Os professores Fletes e Philippi atualizaram o tema das eleição do próximo Reitor da UFSC. Para isto acredito que não se pode ter uma opinião clara sem observar a situação de nosso país dentro do mundo atual. Este mundo esta processando uma nova revolução cultural, cientifico-tecnológica e social-econômica, que não esta claramente definida, respeito de seus objetivos fundamentais, mas que apresenta polos claramente definidos respeito da luta entre “concentração” ou “distribuição” dos bens matérias e espirituais. Cada dia fica mais claro que vamos para um mundo multipolar com 3 potencias atômicas e militares: USA, Rússia e China e onde a primazia, ao menos econômica, do império anglo-saxão centrada em USA perdeu para a China ser a maior potencia econômica.
Neste processo de novas perspectivas mundiais no somente Brasil, mas toda latino américa está procurando conseguir uma certa “autonomia” que lhe permita crescer conservando suas próprias IDENTIDADES nacionais e o processo, com muitos problemas, de redistribuição das riquezas( tirando da pobreza extrema quase 30 milhões de pessoas) realizado nestes 15 a 20 últimos anos.
Resulta evidente que a revolução cientifico-tecnológica é realizada prioritariamente nas universidades e indústrias dos Estados Unidos (que cada dia estão mais interconectadas). Esta leva associada, uma revolução cultural, que podemos caracterizar como darwinista. A famosa “liberdade de mercado” é deixar competir fortes e fracos, evidente que ganham os fortes e os fracos devem ser eliminados. Hitler se baseava neste principio que acreditava ser “cientifico” ( atualmente esta em crise total) onde a rasa ariana era a superior e devia vencer. Qual rasa deve vencer agora?
O Brasil necessita conseguir realizar a revolução cientifico-tecnológica como explica o Prof. Philippi, mas dominada pela sua própria filosofia de vida que é o da participação, da solidariedade, da democracia social e econômica por ser um país crisol de rasas. Assim não existem os dois segmentos que postula o Prof. Philippi, mas um segmento que deseja com algumas diferenças a “autonomia nacional” com verdadeira democracia social e outro que não esta preocupado com nada, mais que seu ego auto referencial (egoísmo, comodismo, conformismo, figuração etc. )porque suas ideias estão formuladas pela mídia “colonizada” e dirigida desde os centros de comunicação que respondem a interesses de fora.
Este último segmento oculta sistematicamente que a apertura do mercado ( o Deus mercado)em 1990 teve como consequência que de1200 indústrias químicas de fármacos, aditivos alimentares, ingredientes agrícolas etc. que foram criadas, em grande parte, pela pesquisa realizada na CODETEC que dependia da Universidade Estadual de Campinas, ficaram entre 20 ou 30 em 1996. A India conservou suas indústrias químicas e agora compramos os fármacos lá por aproximadamente 10 bilhões de US$ anuais. Este segmento estava feliz porque podiam ter carros “modernos” e não temos nenhuma fábrica nacional.. Neste sentido A UNIVERSIDADE DEVE SER A CONSCIÊNCIA CRITICA DO PAIS.
Para isto as verdadeiras UNIVERSIDADES ( não os colégios de terceiro grau que são ampla maioria) devem abandonar as ideias decimonônicas que consideram fundamental o ensino professional. A universidade moderna esta centrada na PESQUISA que deve ser seu núcleo fundamental, o ensino e a extensão são uma necessidade e consequência da pesquisa.
A real crise de nossas universidades é devido a não estar, como diria o filósofo espanhol Ortega e Gasset , na “altura dos tempos”, na altura de cultura vital de nosso tempo, que é essa nova cultura em seu aspecto cientifico-tecnológico, que cria a diferença entre os países, desde o século XIX.. Podemos dizer que não existe um grande país sem grandes universidades. Alemanha deve seu status a Universidade moderna de Berlin em 1810.
Aqui aparecem, como explica o Prof. Fletes, os grupos ou pessoas que consideram o “poder” na universidade, não como um “meio” de modernizá-la, mas como “fim” para conseguir suas ambições corporativas ou de grupos. Neste momento nossa universidade é de caráter feudal com grupos de poder em muitos departamentos que não obedecem a nenhuma lei: com normas de concurso pelo geral dirigidos para alguma pessoa, não existe chamado a concurso para outorgar as bolsas, distribuição discricional das verbas etc. etc., o ”amiguismo” prima sobre o “mérito” acadêmico, não existe coordenação nem conhecimento de pesquisas relacionadas e isto leva a que como máxima expressão de feudalismo o CUN o 17/03/2025 formalize eleições paritárias “informais” para Reitor contrariando todas as leis e notas técnicas. Frente a toda esta violência as autoridades não colocam um limite, mas inventam novas leis, que não serão igualmente aplicadas. ESTAMOS NUM FARISEISMO MODERNO.
O problema fundamental de nossa universidade é relativo a seu SER, ou seja, a aquilo que fundamenta sua existência num dado momento histórico. O poder é legitimo somente quando esta ao serviço do ser. O ser neste momento está intimamente relacionado com a pesquisa organizada para saber. E o saber tem duas vias: uma de ” domínio” que leva a tecnologias a outra da “procura da verdade” que leva a alguma VERDADE. Isto deve levar a uma melhora do ensino e da inovação tecnológica porque entre pesquisa, ensino e extensão existe uma clara retroalimentação cibernética
Esta inter-relação entre pesquisa, ensino e tecnologia (industrias) requer de liberdade, que deve estar subordinada somente a verdade, para seu desenvolvimento. Esta liberdade é o fundamento da autonomia universitária. Por isto a “autonomia “ não é meramente um problema politico mas essencial do ser da universidade.
MAS, A AUTONOMIA tem uma serie de exigências concretasd+ requer uma administração ágil e rápida e não uma burocracia inflada e parasitaria, exige especialização e hierarquia das responsabilidades, exige dar prioridade a pesquisa criativa, exige o respeito total dos direitos humanos o qual significa a verdadeira democracia (não somente os votos), EXIGE VERDADE E JUSTIÇA. Por isto a universidade não pode ser considerada como indica o Prof. Philippi um clube ,uma republica o algo semelhante. Recordemos a frase evangélica ~Um cego não pode guiar a outro cego”.
A crise de nossa universidade e a crise de uma “falsa” democracia onde as autoridades tem transferido suas responsabilidades para os centros e departamentos num novo e criativo feudalismo farisaico, os professores tem transferido, em boa parte, suas responsabilidades a funcionários e alunos, por isto o ensino repetitivo e sem criatividade. É uma crise de “autoridade legitima “ que somente da o saber, a dedicação, a vocação real e a solidariedade. A “autoridade” real não se ganha com votos.
Depois de este analise podemos perguntar-nos: será possível um despertar das consciências neste sentido? Será possível realizar as mudanças necessárias para colocar a universidade na altura dos tempos? Será possível superar o poder pelo poder para coloca-lo ao serviço do ser universitário? As respostas devem ser exigidas aos candidatos a REITOR. Estamos no momento de reagir e MUDAR.
*Rosendo A. Yunes
Professor Voluntario