“O terrorismo é uma arma a que jamais o revolucionário pode renunciar”, “Ser assaltante ou terrorista é uma condição que enobrece a qualquer homem honrado.”
Estas frases, de autoria de Carlos Marighella, foram escritas em seu célebre livro “Mini-Manual do Guerrilheiro Urbano”, considerado ainda hoje o livro de cabeceira de muitos comunistas. Tais declarações soam estranhas e causam extremo desconforto ao cidadão de bem, mas constituem um principio de ação geral para muitos comunistas. De fato, para quem conhece o discurso comunista, não é estranho o recurso à violência para concretizar a revolução comunista, sendo então o terrorismo apenas um dos instrumentos da guerra revolucionária.
Mas, escrevo aqui para aqueles que não conhecem direito a abominação ideológica do comunismo. Assim, buscando um contexto onde o recurso ao terrorismo aludido por Marighella possa ser ao menos compreendido, encontramos já no prefácio do seu livro algo que supostamente poderia atenuar isso quando ele escreve
“A acusação de “violência” ou “terrorismo” sem demora tem um significado negativo. Ele tem adquirido uma nova roupagem, uma nova cor. Ele não divide, ele não desacredita, pelo contrário, ele representa o centro da atração. Hoje, ser “violento” ou um “terrorista” é uma qualidade que enobrece qualquer pessoa honrada, porque é um ato digno de um revolucionário engajado na luta armada contra a vergonhosa ditadura militar e suas atrocidades.”
Mas, ao invocar o terrorismo como forma de luta contra o regime militar, iniciado com a contra-revolução de 1964, somos levados a um outro questionamento: “A luta armada que Marighella e seu grupo terrorista ALN participou visava o que?” Lutavam esses terroristas comunistas contra o regime militar para redemocratizar o Brasil, ou para implantar uma ditadura comunista no Brasil ? (ditadura comunista que, sob vários aspectos – a história comprova -, conseguiria ser mais cruel que aquilo que combatiam.)
A resposta vem da análise de alguns documentos da ALN, que elucida alguns pontos interessantes, inclusive a razão da apologia ao terrorismo feita por Marighella. Vejamos então alguns trechos do documento “O Papel da Ação Revolucionária na Organização” (1969).
“Entre as várias maneiras de crescimento das organizações revolucionárias há duas que se destacam. Uma delas é levada à prática através do proselitismo, preparando quadros políticos incumbidos de fazer proselitismo, discutir documentos e programas.
Esta maneira, já tradicional no Brasil, era própria das organizações que buscavam soluções políticas, acordos e entendimentos com personalidades ou grupos burgueses, visando enfrentar o inimigo dentro dos quadros do regime vigente e sem pretensão de modificá-lo na prática. Na maior parte das vezes, o militante recrutado através do proselitismo abandona as fileiras em que ingressou ao sentir que foi enganado com palavras.
A outra maneira do crescimento das organizações revolucionárias rejeita o proselitismo e dá ênfase ao desencadeamento de ações revolucionárias, apelando para a violência extrema e o radicalismo.
Foi esta a maneira que preferimos, por ser a mais convincente, quando se trata de derrubar uma ditadura com a força das massas e através da luta armada, repudiando o jogo político das personalidades e grupos burgueses. […] Sendo o nosso caminho o da violência, do radicalismo e do terrorismo (as únicas armas que podem ser antepostas com eficiência à violência inominável da ditadura) os que afluem a nossa organização não virão enganados, e sim, atraídos pela violência que nos caracteriza.”
Na análise deste trecho, são colocadas duas opções. Uma primeira opção usaria de um suposto proselitismo que visaria estabelecer um diálogo e não pretenderia modificar a estrutura vigente (é o que na nossa realidade de hoje identificamos como a via democrática). Esta opção, segundo os ideólogos da ALN, causaria a deserção do militante pretensamente enganado com palavras. Não fica claro se o engano implica uma descoberta e renúncia do objetivo revolucionário escondido por trás do proselitismo, ou se envolve uma afirmação do objetivo revolucionário junto com um desencanto quanto a forma como este objetivo revolucionário deve ser perseguido. Neste sentido, a outra opção seria radical e violenta e constituiria a via revolucionária.
Analisando esta segunda opção sob a luz do que se sabe da dinâmica dos movimentos revolucionários comunistas, fica evidente que o apelo às massas (felizmente nunca correspondido na nossa terra, já que a massa não se deixou embrutecer pelo revolucionarismo comunista) para lutar contra um inimigo identificado difusamente por “grupos burgueses” repete o velho mantra da luta de classes, outro elemento fundamental que identifica todos os comunistas. Deixo ao leitor interessado em aprofundar sua análise não apenas a leitura do documento na sua totalidade, mas também a descrição das várias ações terroristas da ALN e suas motivações descritos em livros como
“A Verdade Sufocada: A história que a esquerda não quer que o Brasil conheça” (10a edição) de Cel. Carlos Alberto Brilhante Ustra,
“Orvil: Tentativas de Tomada de Poder”, orgs. Ten. Cel. Licio Maciel e Ten. José Conegundes do Nascimento
“A Grande Mentira”, Agnaldo Del Nero Augusto.
Ora, fica claro então que para a Marighella e seu grupo terrorista ALN a luta contra o regime militar tinha um objetivo revolucionário e não visava à democratização do Brasil, mas sim a implantação de uma ditadura comunista a nação. Neste caso, será que haveria mesmo algum atenuante ao uso do terrorismo defendido por Marighella? A julgar pelo que vemos das trágicas experiências comunistas, com o alto custo em vidas humanas e a ruína e miséria de inteiras nações, é inegável que o regime militar e o gradualismo do retorno a democracia defendido pelo regime foi a melhor opção para a nação diante da ameaça comunista que se deflagrou em meados de 1964 (a chamada segunda tentativa de tomada de poder pelos comunistas).
é desconcertante ver que no Brasil a adesão de muitos a uma ideologia abjeta como o comunismo é suficiente para tornar terroristas da estirpe de Marighella e tantos outros (muitos inclusive políticos e professores em nossas universidades) em homens honrados. Mas, o que dizer quando os que fazem isso se apresentam como professores em escolas e universidades? Estamos aqui diante da prática criminosa de doutrinação ideológica de jovens, o que mostra que no Brasil não estamos mal apenas no ensino das ciências e da matemática, mas em muito mais.
*Marcelo Carvalho
Professor do Departamento de Matemática da UFSC