Prezado professor,
Não poderia deixar passar em branco a opinião expressa no Boletim nº 797 pelo colega Paulo Cesar Philippi, do departamento de Engenharia Mecânica. Inicio confessando minha total ignorância das leis da termodinâmica! No entanto, como professora de literatura inglesa por muitos anos, conheço suficientemente bem a obra 1984, de George Orwell. Trata-se de uma obra magnífica, que admite uma variedade de leiturasd+ entre elas, a que segue os caminhos da distopia, isto é, o reverso da utopia, ou sátira política. Nesta linha estão outras grandes obras, como O Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley (1932), A Revolução dos Bichos (1945), do próprio Orwell, Nós (We, na versão inglesa publicada em 1924), do russo Zamyatin, e muitas outras.
Embora não caiba aqui uma análise aprofundada de 1984 (publicado em 1949, segundo minhas fontes), algumas correções se impõem. No livro, o mundo foi dividido em três superestados – Oceania, Eurásia e EAacuted+sia Oriental- permanentemente em guerra uns com os outros. A sociedade em Oceania, cenário do livro, é assim dividida: o Grande Irmão, líder do partido e que tudo controla, sempre mencionado mas jamais vistod+ o Partido Interno (2% da população)d+ o Partido Externo (13% da população)d+ e os Proletários (85% da população). Ao contrário do que diz o prof. Philippi, o pensamento Único não é simplesmente alimentado pela informação ou pela falta dela, mas por uma intensa propaganda comandada pelo Ministério da Verdade, encarregado de adulterar a história. Até mesmo uma nova linguagem é inventada, o Newspeak, que atribui uma interpretação distorcida às palavras de uso corrente! Existem, pois, o Ministério da Paz, encarregado da guerra, o Ministério do Amor, que se ocupa das leis e da punição, e o Ministério da Abundância, encarregado da escassez, entre outros.
Como sua colaboradora na gestão anterior da Apufsc posso lhe assegurar, professor Marcio, embora desnecessariamente, que o senhor não lembra em nada o Grande Irmão e que sua gestão não apresentou a menor semelhança com aquela empregada no mundo horrível descrito por Orwell! Figuras políticas relativamente recentes apresentam características do Grande Irmão. Entre elas destacam-se Stalin e Mao, mas seguramente haveria muitas outras. O recurso estilístico utilizado de forma crítica pelo professor Philippi, a hipérbole, nem sempre é adequado, principalmente quando se refere a pessoas de bem, pois sua definição, segundo Domingos Paschoal Cegalla, é “afirmação exagerada, deformação da verdade que visa a um efeito expressivo“.
Concluo dizendo, caro professor, que aprendi a admirá-lo nos últimos dois anos, pois não o conhecia. Sou testemunha de sua bondade, de sua ética, de seu empenho e dedicação ao nosso sindicato. Tenha a certeza de que, considerados seus erros e acertos, seu saldo é altamente positivo na visão daqueles que tiveram a honra de acompanhá-lo nesta difícil jornada que é conduzir um sindicato de professores.
*Bernadete Limongi
Professora Aposentada da UFSC