Recentemente, os usuários do prédio do EFI (Espaço Físico Integrado) se depararam com uma enorme pintura em uma de suas paredes internas onde se lê um pouco acima, escrito em letras garrafais, algo do tipo: “Universidade Popular”. Para muitos, que não conhecem o sentido exato do termo, ele possivelmente remete a algo tão geral e inofensivo quanto o que se encerra em “mÚsica popular brasileira”, contudo, o termo universidade-popular carrega um sentido muito preciso que se associa a um amplo espectro de tendências marxistas que foi apropriado na UFSC por um efêmero e obscuro grupo autodenominado Movimento Universidade Popular (MUP). Este grupo delimita sua atuação nos seguintes termos
“… construção das entidades de massa (CAs, DCEs, etc.), ocupações de reitoria, participando de movimentos populares, e fazendo atividades de formação e debate a respeito dos rumos da universidade e da educação como um todo. Seu projeto perpassa pela imperativa necessidade de uma estratégia global de universidade, identificada com a resposta às demandas históricas do povo brasileiro, em contraposição ao modelo de ensino imposto pela capital.”
[http://gtnup.wordpress.com/2014/02/16/nota-de-esclarecimento-do-movimento-por-uma-universidade-popular-de-santa-catarina-mupsc/]
Dito de outra forma, a construção das “entidades de massa” consiste no aparelhamento dos CA’s e DCE de modo a garantir a indicação de seus “militantes” nos vários órgãos colegiados da universidade: departamentos, conselhos de unidade, CUn, setores da administração central etc.. Já o debate sobre os “rumos da universidade e educação” segue a envelhecida cartilha marxista que é proclamada dogmaticamente por esses militantes como a Única leitura aceitável para as “demandas históricas do povo brasileiro”, ficando evidente aqui o caráter antidemocrático do projeto da universidade-popular, pois não comporta outra interpretação que não seja a deles.
Ora, se o envelhecido discurso marxista fica explícito da leitura dos princípios afirmados pelo MUP, é um fato que ele já não engana mais tantas pessoas, tendo perdido o poder de cativar os estudantes, já que se mostrou incapaz de levar esse obscuro grupo a ganhar qualquer projeção entre os estudantes da UFSC, como vemos pela mudança na composição do próprio movimento estudantil (vide o resultado das eleições para DCE este ano com a derrota das chapas que defendiam o projeto da universidade-popular).
é preciso ter em mente que o projeto da universidade-popular é uma negação do que podemos chamar “universidade livre”, entendida aqui como uma universidade fundamentada na livre produção e difusão do conhecimento, para além de amarras ideológicas de qualquer espécie É imediato então que a universidade-popular não pode ser ao mesmo tempo uma universidade-livre, já que a afirmação do livre conhecimento permite revelar o caráter pseudocientífico do marxismo, que, desnudado, dá uma prova da superioridade do livre-conhecimento relegando o marxismo a condição de misticismo, algo que invalida a própria concepção da universidade-popular.
Quanto ao painel pintado no prédio do EFI, não é permitido que prédios públicos sejam adulterados para abrigar material de propaganda de ideias e grupos diversos (neste caso, a autoria do painel produzido no prédio do EFI deve ser devidamente investigado). Assim, a administração central deve providenciar a pronta remoção de tal “pintura-propaganda”. Contudo, se for possível encontrar uma justificativa (sempre há pessoas que encontram justificativa para qualquer coisa) deve-se dar a todos o mesmo direito, inclusive o de produzir material de contrapropaganda contrário ao projeto de universidade-popular. Não faltarão artistas dispostos a isso.
*Marcelo Carvalho
Professor do Departamento de Matemática da UFSC