A escravidão intelectual de nossos tempos: o racismo às avessas

“Fernando Holiday, você não imagina como eu tô ansiosa pra te encontrar nos corredores da UNIFESP. Seu rolê na EFLCH vai ser assim: ou você vai aprender a ser preto de verdade ou você não vai aguentar um 1 mês de aula. Você não tem noção de onde está se enfiando, mlk. MESMO! Ah, só não esqueça que você será cobrado pelas ****(palavrão) que você falou e lá você não vai ter o apoio de seus seguidores virtuais todos os dias. Até a semana da calourada, meu beim”

(Fonte)

O trecho acima, de autoria de uma suposta estudante de pedagogia da UNIFESP, é dirigida a Fernando Holiday, um jovem negro que não se submete aos estereótipos comuns repetidos como mantras por muitos dos ditos “coletivos” criados para homogeneizar e monopolizar uma determinada causa e, assim, mais facilmente enquadrar quem pensa diferente. Mas, a tentativa de enquadrar Fernando revela uma escravidão às avessas onde o negro e outras minorias devem obediência total ao que esses coletivos determinam. Mas, o que são esses coletivos, afinal? Qual é a sua agenda? é fácil responder analisando a forma como esses movimentos disformes se organizam e atuam. O que se percebe em todos eles é que esses coletivos surgem afirmando um certa causa, mas sua atuação sempre se faz pelo recurso de uma “luta de classes”, ainda que de forma difusa, pois não há nenhum compromisso desses coletivos em estabelecer um diálogo propositivo, ou de algo que possa ser construído a partir de um convencimento. O que interessa para o coletivo é acirrar conflitos. Com efeito, basta ver que muitos desses coletivos estão sempre à espreita explorando todas as oportunidades para avançar sua causa e, na sua forma de atuação, o que prevalece é sempre a truculência de manifestações de repúdio disso e daquilo onde eles se vitimizam pondo-se como oprimidos, tudo isso, é claro, recheado dos mais obtusos clichês e palavras de ordens que não escondem seu real propósito ao misturar sua causa com algum tipo de discurso “emancipatório” de inspiração marxista.

No caso de Fernando, é dito que ele tem que aprender a ser “preto de verdade”. Mas, o que seria ser preto de verdade? Será que ser “preto de verdade” envolve apenas se expressar na forma como esses coletivos determinam? Ora, estamos aqui diante de um caso escabroso de servidão que se reveste de uma nova roupa, pois se no passado os negros eram submetidos pela força de castigos físicos e humilhações, hoje eles são submetidos por força de um terror psicológico da parte de um coletivo amorfo que se impõe de forma impiedosa sobre quem é de fora, estigmatizando e assediando quem pensa diferented+ é o que hoje poderíamos identificar como “bully coletivo”, já que o assédio não é de autoria de um indivíduo sobre outro indivíduo, mas sim de um coletivo sobre um indivíduo. Aliás, muitas das feministas são verdadeiras “experts” nessa estratégia. Se sozinhas são uns “anjinhos”, quando juntas parecem crescer mÚsculos e pelos que dariam inveja aos mais viris dos bárbaros e, subitamente, criam coragem para constranger outros grupos, notadamente cristãos. Mas, é claro, as pobres mocinhas sabem o terreno em que pisam, pois, mesmo camufladas e pretensamente protegidas num coletivo, sabem que podem profanar uma catedral de Notre Dame na França para fazer uma performance onde escandalizam mostrando seus seios caídos, já que os católicos de lá, intimidados pelo coletivo, assim permitem, contudo, não parecem ter a mesma coragem de ofender os muçulmanos e fazer a performance numa mesquita, por que será?

Mas, voltando ao caso envolvendo Fernando, o que causa surpresa nisso tudo é que a mensagem de ódio contra Fernando exibe uma prepotência e arrogância que seria mais esperado daquelas “senhoras do engenho” com poder feudal de vida e morte sobre seus escravos, e não de uma estudante universitária. A situação nos leva então a refletir sobre um problema recorrente nas universidades brasileiras e que diz respeito ao velho patrulhamento ideológico com que a esquerda militante tenta, ainda hoje, enquadrar todos os que publicamente expressam uma opinião dissonante.

Aliás, o próprio Fernando, antes mesmo de ingressar na UNIFESP, reconhece isso em um trecho de seu texto “A Insanidade das Universidades Brasileiras”:

“é sabido por muitos que a esquerda domina as universidades no Brasil. Várias teses são apresentadas como motivo para tal lástima, mas, independentemente de como chegaram lá, o que mais assusta é o nível de seu poderio e o tamanho de sua insanidade.

Como muitos já devem saber, fui vítima de ataques e ameaças por parte de alunos da UNIFESP por ter feito dois vídeos: um criticando o sistema de cotas raciais e outro respondendo a comentários insanos feitos ao primeiro. Essa universidade trata-se da mesma na qual fui aprovado para o curso de Filosofia, no Campus de Guarulhos. Não houve, por parte dos maníacos, nenhuma preocupação em debater de forma sensata o assunto proposto, todos os comentários foram ataques ad hominem, ao melhor estilo “facebookiano”.”

Ora, a negação de um embate sobre o tema, que se detenha nos razoáveis limites da exposição de uma argumentação, leva a um descrédito do próprio espaço acadêmico que se transforma então em espaço de militância política ideológica. Infelizmente, como o trecho acima sugere, parece que vários cursos de nossas universidades se transformaram exatamente nisso É salutar que pessoas como Fernando Holiday questionem esse “status quo” perverso, para o bem da própria universidade, e isso independe de concordarmos ou não com os pontos de vista de Fernando. O ponto é outro, já que ao enfrentar o bully e encarar esses coletivos Fernando Holiday está contribuindo enormemente para a causa negra, pois ele mesmo, como negro, ao se insurgir reivindica um espaço que só cabe a ele decidir ocupar. Assim, ao não se deixar tutelar pela agenda desses coletivos, algo que lhe é estranha, Fernando dá um exemplo de liberdade plena que não só os negros, mas todos, deveriam aspirar.

*Marcelo Carvalho
Professor do Departamento de Matemática da UFSC