. Não é de se estranhar que o fasci-comunismo tenha produzido regimes totalitários, estranhamente ainda apreciados por muitos estudantes universitários. Assim, eu desconsidero o termo “fascistóide” (na verdade fasci-comunistóide, pois são primos entre si) e devolvo a quem por direito lhe é conforme. O curioso, Daniel, é que o discurso da ideologia de gênero em relação ao preconceito se assemelha muito, em sua intenção, ao discurso dos comunistas em relação ao antifascismo, já que em ambos os casos cria-se um termo para eximir da própria responsabilidade ideologias execráveis que tentam se passar por algo virtuoso.
O problema aqui é que a ideologia de gênero é um embuste mais amplo do que pretende ser, já que pretende também (inutilmente) minar o cristianismo. A tentativa é frustrada, afinal, em dois mil anos de heroica caminhada o cristianismo sobreviveu e venceu inimigos muito mais bem equipados conceitualmente do que a ideologia de gênero. Os fatos falam por si. A atitude de muitos ideólogos do gênero em explorar tragédias pessoais de causas muito complexas e variadas, alegando de forma rasteira que tudo é conseqEuumld+ência de preconceito, é o que lhes tira credibilidade. Já a produção de cartilhas de educação sexual de teor grosseiro que chocam muitos pais e mães deixa claro que o objetivo é mesmo o de fomentar a destruição dos valores familiares cristãos. Agora, Daniel, se não bastasse isso tudo, falta de credibilidade e um ataque a cultura tradicional do povo, há uma outra razão mais forte para que não se permita ensinar a ideologia de gênero nas escolas públicas, afinal, o estado laico não deve se intrometer em questões religiosas, e isso se aplica tanto as instituições (igrejas etc.) quanto aos indivíduos, neste caso a sua crença. Ora, se a escola pretende divulgar educação sexual ela deve reconhecer que há diferentes perspectivas sobre o tema. O movimento LGBT tem uma, os cristãos tem outra. E como dissertei acima, é um erro grosseiro desconsiderar a perspectiva cristã sobre a sexualidade. Assim, um aluno cristão não pode ser obrigado a se submeter a um material de educação sexual formatado pelo movimento LGBT, já que isso configuraria uma intromissão indevida do Estado (via a escola pública) na convicção religiosa do indivíduo. O aluno tem então o direito de invocar que lhe seja dado uma educação sexual sob a perspectiva cristã, e assim deveria ser instruído com um material compatível.
Caro Daniel, espero que a minha exposição tenha esclarecido o meu ponto de vista. Assim, em nome da honestidade intelectual, característica de quem por direito ocupa uma posição acadêmica, escreva um texto e o submeta a este Boletim expondo seu contra-argumento ao que eu coloquei aqui, afinal, estamos em um ambiente acadêmico, não estamos? Atacar uma pessoa e não o argumento é atitude vergonhosa e antiacadêmica de quem não tem capacidade de argumentar. No meu caso, paradoxalmente, eu agradeço e incentivo todo ataque, inclusive o seu Daniel, pois parafraseando São Paulo, “eu aprecio o bom e árduo combate porque sei que ele produz perseverançad+ a perseverança, caráterd+ e o caráter a esperança. E a esperança não nos desponta, porque Deus despejou Seu amor em nossos corações pelo Espírito Santo, a quem ele nos deu”. E assim, vamos passando no teste. Obrigado Daniel. Aguardo ansiosamente o seu texto para retomarmos o combate.
*Marcelo Carvalho
Professor do Departamento de Matemática da UFSC