A partir dos ultimos acontecimentos no país muito se escreveu e pouco se entendeu, e eu tambem ainda não entendi. Mas uma pergunta que surge na minha mente é se a forma em que estão organizadas as instituições e, principalmente o processo de escolha dos representantes da comunidade e a sua posterior interação com os representados, não precisa de mudanças. Ou outra forma de participação deveria ser criadada?
Ja passou bastante tempo do movimento Nova Apufsc, que poderia ser considerado um movimento reivindicatorio, em parte, de um sistema representativo das vontades dos associados que nitidamente não eram supridas pela estrutura hierarquica instalada na Seção Sindical em relação ao Sindicato Nacional e à Central Sindical associada. Os dirigentes da época não souberam ou não quiseram lidar com a vontade dos associados de participar efetivamente das grandes decisões e, em um dado momento, se cristalizou a vontade de mudança atraves do movimento Nova Apufsc. Impulsionado pela critica ao sistema estabelecido e com a bandeira da participação em mãos construimos, ou re-construimos, como preferirem, um Conselho de Representantes que deveria fazer aquilo que não tinha sido feito antes, ser um interlocutor válido das bases.
Lamentavelmente, em pouco tempo a comunicação entre as bases e os seus representados desapareceu e, tempos depois, o próprio Conselho de Representantes deixou de funcionar por falta de quorum. Se isto aconteceu pela propria natureza do sistema representativo ou se houve intenção de que o sistema não funcionasse, isto eu não sei. O que acredito é que os representados esperavam ser ouvidos e que os representantes não fomos capazes de atende-los. Alguns tentamos, mas não foi o suficiente, faltava algo. Os membros da diretoria também não conseguiram implementar nenhuma solução ao problema de representação, a meu ver fizeram o contrario. Isto nos leva à situação atual em que somente haverá uma aglutinação em torno à atividade sindical se a situação laboral piorar significativamente e o governo de turno não estiver interessado em reverter o quadro. Desta forma penso que o nosso sistema representativo como está posto não serve, pois em situação de crise ninguem quer ser representado, todo mundo quer ser ouvido.
Aí eu me pergunto: precisamos viver em crise para fazer com que as instituições funcionem, aos sobressaltos? Não será possível encontrar uma forma de comunicação mais eficiente entre os dirigentes e as bases, de forma que os problemas sejam resolvidos à medida que aparecem, ao invés de esperar que o acÚmulo produza uma crise?
Outra instituição que esta passando por um processo semelhante é a nossa universidade, ao meu ver. Os orgãos colegiados, principalmente os maiores, estão longe de ser ambientes de representação real, mesmo que possam se-lo do ponto de vista legal. E a administração, também não esta conseguindo se comunicar com a comunidade. O clima parece-me semelhante, com as devidas diferenças, ao que existia antes do movimento Nova Apufsc e a situação prévia à ultima onda de manifestações nacionais.
Desta forma eu venho a defender o que defendi na campanha à reitoria em 2011. Venho defender uma UFSC onde a participação seja importanted+ importante para os dirigentes e igualmente importante para os professores. Uma UFSC onde ouvir seja uma atividade corriqueira, natural e prioritária. Uma atividade que permita melhorar a saúde da nossa instituição e uma atividade que traga maior satisfação aos seus membros, por fazer parte da construção de um todo e não tão somente da própria pesquisa.
Na campanha, além da boa intenção e da expressão de desejo havia uma proposta concreta, por vezes mal entendida, mas que seria aprimorada com a prática. A proposta era realizar, periodicamente, fóruns temáticos para debater os principais problemas da universidade. Nestes fóruns seria possível debater ideias e encaminhar soluções que contribuíssem para o equacionamento dos temas. Contudo, os fóruns se limitaram a aqueles prévios à posse. Não tivemos mais nenhum e não temos noticia de algum por vir. Muitos problemas existem, é só conversar nos corredores, mas a conversa de corredor não é ouvida nas instancias de debate e de decisões formais. Falta um espaço para as bases debaterem e se manifestarem, faltam os fóruns.
Nestor Roqueiro
Professor do Departamento de Automação e Sistemas